Casa de Portugal André de Gouveia

Casa de Portugal André de Gouveia festeja 50 anos

A Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Universitária de Paris, vai comemorar 50 anos esta segunda-feira, 20 de novembro, na presença do Ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, e dos antigos residentes Carlos Moedas e Álvaro Teixeira Lopes, o músico que «vai tocar no piano que ele próprio comprou» quando ali morou nos anos 1980.

Também estará presente Jean-Marc SAUVÉ, Presidente da Cité internationale universitaire de Paris e Isabel Mota, Presidente do Conselho de Administração da Maison du Portugal e Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e Gilles Pécout, Reitor da Região académica Île-de-France, Reitor da Academia de Paris e Chanceler das Universidades de Paris.

 

Uma sopa de línguas

Nas nove cozinhas da Residência, fala-se diariamente em francês, inglês e português, há pequeno-almoço com produtos portugueses de 15 em 15 dias, um «aperitivo» e uma festa por mês, mas também há salas de ensaio e ateliês para os residentes que «geralmente consideram que estão em casa», de acordo com a Diretora da Casa de Portugal, Ana Paixão.

«O espírito continua a ser de criação de uma verdadeira casa, portanto, a ideia não é ser apenas uma residência universitária onde as pessoas vêm dormir e depois saem de manhã para os seus estudos. A ideia é ter também um núcleo quase familiar aqui neste espaço», explicou Ana Paixão.

 

Uma oferta da Gulbenkian

Desenhada pelo arquiteto português José Sommer Ribeiro, a Casa de Portugal foi inaugurada em 1967. Nasceu da vontade de José Henrique de Azeredo Perdigão, na altura o Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, para proporcionar aos estudantes e investigadores portugueses as melhores condições de acolhimento em Paris. Em 1974, a Casa batizada «Residência André de Gouveia», com o nome do humanista português do século XVI que foi Reitor da Sorbonne. Em 2013 voltou a ser rebatizada «Maison du Portugal André de Gouveia».

Atualmente acolhe aproximadamente 180 estudantes universitários de 40 nacionalidades, sendo uma centena portugueses, mas também há japoneses, chineses, americanos, moçambicanos, marroquinos, sul-africanos e sírios.

Inserida no «ambiente muito internacional e cosmopolita» da ‘Cité Universitaire’ – que acolhe cerca de 6.000 estudantes de 140 nacionalidades – a Casa de Portugal distingue-se como «vitrina da cultura portuguesa» e por ter «uma das programações fortes da Cidade Universitária» com cerca de 100 atividades por ano, nas áreas da música, dança, teatro e cinema.

O «residente número um é o busto de Camões no jardim», mas o que carateriza esta Casa de Portugal é a «mistura internacional», com vários moradores a afixarem as conjugações dos verbos portugueses nas paredes dos quartos, com ucranianos e italianos a aprenderem português nas cozinhas e dois refugiados sírios a dizerem algumas palavras numa língua que desconheciam totalmente.

«Quando foram aqui colocados tiveram de ir ao mapa ver onde era Portugal porque não faziam ideia e contaram-me que nem sabiam que havia uma língua portuguesa. Acabou por ser uma grande descoberta mas já dizem algumas palavras, já reconhecem a bandeira, já reconhecem alguns dos símbolos e já têm amigos portugueses», continuou Ana Paixão, recordando que os jovens de 18 e 19 anos chegaram a França «só com uma mochila às costas».

 

Duas operação de renovação

A Casa de Portugal já beneficiou de duas operações de renovação pela Cité internationale universitaire de Paris, nos últimos 15 anos.

Entre 2003 e 2006, o conjunto do edifício e a fachada foram completamente renovados pela empresa AAVP Architecture e pelo arquiteto António Virga, dando-lhe um ar bem mais contemporâneo, aumentando a capacidade de quartos e a qualidade de acolhimento. A operação foi financiada pela Cité Universitaire com 5,2 milhões de euros e pela Fundação Calouste Gulbenkian com 2 milhões de euros.

Em 2016, a Biblioteca Vieira da Silva (com 200 metros quadrados) e a sala polivatente Fernando Pessoa (com 220 metros quadrados) também foram modernizadas, com uma operação que custou 420.000 euros e que foi realizada graças à mobilização conjunta da Cité universitaire, da Maison du Portugal e de mécènes portugueses, como por exemplo a própria Fundação Calouste Gulbenkian, Banque BPI, Travaux sur Mesure, Fidelidade Assurances, Bureau BIIC, CIC Iberbanco, Vitra, Teresa Nunes da Ponte Arquitectura e Cândido Faria.

No passado, a Casa de Portugal também alojou o Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, a Eurodeputada e Vice-Presidente do Parlamento Europeu Maria João Rodrigues, o pianista Álvaro Teixeira Lopes, o violoncelista Paulo Gaio Lima e o maestro Cesário Costa, as pintoras Isabel Pavão e Gracinda Candeias e vários professores universitários como Maria João Brilhante, António Pedro Vicente ou Arnaldo Saraiva.

 

Uma programação cultural intensa

Entre os momentos culturais marcantes da Casa, contam-se sessões com os escritores Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Valter Hugo Mãe e Gonçalo M. Tavares, cerca de 40 concertos por ano em parceria com concursos de música em Portugal, colaborações com o Festival de Jazz da Cité e divulgação do trabalho de compositores de música portuguesa com o pianista Bruno Beltoise e estudantes de conservatórios da região de Paris.

Há, ainda, uma programação de artes plásticas, cinema, dança e de teatro com a companhia Cá e Lá, os coreógrafos Sofia Fitas e João Costa Espinho, parcerias com o Festival International Signes de Nuit, The Art Institut de Nova Iorque, a Agência da Curta Metragem e a Noite Europeia dos Museus.

Na programação, feita em cooperação com o responsável da Cátedra Lindley Cintra na Universidade Paris Ouest-Nanterre, José Manuel Esteves, a Casa de Portugal organiza, também, um Ciclo de conferências europeias que já recebeu os Eurodeputados Ana Gomes, Marisa Matias, Paulo Rangel e o Comissário Carlos Moedas, assim como um ciclo de debates «Mulheres no Mundo» e sessões de divulgação do trabalho dos investigadores em Ciência.

A ‘Maison’ está de portas abertas às diferentes nacionalidades mas «o grande desafio é a aproximação à Comunidade portuguesa», algo que tem sido feito através de parcerias com associações portuguesas em França, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa.

 

Dois concertos de aniversário

Dois concertos serão organizados no quadro das comemorações dos 50 anos da Residência André de Gouveia:

Domingo, dia 19 de novembro, às 16h00

Concerto de Elisa Martin Bragado (piano) e Millan Abeledo Malheiro (violoncelo), laureado do Concurso Santa Cecília. Obras de Debussy, Falla, Webern et Prokofiev, numa homenagem aos compositores que viveram entre as Guerras mundiais.

Sábado, dia 2 de dezembro, às 19h00

Concerto de José d’Eça (barítono) e Luís Costa (piano). Winterreise de Franz Schubert.

 

 

LusoJornal