Lusa / Tiago Petinga

A “francesa” de Alfama diz que ver Lisboa sem turistas “custa imenso”

Há três décadas em Alfama, Judite Gomes, de 62 anos, tem raízes transmontanas, esteve emigrada em Paris, mas foi aqui que encontrou um lar. Conhecida por “a francesa” ou “a morgadinha de Alfama”, alcunha que dá nome aos seus três restaurantes, a comerciante assume que “custa imenso” não ter arraiais.

“Não conheço Alfama assim. Infelizmente, nem moradores, nem festas, não há nada”, conta, lembrando que este era “um mês cheio de vida e de alegria”, com a visita de turistas nacionais e estrangeiros.

Compreendendo a decisão de proibir os festejos, a comerciante alerta que é impossível “sobreviver sem pessoas”. Apesar de ter aberto as portas dos seus restaurantes há duas semanas, após meses de confinamento, os clientes tardam em chegar, enquanto os gastos de funcionamento se vão somando, inclusive luz e água.

“Que sejamos todos unidos, que consigamos chegar ao ano que vem e que façamos uma festa a dobrar”, realça Judite, mostrando-se preparada para lutar contra o impacto da pandemia: “Tudo o que desejo é que não fique doente com este vírus.”

Despido da tradicional folia, sem turistas e com os poucos moradores que resistiram aos despejos, o bairro lisboeta de Alfama vive hoje dias de saudade. O cancelamento dos arraiais e das marchas, devido à pandemia, transformou-se num “silêncio magoado”.

“É muito triste, a gente tinha sempre muita gente. Era um bairro, nesta altura do Santo António, em que estava tudo enfeitado, era uma alegria, mas agora parte das pessoas também já não moram cá, umas morreram, outras foram despejadas”, conta Maria Helena Dias, de 84 anos, à porta de casa.

Perante a “desgraça” da pandemia da covid-19, a alfacinha apoia o cancelamento das Festas de Lisboa, inclusive arraiais e marchas populares. “Se Deus quiser, para o ano, havemos de estar cá todos”, perspetiva, sem deixar de apregoar que “Santo António é Alfama”.

“Fechada em seu desencanto/ Alfama cheira a saudade/ Alfama não cheira a fado/ Cheira a povo, a solidão/ Cheira a silêncio magoado/ Sabe a tristeza com pão.” Estes versos, interpretados por Amália Rodrigues, voltam a traçar a atualidade de um dos bairros históricos de Lisboa, precisamente no ano em que se assinala o centenário do nascimento da fadista.

 

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