Turismo francês nos cemitérios do Porto

Os dois cemitérios municipais do Porto, incluídos na Rota Europeia dos Cemitérios, mais do que duplicaram o número de visitantes nos últimos quatro anos e os portugueses e brasileiros são quem mais adere à moda do turismo sepulcral. Os Franceses também estão cada vez mais atraídos por este turismo diferente.

Dados da Câmara do Porto indicam que os cemitérios de Agramonte (1855) e do Prado do Repouso (1839) receberem “432 visitantes em 2015” nas sete visitas guiadas, enquanto em 2018 o número de visitantes subiu para “1.205 nas 17 visitas realizadas entre maio e outubro”.

Em 2016 registaram-se “685 visitantes nas oito visitas guiadas e em 2017 contaram-se 960 participantes nas 12 visitas agendadas”.

O facto de serem os únicos em Portugal a integrar a Associação dos Cemitérios Monumentais da Europa e de também estarem incluídos na Rota Europeia dos Cemitérios – criada em 2010 pelo Conselho da Europa – “ajuda a explicar o aumento do número de turistas” em busca do património cemiterial, considera Arnaldina Riesenberger, historiadora e técnica superior na Câmara do Porto.

Na lista das nações que mais visitam o Agramonte e o Prado do Repouso está Portugal, seguido pelo Brasil. França também tem sido um país cujos turistas se deslocam aos cemitérios.

A missão das visitas guiadas aos sepulcrários do Porto é desmistificá-los e levar as pessoas a descobrir obras de arte, história, notáveis e ou monumentos do Porto, porque os cemitérios são “pequenas cidades dentro da cidade grande”, verdadeiros “museus a céu aberto”, conta Arnaldina Riesenberger.

O casal francês Alain e Catherine Jamoteau encontra nos cemitérios uma forma de conhecer a história de um país.

“Não somos necrógrafos, mas adoramos história e, em particular, dos cemitérios, seja em França ou em Portugal. Gostamos de ver quais são as diferenças”, admite Alain, acrescentando que lá ir é como “aprender uma lição de história sobre uma cidade ou um país”.

Traçar a vida das pessoas através do cemitério, como por exemplo “perceber a sua riqueza” e “descobrir a vida anterior das pessoas que estão sepultadas agora” é outra perspetiva assinalada por Catherine Jamoteau.

Nos 12 hectares do Agramonte, o visitante pode descobrir o Monumento às Vítimas do incêndio do Teatro Baquet (1888), que matou mais de cem pessoas num espetáculo, e observar o Mausoléu de Francisco Antunes de Brito Carneiro (1819-1850), edifício projetado pelo arquiteto Tomás Soller (1848-1883), com esculturas de Soares dos Reis (1847-1889).

Os jazigos do escritor Júlio Dinis (1802-1883), da violoncelista Guilhermina Suggia, do cineasta Manuel de Oliveira, do negociante e benemérito Conde de Ferreira, da família Andersen e do FC Porto, são algumas peças para aprender a histórica do Porto e dos seus notáveis que se podem descobrir nas visitas guiadas de um dos cemitérios portugueses “mais ricos em arte romântica”, segundo a Associação dos Cemitérios mais Importantes da Europa.

No Prado do Repouso (1839), o primeiro cemitério público do Porto construído após a proibição da inumação dentro de capelas, o destaque da autarquia vai para o jazigo do poeta Eugénio de Andrade (1923-2005), projetado pelo arquiteto Siza Vieira (1933).

Os jazigos do músico Francisco Eduardo da Costa, com busto do escultor francês Anatole Calmels (1822-1906), da pintora Aurélia de Sousa (1866-1922) ou do médico e artista plástico Abel Salazar (1889-1946) são outras descobertas que se podem fazer no Prado.

As visitas noturnas são outra iniciativa “muito requisitada” nos cemitérios do Porto, conta Arnaldina Reisenberg, explicando que são usadas lanternas potentes que servem para direcionar o foco para detalhes da simbologia.

 

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