“Liberdade ao Feminino”: encontro luso-brasileiro dedicado às mulheres

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No âmbito das Comemorações do Dia Internacional da Mulher, terá lugar no próximo sábado, dia 11 de março, na MIE, Maison des Initiatives Étudiantes (50 rue des Tournelles, em Paris), um Sarau que juntará três autores lusófonos a viver em França. A organização – a cargo da APEB-FR, Associação dos Estudantes e Pesquisadores Brasileiros em França, e da UEELP, União Europeia dos Escritores de Língua Portuguesa – organizará este evento, aberto ao público, que pretende unir a Literatura à luta pelos direitos das mulheres.

Os escritores convidados, as brasileiras Mazé Torquato Chotil e Thaís Tanure, e o português Nuno Gomes Garcia já trataram, nos seus respetivos trabalhos, além das questões da discriminação feminina, outros tipos de opressão nomeadamente aquela de que foram vítimas as pessoas escravizadas ao longo dos séculos de comércio triangular que Portugal e outras potências europeias desenvolveram no Atlântico.

Mazé Torquato Chotil falará então da cantora lírica brasileira Maria d’Apparecida, falecida em Paris, em 2017, com 91 anos de idade. Na biografia que Chotil dedicou à cantora, “Maria d’Apparecida negroluminosa voz”, a autora explora a dupla discriminação sofrida por Maria d’Apparecida, vitima de racismo e misoginia. A autora matogrossense que vive em Paris desde 1985, explicou ao LusoJornal que “o sonho de Maria d’Apparecida era fazer carreira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a capital do Brasil, na época o grande teatro brasileiro, mas lhe disseram que negra não cantava ali. Ela tinha terminado o Conservatório de Música, ganhou um prémio na Itália. Perante esse preconceito racial, ela decidiu se expatriar para fazer carreira. Chegou em Paris numa turnê com o pianista e compositor Waldemar Henrique, passando antes por Lisboa e Madrid. Uma vez na capital francesa, fez aperfeiçoamento no Conservatoire National Supérieur de Musique et Danse de Paris e começou a trabalhar para chegar lá”.

Já Nuno Gomes Garcia, autor português finalista do Prémio Leya e que foi recentemente laureado com a bolsa de criação literária Jean Monnet, abordará este Dia Internacional da Mulher através do prisma de “La Domestication” (tradução portuguesa de “O Homem domesticado”, Leya, 2017, obra traduzida por Clara Domingues e publicada pelas Editions iXe, em 2022, com o apoio do Centre National du Livre francês e do Ministério da Cultura português). Em “La Domestication”, o escritor apresenta-nos uma distopia que, segundo ele, “inverte os papéis com o objetivo de denunciar os atentados anti-femininos que o patriarcado vem cometendo desde a invenção da agricultura até aos nossos dias. Um regime centrado no homem e que, hoje, também na Europa, ainda oprime a mulher”. Este romance oferece uma linguagem totalmente feminizada de modo a, explica Nuno Gomes Garcia, “fazer um exercício de espelho, de ajudar ao trabalho intelectual que deve ser feito no sentido de compreendermos que as línguas francesa e portuguesa, mais a primeira do que a segunda, são também, devido à sua extrema masculinização, instrumentos de opressão da mulher. Temos de fazer, e deixar em legado às novas gerações, uma revolução linguística de maneira a que a igualdade e a equidade entre homem e mulher sejam plenas”.

Por seu lado, a historiadora e poeta, Thaís Tanure, belorizontina também a viver em Paris, onde realiza, na Universidade Paris 1 Sorbonne, a tese de doutoramento sobre a memorialização da escravidão em dois portos atlânticos, os de Nantes e Rio de Janeiro. Ela é membro do Labex Dynamite e do Centre d’Histoire sociale des mondes contemporains e realizou o seu mestrado sobre a trajetória dos escravizados e escravizadas pelo mundo atlântico português. Sobre o tema da escravidão e suas memórias, ela tem diversos artigos publicados em revistas académicas e livros coletivos. Durante o sarau deste sábado, ela terá a oportunidade de ler o seu trabalho poético já publicado em várias revistas da especialidade.

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LusoJornal