“11 Fois Fátima” de João Canijo: Filme sobre peregrinação a Fátima sai nos cinemas franceses

O filme de João Canijo “11 Fois Fátima” chega às salas de cinema francesas esta quarta-feira 12 de junho. Durante 10 dias, 11 mulheres de uma aldeia do concelho de Vinhais, no nordeste transmontano, vão a pé a Fátima, numa peregrinação de mais de 400 quilómetros. O realizador interessou-se pela vida do grupo.

Para fazer este filme, João Canijo fez, ele próprio, uma primeira peregrinação de dois dias e depois pediu às 11 atrizes para fazerem elas próprias uma “peregrinação real” integradas em grupos de peregrinos em direção a Fátima. Todas elas gravaram testemunhos que depois serviram para que o realizador escrevesse o filme que saiu em Portugal em 2017 e que agora chega às salas de cinema francesas.

No filme entram atrizes conhecidas, a maior parte das quais já trabalhou com João Canijo: Rita Blanco (a atriz principal de “La Cage Dorée”), Anabela Moreira, Cleia Almeida, Vera Barreto, Teresa Madruga, Ana Bustorff, Teresa Tavares, Alexandra Rosa, Íris Macedo, Sara Norte e Márcia Breia.

Rita Blanco, a atriz principal do filme já é bem conhecida em França, sobretudo por ter sido a atriz principal do filme “La Cage Dorée” de Ruben Alves, e respondeu às perguntas do LusoJornal:

 

A sua peregrinação “real” foi uma peregrinação pessoal ou profissional?

Era profissional, mas há sempre algo de pessoal. Eu não sou crente, mas fui educada na religião católica. Portugal é um país laico, mas banha na religião católica, e eu tinha todos os códigos. A minha família é profundamente religiosa. Agora, quando fui fazer a peregrinação, eu não conhecia a realidade de Fátima. Pensava que conhecia, mas enganei-me. Vemos os peregrinos na televisão, mas não temos a relação que eu passei a ter, emotiva e afetiva, com as pessoas que vão a Fátima. Tudo isso mexeu comigo, obviamente.

 

Eu fiquei impressionado com o vosso ritmo no filme. As pessoas andam assim tão rápido?

Eu também fiquei impressionada como as pessoas, sem preparação física, com um peso enorme, conseguem ultrapassar os seus limites. Andam assim, naquele ritmo, uns 50 km por dia. Para o filme andámos cerca de 20 km por dia, para estarmos na mesma situação e dormimos na verdadeira rulote.

 

E porque é que as pessoas fazem essas peregrinações?

Eu penso que fazem por uma necessidade de transcendência e por terapia. Há muito mais mulheres do que homens. Refiro-me a Fátima que é um fenómeno religioso diferente de todos os outros. É mesmo um fenómeno português, só nós, portugueses, podemos fazer aquilo daquela maneira. Pela estrada, em vez de ser pelos caminhos, com perigo – eu própria tive medo quando os camiões passavam por nós. Sabe, a maior parte daquelas mulheres não têm nenhum escape. Para além de trabalharem em casa que nem umas ursas, também trabalham nos seus empregos, tomam conta dos filhos… Apesar das exceções, os homens – aqueles de Vinhais – quando chegam do trabalho, comem e dormem. E a mulher faz tudo e mais alguma coisa. Ir a Fátima são férias para elas, é o único momento em que as mulheres podem pensar nelas, em si próprias, e pensarem na vida, na sua fé, em tudo o que quiserem, mesmo com aquele sacrifício todo, é o momento para elas.

 

O filme acaba em grande emoção. Viveu isso quando fez a sua peregrinação?

Vivi. Vivi essa emoção e eu não sou crente. Eu fiz a procissão das velas e isso deixou-me perturbadíssima. As verdadeiras peregrinas, aquelas que estavam comigo, ficaram sentadas e eu fui… A Nossa Senhora saiu e era possível seguir em procissão e eu segui. Pensei que ia ser horrível mas parecia que ia a levitar, foi um momento mágico, um momento de enorme comoção. Tudo se conjuga, o cansaço, o termos conseguido, o estarmos juntos, toda a gente junta por uma transcendência, por uma coisa que é mais forte do que nós, quer acreditamos quer não… é uma coisa para além de nós. É tão bom podermos ir para além de nós, não nos centrarmos em nós, todos juntos com as velas, com a Nossa Senhora, é difícil não nos emocionarmos.

 

O filme não mostra as pessoas a rezarem no percurso…

No filme não há necessidade. Mas nós fizemos essas cenas, a rezarmos o terço e tudo, só que não ficou no filme porque não era necessário, isso é o que toda a gente faz e sabemos que acontece. E há grupos completamente diferentes, há peregrinos que vêm com um padre da sua paróquia, que conversam sobre religião, refletem, rezam. No meu grupo só rezávamos o terço e fomos a duas missas. Penso que em todos os grupos as pessoas brincam, vão com humor, as pessoas não deixam de ser pessoas, sobretudo as do norte, e são brejeiras e brincam e bebem, não há nada de errado nisso, caramba. A religião tem um lado pagão.

 

Este filme mudou a sua visão sobre estas pessoas?

Mudou. Mudou definitivamente o meu olhar sobre os peregrinos que vão a Fátima. Tenho muito respeito.

 

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LusoJornal