Lusa | Miguel A. Lopes

Pedro Nuno Santos foi eleito Secretário-geral do Partido Socialista com 62% dos votos


Pedro Nuno Santos foi eleito ontem Secretário-geral do PS, com 24.080 votos, correspondentes a 62%, nas eleições diretas realizadas entre sexta-feira e sábado.

José Luís Carneiro foi o segundo mais votado, com 36%, e Daniel Adrião ficou em terceiro lugar, com 1%, anunciou o Presidente da Comissão Organizadora do Congresso do PS, Pedro do Carmo, na sede nacional deste partido, em Lisboa.

.

Pedro Nuno Santos fez o seu caminho pela ala esquerda do partido

Pedro Nuno Santos, ontem eleito Secretário-geral do PS, foi Ministro e Secretário de Estado, fez o seu caminho pela ala esquerda do partido e desde 2018 posicionou-se para suceder a António Costa na liderança dos socialistas.

Natural de São João da Madeira, distrito de Aveiro, Pedro Nuno Santos, 46 anos, neto de sapateiro e filho de empresário, é licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e iniciou a sua atividade política na JS aos 14 anos, organização de juventude que liderou entre 2004 e 2008.

Como líder da JS, esteve na primeira linha em defesa da despenalização da interrupção voluntária da gravidez e depois da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um passo considerado à época fraturante, que começou por oferecer resistência dentro do PS, então liderado por José Sócrates, com maioria absoluta no Parlamento, mas que acabou por ser concretizado em 2010.

No PS, após a saída de José Sócrates em 2011, apoiou António José Seguro para a liderança dos socialistas, contra Francisco Assis, mas o seu alinhamento com o “segurismo” durou poucos meses. Com Portugal sujeito a assistência financeira externa, demitiu-se de Vice-Presidente da bancada socialista, semanas depois de ter feito declarações inflamadas, num jantar de Natal partidário, em Castelo de Paiva, a admitir o não pagamento da dívida pública – ação que, na sua perspetiva, iria pôr “as pernas dos banqueiros alemães a tremer”.

Pedro Nuno Santos apoiou António Costa contra António José Seguro nas eleições primárias do PS em setembro de 2014 e, após as eleições legislativas de outubro de 2015, foi um dos principais dirigentes socialistas envolvidos nas negociações com o Bloco de Esquerda, PCP e PEV para a formação da “Geringonça”.

No primeiro dos dois governos minoritários de António Costa, foi Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, tendo negociado, entre outros processos, a viabilização de quatro orçamentos do Estado em fevereiro de 2019, no final dessa legislatura. No segundo Governo minoritário do PS, acumulou as Infraestruturas com a pasta da Habitação.

Como ministro com a tutela da TAP, desentendeu-se várias vezes com os representantes privados da empresa e, inclusivamente, com o administrador nomeado pelo Estado Diogo Lacerda Machado, conhecido como “o melhor amigo de Costa”. Com a pandemia da Covid-19, concretizou o processo com Bruxelas para a nacionalização da transportadora aérea nacional.

Em 29 de junho de 2022, já no Governo de maioria absoluta do PS, protagonizou o caso mais grave de divergência com o Primeiro-Ministro ao fazer sair do seu Ministério uma portaria sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, sem conhecimento de António Costa e contrariando a opção política de acordar este processo com o PSD. António Costa não o demitiu, ao contrário do que se esperava. Exigiu que Pedro Nuno Santos revogasse essa portaria e pedisse desculpa publicamente.

Pedro Nuno Santos acabou por se demitir de ministro das Infraestruturas e da Habitação em dezembro do ano passado, na sequência do caso que envolveu um pagamento de 500 mil euros, a título de indemnização, à então secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, para que esta cessasse funções na administração da TAP.

Primeiro, circulou a ideia de que não tinha sido do seu conhecimento esse pagamento a Alexandra Reis. Mas, semanas depois, o ex-ministro, após consultar o seu registo de mensagens, veio comunicar que, afinal, fora informado desse pagamento.

Regressou ao parlamento no final da sessão legislativa passada e, em outubro, começou a fazer comentário político na SIC, onde criticou, entre outros aspetos, a posição do Governo de não aceitar recuperar a totalidade do tempo de serviço congelado aos professores e a ideia do ministro das Finanças, Fernando Medina, de criar um fundo financeiro para alocar os excedentes orçamentais.

Em 07 de novembro, António Costa demitiu-se das funções de primeiro-ministro, depois de o seu nome ter sido envolvido num inquérito judicial. Disse que não se recandidataria ao cargo nas eleições legislativas de 10 de março. Na semana seguinte, Pedro Nuno Santos anunciou a sua candidatura ao cargo de Secretário-geral do PS.

.

José Luís Carneiro reconheceu derrota e felicitou Pedro Nuno Santos

O candidato à liderança do PS José Luis Carneiro reconheceu ontem à noite a vitória do seu adversário Pedro Nuno Santos e afirmou que já lhe telefonou a dar os parabéns.

Num hotel de Lisboa, onde acompanhou o escrutínio, quando questionado se já tinha felicitado Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro respondeu: “Desejei-lhe as maiores felicidades”.

O candidato à liderança do PS afirmou que se estivesse preocupado com a sua carreira política talvez não tivesse avançado para a corrida, sem esclarecer o que pretende fazer a seguir.

José Luís Carneiro falava aos jornalistas na sede nacional do PS, no largo do Rato.

Questionado várias vezes sobre o seu futuro político, José Luís Carneiro respondeu: “Se me preocupasse com a minha carreira política talvez não tivesse decidido ser candidato à liderança do PS”.

“Esta candidatura alcançou um notável resultado. Não tendo sido maioritária teve dos mais elevados resultados das candidaturas não ganhadoras que se desenvolveram até hoje. Já pude falar com o meu camarada Pedro Nuno saudando-o pela vitória”, referiu.

O ainda Ministro da Administração Interna considerou que a sua candidatura, assumida na Comissão Política do PS logo após o anúncio de eleições antecipadas pelo Presidente da República, foi um ato “que teve um significado muito profundo” também para as futuras gerações, afirmando que “não há inevitabilidades na vida democrática”.

.

Daniel Adrião considera que a sua candidatura ficou aquém do que esperava

O candidato à liderança do PS Daniel Adrião considerou ontem que a sua candidatura ficou aquém do que esperava e que não teve um bom resultado nas eleições diretas.

Daniel Adrião, que é membro da Comissão Política do PS, candidatou-se pela quarta vez consecutiva ao cargo de Secretário-geral do PS, tendo tido como adversários internos nestas eleições Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro.

Questionado pela comunicação social, junto à sede nacional do PS, em Lisboa, sobre a possibilidade de vir a ter menos de 1% dos votos e de não eleger nenhum delegado ao Congresso de janeiro, Daniel Adrião respondeu: “Claro que obviamente que este não é um bom resultado”.

“Eu acho que, de facto, fiquei aquém daquilo que desejava. Mas eu desde logo quando lancei a minha candidatura disse que o meu grande objetivo não era conquistar o maior número de votos, era precisamente congregar o maior número de vontades em nome de um projeto transformacional para o país”, acrescentou.

Segundo o dirigente socialista, “estas eleições aconteceram num ambiente muito especial, muito particular”, na sequência da demissão do Primeiro-Ministro, António Costa, com eleições legislativas antecipadas anunciadas para 10 de março, o que “condicionou o processo interno, porque o afunilou na questão da escolha do candidato a Primeiro-Ministro”.

“Portanto, não houve oportunidade no fundo de fazer um debate mais alargado, um debate sobre as políticas do PS para o país e um debate sobre também o modelo de organização e de funcionamento interno do PS”, lamentou.

Ainda assim, Daniel Adrião manifestou-se convicto de que algumas ideias pelas quais se bateu nestas eleições “vão ficar para além desta disputa interna e vão fazer o seu caminho para além deste Congresso”.

“Eu bati-me sobretudo por ideias. Bati-me pela possibilidade de os militantes do PS poderem escolher os seus candidatos a deputados, bati-me pela possibilidade de os cidadãos poderem eleger diretamente os seus deputados. Essas são questões fundamentais e que, aliás, estão já a ser apropriadas pelo partido e designadamente pelos outros dois candidatos”, referiu.

.

O PS tem aproximadamente 80 mil filiados, dos quais cerca de 60 mil tinham direito a votar nestas eleições diretas.

Além do novo líder do partido, os militantes socialistas votaram para eleger 1.400 delegados ao Congresso Nacional do PS, que se reunirá entre 05 e 07 de janeiro, na Feira Internacional de Lisboa – aos quais aos se juntam 1.100 delegados por inerência.

LusoJornal