Lusa | Mário Cruz

Opinião: Jorge Sampaio

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Jorge Sampaio foi um grande senhor da política. Um homem de causas, de valores e princípios sólidos. Um humanista profundo e profundamente democrata, um cosmopolita, com um imenso respeito pelos outros, um homem de diálogo, que sabia ouvir e gostava de ouvir os outros.

O Presidente da República entre 1996 e 2006 tem um percurso exemplar e altamente inspirador, precisamente por ser um homem de causas nobres e justas e de valores democráticos inabaláveis, enquadrado no seu natural humanismo. Sobre as comunidades portuguesas, sempre rejeitou a ideia de gueto e sempre defendeu a plena integração dos portugueses nas sociedades de acolhimento e o exercício dos seus direitos de cidadania.

E isto é tanto mais importante quanto vivemos tempos em que há uma diluição dos valores que provocam uma erosão das democracias, uma incerteza em relação ao valor da ação política e uma desvalorização das causas, retirando-lhes a sua nobreza intrínseca. E muito disto se deve ao aparecimento da extrema-direita, que Sampaio abominava, como detestava todo o tipo de extremismos e radicalismos, o oposto das democracias abertas e tolerantes.

Jorge Sampaio sempre foi um homem de causas e de valores, o que ficou patente durante o seu papel na crise académica de 1962, e depois ao continuar com o seu empenhado percurso cívico e político, como o demonstra a sua coragem como advogado de presos políticos contestatários da ditadura. Foi um lutador anti-fascista determinado, o que evidencia bem a sua devoção pelos princípios da liberdade e da democracia. Os tempos de hoje precisam de homens e mulheres assim, que nos mostrem o caminho do que é justo, que sejam um exemplo e uma referência.

A sua entrega à causa pública nunca terminou, mesmo depois de ter deixado a Presidência da República. Jorge Sampaio prosseguiu a sua devoção pelas grandes causas da humanidade, como o demonstra o período em que desempenhou funções no âmbito das Nações Unidas, como enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e como Alto-Representante para a Aliança das Civilizações e, mais recentemente, como fundador e presidente da Plataforma Global para os Estudantes Sírios, na sequência da destruição massiva a que a Síria foi sujeita depois de 2013, por causa da guerra civil.

Jorge Sampaio possuía um extraordinário sentido do dever e da responsabilidade. Discreto e humilde, com a emoção à flor da pele, empenhava-se nas causas pela sua relevância para a humanidade e não por qualquer razão para chamar para si os holofotes do protagonismo. Foi assim com a sua determinação na luta pela independência de Timor-Leste, relativamente à qual não poupou esforços para mobilizar a comunidade internacional para que esse objetivo fosse alcançado.

O sentido do dever levou-o também a candidatar-se à Câmara de Lisboa onde é precursor da geringonça, ao conseguir um inesperado acordo com o PCP que o levaria à vitória, precisamente contra o candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa. Estávamos então em 1989 e Sampaio era nessa altura o Secretário-Geral do PS.

Não foi só o PS que perdeu uma grande referência ética na vida política. Foi Portugal que perdeu um grande exemplo. Foi o mundo que perdeu um grande humanista e um homem inspirador que nos diz que nunca devemos deixar de abraçar as causas da humanidade, da justiça, da paz e da tolerância.

Jorge Sampaio era um cosmopolita com princípios e valores sólidos, uma inspiração para qualquer democrata, para qualquer humanista, para qualquer cidadão.

Obrigado Jorge Sampaio!

 

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