A Claridade e as histórias de Cabo-Verde

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

 

A literatura cabo-verdiana é uma ilustre desconhecida em França (e até em Portugal) e quase não existem obras traduzidas para francês, sendo este “Récits et nouvelles du Cap-Vert” um dos raros bons exemplos. Já alvo de publicação em 1996 e 2006, a Éditions Chandeigne regressa a ela pela terceira vez, agora com uma bela capa, fazendo-a chegar novamente às livrarias.

“Récits et nouvelles du Cap-Vert” faz o leitor recuar ao arquipélago dos tempos do império colonial português graças a sete histórias curtas escritas por quatro autores que foram também os mais destacados fundadores do independentista Movimento Claridade. Em 1936, no Mindelo, um grupo de intelectuais cabo-verdianos decide fundar uma revista à qual deu o nome de “Claridade”. Uma publicação com o objetivo de valorizar e emancipar a vida cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana. Na senda do neorrealismo português, o Movimento Claridade defendeu a criação de uma identidade cabo-verdiana autónoma e, do ponto de vista literário, “fincaram os pés na terra”. As dificuldades com que se depararam, num momento de grande opressão colonial, foram imensas.

Esses quatro autores – Manuel Lopes, Baltasar Lopes, António Aurélio Gonçalves e Henrique Teixeira de Sousa – oferecem-nos então personagens que se debatem com as dificuldades da vida quotidiana, quase sempre ligadas à questão climática (a seca que desde sempre assombra o arquipélago) mas, também, com a decadência do porto do Mindelo. Uma realidade que afetava (e afeta) gravemente a população deste país árido, situado ao largo das costas do Senegal e da Mauritânia, varrido sem dó pelos ventos do Sahara. Uma terra que, durante séculos, foi ocupada por colonos portugueses e por africanos escravizados. Contexto geoclimático e demográfico que deu origem a um dos povos mais diversos e complexos do mundo lusófono.

Estes textos falam-nos da fome, da pobreza das infraestruturas (hospitais, escolas…), do êxodo rural e da emigração, tudo imbuído por aquela melancolia insular tão bem captada pela morna. E, assim, desde “Le coq a chanté dans la baie” (história que abre a coletânea) e que nos conta as desventuras dos contrabandistas, passando pela “Momiette”, que retrata a rivalidade violenta entre dois rapazes, e terminando no “Dragon et moi”, as histórias narradas nesta obra pintam com vitalidade o Cabo-Verde colonial, permitindo ao leitor mergulhar naquela cultura mestiça, crioula e intrinsecamente insular. Quatro grandes escritores cabo-verdianos que é obrigatório descobrir.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]

LusoJornal