Teatro: “Os vizinhos do rés-do-chão” em Nanterre

No próximo dia 8 de março, um domingo, às 15h45, o grupo de teatro “Os Teimosos” fará a sua estreia na região parisiense – mais precisamente em Nanterre, na Maison de la Musique (8 rue des Anciennes Mairies) – com a peça “Os vizinhos do rés-do-chão”, uma comédia escrita em 1947 por Fernando Santos e Almeida Amaral e logo nesse ano transformada em filme pelas mãos do realizador espanhol Alejandro Perla, uma película que teve a participação de Eunice Muñoz.

A primeira parte do espetáculo, que antecede a entrada em palco de “Os Teimosos”, está a cargo do humorista “frantuguês” José Cruz. Será, então, como está fácil de ver, uma tarde de muitas gargalhadas.

O grupo teatral “Os Teimosos”, fundado em 1989, pertence à Sociedade Filarmónica Boa União Montelavarense, da vila de Montelavar, no concelho de Sintra, e esta vinda a Nanterre serve também para comemorar os 130 anos da Sociedade.

A vinda de “Os Teimosos” a Nanterre é promovida pelas associações ARCOP (Association Récréative et Culturelle des Originaires du Portugal) e APAPF (Association pour la Promotion des Artistes Portugais en France).

“Os vizinhos do rés-do-chão” que subirá ao palco no dia 8 é encenada por Gil Matias, ator com uma vasta experiência na área do teatro de revista e que apareceu em alguns formatos televisivos, embora a sua grande paixão sempre tenha sido o teatro e a revista portuguesa. Entretanto começou a encenar vários grupos de teatro do concelho de Sintra, nomeadamente os “Cintrões”, o grupo de teatro de Almoçageme e, claro, “Os Teimosos”.

“Os vizinhos do rés-do-chão” é uma comédia típica dos anos 40 portugueses onde se retrata a vida num prédio onde vivem três famílias de classes sociais distintas: a aristocrata vive no primeiro andar, a de classe média no rés-do-chão e a proletária na cave. As três famílias vão vivendo juntas, apesar dos preconceitos e das óbvias diferenças na instrução, cultura e tendências, mas sempre no mútuo “respeitinho” e nos brandos costumes idealizados pela ditadura católica e conservadora de Salazar. Um mundo em que os mais pobres eram sufocados pela opressão do regime de extrema-direita e obrigados a aceitar o status quo, tal como se a impossibilidade de sair da pobreza fosse um fado, a ordem natural das coisas. Nesta peça, todavia, disfarçado de humor e de ligeireza, surge um elemento quase “subversivo” sob a forma de o amor entre jovens de diferentes origens sociais. É então que o “respeitinho” é mandado às urtigas e rompem as hostilidades em forma de “luta de classes”… Mas, como se trata de Portugal, país de “brandos costumes” – ou, dir-se-á hoje, país de “brancos costumes” – tudo é sanado graças a um cristianíssimo perdão recíproco, mantendo-se tudo igual, sem ondas, na paz dos anjos.

Será então sob a batuta de Gil Matias que entrarão em palco os onze atores e atrizes que darão corpo às personagens. Uma delas é Graziela, que ganhará vida graças à jornalista e atriz Joana Marques Alves.

 

Joana o que significa para “Os Teimosos” esta viagem até Nanterre?

Para nós é uma oportunidade única! É uma forma de levar o nosso grupo de teatro além-fronteiras e de poder pisar um palco internacional. Nem todos os grupos têm essa sorte e nós estamos muito entusiasmados e felizes com isso! Mas temos também a noção do peso da responsabilidade: além de estarmos a representar as nossas raízes – a Sociedade Filarmónica Boa União Montelavarense e a vila de Montelavar em si -, queremos também trazer um bocadinho de ‘casa’ à Comunidade portuguesa que reside em Nanterre e arredores. Queremos que recordem o que era Portugal nos anos 40 e 50 e que façam uma viagem no tempo connosco.

 

Esta peça foi escrita há quase 75 anos. Qual é a sua atualidade?

Apesar de ser uma peça com alguns aninhos, continua a ser atual. Se pensarmos bem, continua ou não a existir um fosso entre classes? Continua ou não a haver preconceito em relação a todas as classes? Mas as relações humanas conseguem ou não ultrapassar tudo e todos? Esta peça continua a fazer todo o sentido. Seja hoje, seja daqui a 100 anos.

 

Fale-nos um pouco de Graziela.

A Graziela é como todas as meninas de hoje em dia, quer crescer rápido, ter a sua independência e procurar a sua felicidade fora de portas. Mas as coisas nem sempre são fáceis e a relação entre pais e filhos pode por vezes ser um pouco conturbada. Como vê, poderia ser um retrato de uma jovem de hoje em dia.

 

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LusoJornal