LusoJornal / Mário Cantarinha

O 25 de Abril do Deputado Carlos Gonçalves

O meu 25 de Abril. A manhã do dia 25 de Abril de 1974 começou para mim da mesma forma que todos os outros dias. Era apenas mais um dia de escola. No entanto, a meio da manhã, durante uma aula de francês na escola preparatória Afonso Paiva de Castelo Branco, a professora Ercília interrompeu a aula para nos comunicar que estava em curso um movimento que poderia dar origem a mudanças importantes no país.

Se a maioria dos meus colegas, na altura com 12 anos, ficou na expectativa de saber realmente o que se passava, para mim esta notícia significava, antes de mais, uma janela que se abria para o possível regresso do meu pai a Portugal. Esta foi a primeira mensagem que me trouxe o 25 de Abril: a possibilidade do reencontro de uma família que por várias razões viu o meu pai sair do país em setembro de 1972.

Mais tarde percebi o que estava verdadeiramente em causa no plano político, económico e social e as consequências que viriam a decorrer da chamada Revolução dos Cravos de Abril de 1974 que acabaram por transformar a vida de todos os Portugueses independentemente do local da sua residência.

A partir desse momento Portugal encetou um processo de abertura ao mundo, alterou por completo o seu sistema político com a afirmação da Democracia e de um regime constitucional que passava a garantir as liberdades individuais dos cidadãos. Ao mesmo tempo, iniciou-se o processo de descolonização e encetou-se um percurso de aproximação à Europa e aos valores que essa defendia.

É por estas razões que quando se comemoram quatro décadas de Democracia mais do que lembrar a data da Revolução é importante, sobretudo, fazer o balanço deste período.

Somo hoje um país bem diferente, diferente para melhor, com um sistema democrático perfeitamente consolidado e que nestes 40 anos muito se transformou aproximando-se do nível de vida dos nossos parceiros europeus.

Eu tive a sorte de ainda muito jovem ter conhecido a liberdade e a democracia e de ter sido imbuído do espírito da participação cívica e política. Ora, o 25 de Abril veio devolver aos Portugueses, exatamente essa possibilidade, que hoje é um direito, de intervir de forma ativa na vida política do seu país.

Se o 25 de abril foi uma forma de renascimento de Portugal, tendo consequências claras na vida dos Portugueses residentes no país, teve também repercussões enormes no mundo das Comunidades portuguesas e, por exemplo, em França foi o fator decisivo para que a Comunidade portuguesa aqui residente iniciasse o seu processo de afirmação. Basta ver que a rede do movimento associativo português neste país nasceu, em grande parte, nos primeiros anos a seguir à Revolução.

As políticas implementadas na sequência da Revolução de Abril vieram permitir a adesão à CEE o que alterou profundamente a relação dos emigrantes com o seu país de origem e com o país de acolhimento, permitindo-lhes assumir-se mais como cidadãos intervenientes nesses países e sólidos contribuintes para o seu desenvolvimento.

A importância que a Revolução dos cravos tem para as Comunidades portuguesas é todos os anos expressa através do número impressionante de iniciativas que decorrem pelo mundo inteiro a celebrar esta data que marcou, de forma decisiva, a vida de quem emigrou no início dos anos 60 e 70.

Quando me refiro ao 25 de abril vem-me sempre à memória a aula da professora Ercília em Castelo Branco e as caras dos meus colegas, que apesar da juventude, transmitiam um sentimento de surpresa mas também uma enorme expectativa, não sabendo, no entanto, na altura que a partir daquele momento o seu futuro nunca mais seria igual.

Quanto a mim, saí da aula na expectativa do regresso do meu pai o que nunca viria a acontecer. Mas isso é outra história. Estamos a falar de Abril.

 

Carlos Gonçalves

Deputado (PSD) eleito pelo círculo eleitoral da Europa

 

Testemunho recolhido para o LusoJornal, no quadro da Exposição sobre os 40 anos do 25 de Abril, do fotógrafo Mário Cantarinha, publicado na edição em papel do LusoJornal de abril de 2015.

 

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