A terra adormecida e o beijo do príncipe encantado

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1. A fada “rusga” (*) e a Bela adormecida

Um estranho torpor tomou conta do “planeta azul”. Tudo por causa de um simples vírus! Dou comigo a pensar num célebre conto de fadas em que uma terrível maldição pôs a dormir uma princesa, e com ela o rei seu pai e todos os seus súbditos, dos cortesãos ao cocheiro, os animais do bosque e até os pássaros. Cem anos andou dormindo o palácio real, envolto numa selva de espinhos para que ninguém ousasse chegar perto… Até que um dia, um garboso príncipe sem medo, logrando aventurar-se pelo mortífero matagal, quedou-se extático face à princesa adormecida, bela e formosa como o raiar do sol, e a acordou com um beijo, quebrando assim o quebranto.

Fadas não existem, mas o conto é bem real. Escrito em 1697 por Charles Perrault (considerado o pai da literatura infantil), “La Belle au bois dormant” (A Bela adormecida) atravessou todas as gerações, sem uma ruga.

Dou comigo a cogitar: se El-Rei e a rainha tivessem convidado a fada Maléfica para a festa de “guarda-cabeça” (assim dizemos em Cabo Verde), quem sabe tivessem evitado a funesta praga lançada à sua filha unigénita, e à corte inteira por tabela! Talvez Maléfica se despedisse alegre e rindo se lhe tivessem aberto as portas do palácio para festejar como as outras fadas do reino, que eram doze e foram todas convidadas. Excluída, despeitada, injuriada, Maléfica “rusgou” e arrasou, e sua alteza pagou caro o preço do seu real mau-jeito (também naquele tempo não havia conselheiros em comunicação e relações públicas).

Moral da história: não se deve fazer diferença entre iguais, e “menos igual” também é gente!

 

2. O dia em que a Terra (também) adormeceu

Digam-me lá agora se alguma semelhança entre esta história fantástica e a situação real que estamos a viver neste planeta “covidizado” é mera coincidência! Ou não andássemos nós-outros entorpecidos, numa modorra planetária, por causa de um malfadado vírus que ataca corpo e alma porque mexe com as nossas expectativas, nossos planos de vida, nossos lídimos anseios.

Ou não fosse a Covid-19 um soporífero para a nossa alegria de viver e o nosso entusiasmo! Convivência social, já era. Agora é estádios sem tribuna, cultura sem plateia, fábricas sem operários, cidades sem gente… Desemprego em massa, indústrias em coma, aviões em terra, cadê turista? Terrível malefício este que veio lançar o medo e a desconfiança entre as pessoas, separar famílias, espalhar o pânico e pôr a economia mundial em estado de sonolência!

Enquanto isso a pandemia criou outras demandas, por conseguinte outros mercados; algures prosperam outros “negócios da China”. Poderosas multinacionais agro-alimentares, audiovisuais e digitais, farmacêuticas e de higiene sanitária (sabões, detergentes, álcool-gel) esfregam as mãos. Entre mortos e enfermos, alguém há de escapar.

 

3. Quem é a fada Maléfica de Wu-Han?

Entretanto, ninguém é capaz de dizer, com bases científicas irrefutáveis, a origem do tenebroso vírus que nos traz sonolentos, a ponto de esquecermos que há nove meses éramos pessoas normais! Todos sabemos que veio do Oriente, longínquo e fascinante Oriente que tão boas coisas deu ao mundo desde Marco Polo e Vasco da Gama… Todos ouvimos falar de Wu-Han, na China, epicentro do mal – mais nada! Os “Grandes” deste mundo andaram às turras, mas não ousam inquirir sobre a real proveniência do vírus e assacar responsabilidades. Em que sinistro laboratório terá nascido o maldito vírus, se houver nele a mão do Homem? Quem é a fada Maléfica que pôs o mundo neste estado de letargia? A culpa há de morrer solteira porque com os “Grandes” deste mundo não se brinca, muito menos quando têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ninguém ousa mexer com as “fadas maléficas” do nosso tempo, e a humanidade continuará a sofrer dos malefícios que espalham pelo mundo, de suas ganâncias e ambições de hegemonia.

Este ano da guarda de 2020 ficará para a História como o ano em que a Terra mergulhou num torpor profundo, como uma Bela Adormecida no Firmamento. Acredita-se que ela acordará no dia em que receber o beijo de um “príncipe encantado”, entenda-se a vacina tão ansiosamente esperada.

O Príncipe Encantado, também não se sabe ainda quem é, que inconfessos desígnios o animam, qual a sua nação nesta nebulosa de interesses financeiros transnacionais… mas, pouco importa quem seja ou de onde venha, será aclamado como um messias! Para que a Terra, princesa adormecida no Universo, possa – enfim! – emergir do seu torpor.

O vírus foi um sonífero, o despertar deve ser um eletrochoque! Oxalá a humanidade acorde com o pé direito, mais justa, mais solidária, mais consciente dos seus limites… Mais circunspecta para travar – enquanto é tempo – a sua própria destruição!

Oxalá não tarde, o milagroso ósculo – aliás vacina!

 

Mindelo, Cabo Verde, 28 de novembro 2020.

(*) Rusga: em crioulo de Cabo Verde, pessoa que vai a uma festa sem ser convidada

 

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LusoJornal