Covid-19: João dos Santos Silva: “Os momentos do dia mais chatos são os silêncios”

João dos Santos Silva foi dirigente associativo em Plaisir (78), na região parisiense, mas também líder sindical e até Administrador da Coordenação das coletividades portuguesas de França (CCPF).

Depois mudou-se para a Nouvelle Aquitaine e atualmente está reformado, mesmo se esteve muito ativo no movimento dos Coletes Amarelos.

É com algum humor que olha para a situação atual de pandemia do Covid-19. Mas a brincar… também se dizem coisas sérias.

 

Como tem passado este período?

Estranha forma de “guerra”. Vejam lá, tornaram-me soldado em casa, numa trincheira, no coração da floresta dos Landes girondines.

 

Está preocupado com esta pandemia?

Ando preocupado com os anúncios do Quartel Geral do Eliseu. Tenho que evitar a visita dos meus netinhos, tenho que assinar a minha própria autorização de saída para comprar a merenda, estou limitado nos meus exercícios de caminhadas a 1 km à volta de casa e a 1 hora. Mas o inimigo é invencível, diz o meu Capitão!

 

Quando esta situação estiver ultrapassada, o que espera do ‘novo mundo’?

Na primeira semana, o meu General anunciava uma retenção de 2 semanas sem permissão, depois já anunciava 4 semanas, e ultimamente talvez a libertação para os fins de abril… Os momentos do dia mais chatos são os silêncios à minha volta, felizmente gosto de ler, observar os namoros dos passarinhos nesta época, atarefados a fazer ninhos, ver um pouco de televisão que passa o dia a contar os mortos na batalha, sem esquecer de passar ver um casal vizinho de 95 anos, a 200 metros da minha trincheira, e cada dia digo-me: mais um dia que escapei à morte. Quando acabar a guerra, ainda não sei se parto para Marte ou se peço refúgio num convento de frades. Vejo tantos horrores entre os humanos que a ficção tornou-se realidade, a humanidade está em autodestruição. A minha esperança é um dia que eu morra, se existe uma outra vida, que eu nunca mais volte a este inferno…

 

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