22 anos depois, Carlos Vinhas Pereira deixou de ser Diretor Geral da Fidelidade em França

Carlos Vinhas Pereira cessou as funções de Diretor Geral da sucursal da Fidelidade em França, 22 anos depois de ter criado a empresa a partir de zero, exatamente no dia 1 de abril de 1997. Até essa data era Diretor Geral Adjunto do Banco Pinto & Sotto Mayor em Paris.

Carlos Vinhas Pereira vai continuar ligado à Fidelidade, mas depende diretamente da Comissão Executiva de Portugal, e aceitou fazer um balanço da sua atividade durante estes 22 anos à frente da Sucursal de França.

 

Como tudo começou?

Quando me desafiaram para criar a sucursal de França da companhia de seguros Fidelidade, era a segunda sucursal da companhia, porque já tinha sido aberta a de Espanha em 1995, mas o facto de terem recrutado para Diretor Geral uma pessoa que não vinha de Portugal, foi um caso excecional no grupo Caixa.

 

Já tinha experiência neste ramo?

Eu tinha mais experiência de banco do que de seguros, embora já fosse o representante da Mundial Confiança em França, porque era uma empresa do grupo. Queriam precisamente uma pessoa da segunda geração, com ensino superior e experiência de banco-seguro, já que o único objetivo era vender seguros na rede da Caixa Geral de Depósitos. Aliás o meu escritório estava na sede da CGD, na avenue Marceau, em Paris. Pediram-me que pusesse a sucursal a funcionar em 1998, um ano depois. Comecei a trabalhar sozinho, tinha um carro e um computador. Era necessário pedir as autorizações para trabalhar neste ramo em França, criar os produtos, encontrar resseguradores e empregar pessoas – empreguei muita gente durante estes 22 anos – e por a máquina a funcionar.

 

Qual foi o primeiro contrato?

No dia 20 de dezembro de 1997, enviei um fax para o Conselho de Administração da Fidelidade a anunciar que a sucursal estava a trabalhar e tinha feito o primeiro contrato de seguro do Senhor Monge, um português que foi o nosso primeiro cliente. A aventura começou antes mesmo da data do objetivo que era 1998.

 

O objetivo era trabalhar unicamente com a rede da Caixa Geral de Depósitos?

Sim. A Caixa estava à procura de novos produtos e o nosso primeiro produto foi um seguro de vida por capitalização. Era um produto de poupança a longo prazo, enquanto a banca tinha essencialmente produtos de poupança a curto prazo. Era pois um bom complemento. A partir daí foram saindo novos produtos. Primeiro seguros de créditos imobiliários, depois os seguros das casas, e oferta para as empresas…

 

E quando começou a propor produtos fora da rede da CGD?

A partir de um certo momento comecei a comunicar no Argus, a revista para profissionais de seguros, e comecei a explicar qual era a minha estratégica. Para além dos clientes da Comunidade portuguesa, queria também entrar no mercado francês, em ramos onde houvesse poucos players. Por exemplo, em seguro automóvel, a França tem mais de 550 companhias de seguros, é o mercado mais maduro do mundo, não era possível fazer nada neste domínio. Mas em domínios onde havia menos seguradores, entrámos. Lançámos em França o seguro para jogadores profissionais de futebol, ainda hoje temos uma grande cota de mercado. E os clubes não compram jogadores sem terem um seguro. Se o jogador tiver um acidente, os clubes podiam perder milhões de euros se não estivessem cobertos. Depois fizemos seguros afinitários, seguros de telefones, frigoríficos, tudo o que é aparelhagem doméstica, com extensões de garantia. Também entramos nos seguros das rendas de casa, onde também há poucos atores e depois começamos a entrar no mercado de anulação de eventos, Rolling Stones, eventos de desporto e cultural. Tivemos por exemplo que gerir a anulação do Paris Dakar. Em 2006 fizemos o seguro dos Jogos Olímpicos de Turim. Uma sucursal criada há pouco tempo, estava a fazer o seguro de anulação dos Jogos Olímpicos, era obra. Pedimos autorização para operar na Itália, e fizemos uma garantia de cerca de 400 milhões de dólares. Aliás depois começamos a estender a nossa ação ao Luxemburgo, Bélgica, Holanda, sempre em domínios muito específicos, trabalhando sempre com corretores e bancos

 

Qual era a parte do negócio gerado na CGD e fora dela?

Era sensivelmente metade para cada setor. Por isso é que a Fidelidade acaba por ser bastante conhecida no meio profissional, em domínios onde somos apenas dois ou três atores a trabalhar. Aliás, em certos domínios somos mesmo líderes do mercado. Este crescimento foi feito de uma forma moderada e a nossa grande força sempre foi a reatividade. O centro de decisão era aqui. Nós fazíamos um produto sobre medida. Alguns produtos não existiam, foram lançados por nós no mercado. Estou a pensar no produto de saúde para os reformados franceses, que lhe permite ter uma dupla cobertura em França e em Portugal. Isso corresponde mesmo a um pedido. Hoje fazemos seguro para os pilotos da Air France e até para os astronautas franceses.

 

E na Comunidade portuguesa?

Foi engraçado ver a evolução da Comunidade portuguesa. Fomos criando produtos ligados à construção civil – este é um setor muito importante na Comunidade portuguesa. O RC Decenal e o Dommage Ouvrage, são seguros obrigatórios para os construtores. Isto permitiu-nos entrar dentro dos seguros profissionais e obrigatórios dos empresários portugueses no setor da construção e aí estávamos a responder aos pedidos da Comunidade. Muitas empresas portuguesas fizeram-nos confiança. Queríamos ser a companhia de seguros líder para a Comunidade portuguesa, tanto a nível particular como empresarial e acho que conseguimos.

 

E quando abriram a agência?

Em 2013 criámos a nossa agência comercial. Os clientes portugueses não são todos clientes da Caixa Geral de Depósitos e a nossa agência permitiu-nos ter esta relação direta com os clientes. Na mesma altura, em 2014, a Fidelidade mudou de imagem, depois da compra pela Fosun. Foi uma grande experiência de trabalho com os media e devo dizer que os medias também contribuíram, nomeadamente o LusoJornal, para que a nova imagem fosse bem comunicada. Foi uma boa experiência que permitiu também de estar ligado em permanência com o meio associativo e a Comunidade portuguesa.

 

O balanço destes 22 anos é positivo?

Acho que o balanço foi muito positivo. Desde 1997 foram gerados 980 milhões de euros de volume de negócio, 350.000 clientes, 450 mil contratos com 60 empregados. Temos mais de 365 milhões de euros de ativos geridos pela companhia. Tivemos dois Argus d’Or, em 2017 e 2018, e vamos concorrer com um produto novo, mais uma vez feito sobre medida, com a Mister Fly que permite assegurar o preço do bilhete. Fechámos as contas de 2018 com resultados muito bons, quase históricos.

 

Entretanto a sede da empresa transferiu-se para La Défense…

O espaço da Ópera, onde eu ainda tenho o escritório, já não estava adaptado à nossa dimensão, porque queríamos ter as melhores condições para continuar a crescer e passar de 60 para 80 colaboradores. Assumi e geri esta mudança neste bairro dos negócios onde iniciei a minha carreira de bancário na BNP em finais de 1988, ou seja, exatamente 30 anos depois…

 

E qual é a sua nova missão?

O Presidente da Fidelidade propôs-me novas funções, de Conselheiro do Conselho de administração sobre as Comunidades portuguesas no mundo. Uma função mais de reflexão, a ideia é perceber como se pode tratar estrategicamente as Comunidades portuguesas no mundo, seja nos países onde elas estão, mas também os Portugueses que regressam para Portugal. Estamos a falar de empresários que vão para Portugal porque a situação do país está a melhorar. É um potencial muito importante que pode ser aproveitado. Em 22 anos não tenho nada a provar em termos de gestão. Nós éramos um modelo único. Todas as outras sucursais, a maior parte tem grandes ligações, até em termos de decisão, com a sede, com a Direção internacional. A França era especial, porque os produtos também eram especiais. Esta missão que tinha, era muito executiva, exigia presença obrigatória, tinha grandes responsabilidades,… Quando o Presidente me propôs esta nova missão eu considerei que era o momento, é como os jogadores de futebol, é melhor sair quando se sai por cima. Claro que não fui eu que pedi para sair, mas houve consenso com esta proposta. Aproveito para poder ter uma função mais de reflexão do que executiva no dia a dia. Fico em França, claro, em Paris, ligado às Comunidades, e posso dizer que o Francisco Brás de Oliveira, a pessoa que me substitui, é uma pessoa de confiança, profissional, e a Fidelidade não muda em termos de qualidade de serviços.

 

Não vai ser difícil essa mudança tão grande na empresa?

Em 22 anos estabeleci um contacto muito próximo com os corretores e com os resseguradores. É um modelo de negócio muito humano. São as pessoas que fazem as empresas, razão pela qual quis fazer uma ronda de apresentação do novo Diretor Geral aos nossos parceiros. Já vimos quase toda a gente. Agora, queria aproveitar para agradecer todos os clientes e parceiros pela confiança que me fizeram, e acima de tudo às minhas equipas, a todos os funcionários da Fidelidade França porque este sucesso de 22 anos é o fruto do trabalho de todos eles, mais uma vez é bom dizer que um dirigente não é nada sem uma boa equipa à volta… e a minha foi simplesmente a melhor!

 

[pro_ad_display_adzone id=”906″]

LusoJornal