Com mais de 200 anos: Consulado português em Marseille anima relações históricas entre a região PACA e Portugal

Com mais de 110.000 portugueses registados, o Consulado-Geral de Portugal em Marseille foi criado há mais de 200 anos, por decisão do Rei D. João VI e desde então funciona ininterruptamente na “cité foséenne”.

Em dezembro, o Departamento de português da Universidade de Aix-Marseille realizou uma exposição para comemorar precisamente os 200 anos do posto consular, mas também para realçar as fortes relações de Marseille com Portugal e com o Brasil. Esta exposição vai agora circular noutras cidades da região.

“Este Consulado de Portugal foi criado em 1822 por D. João VI, acabado de chegar do Brasil” explica o atual Cônsul-Geral de Portugal. O primeiro Cônsul foi António Cândido de Faria e “na altura era o Consulado do Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves”.

Com a independência do Brasil, pouco tempo depois foi criado o Consulado do Brasil em Marseille.

No ano passado, os dois Consulados – o de Portugal e o do Brasil – organizaram um concerto com o grupo musical Olisipo, com o programa “Héritage – Polifonias portuguesas da Catedral de Évora” para marcar precisamente três efemérides: os 200 anos do posto consular português, os 200 anos da independência do Brasil e os 100 anos de Eduardo Lourenço, que passou grande parte da sua vida nesta área consular.

A criação destes dois Consulados em Marseille “é claramente uma decisão que demonstra que o Porto de Marseille ocupava já, na altura, um espaço importante no comércio internacional, rivalizava com vários outros portos europeus e fazia bastante comércio com o Brasil, daí o interesse de Portugal e do Brasil de terem representantes aqui” disse ao LusoJornal Álvaro Esteves.

O Consulado português em Marseille sofreu várias vicissitudes, em função da situação histórica do país. “Por exemplo, no século XIX, é muito curioso verificar que a dada altura havia dois Cônsules nomeados em Marseille, um partidário de D. Miguel e o outro partidário de D. Pedro. Os dois não ocupavam o mesmo espaço, naturalmente, e não se sabe exatamente que funções tinham”.

Na altura, a carreira consular não era profissionalizada como é hoje. Alguns eram enviados de Portugal, outros eram pessoas destacadas com ligações a Marseille, alguns eram franceses que trabalhavam por conta do Reino de Portugal. “Em 1990 passou a ser Consulado de primeira ordem e mais tarde passou a Consulado-Geral” confirma Álvaro Esteves.

Até aos anos 90, quando passou a ocupar as atuais instalações – era na altura Cônsul-Geral Miguel Pires – o Consulado português ocupou vários edifícios em Marseille, alguns deles em zonas nobres da cidade.

“Esta área consular sempre foi bastante grande, houve alturas em que incluiu Lyon e Argel, quando a Argélia era francesa. Em cercas alturas, Toulouse estava incluído, mas entretanto saiu, mas manteve Carcassonne… Atualmente tem a configuração que conhecemos, que vai mais ou menos de Montpellier até à Córsega” diz o Cônsul Geral Álvaro Esteves. “Também o Consulado da Córsega teve várias vicissitudes: já foi em Bastia e em Ajaccio, já foi Consulado, Vice-Consulado, Escritório Consular e agora é Consulado Honorário. Ou seja, a área consular foi-se adaptando”.

Embora Marseille seja a cidade escolhida para aí instalar a sede do posto consular, a verdade é que a Comunidade portuguesa está bastante pulverizada, na região de Montpellier, Nice, Cannes, Beausoleil – uma cidade junto ao Mónaco, cuja população com origem portuguesa representa cerca de 40%.

Álvaro Esteves, que era diplomata na Embaixada de Portugal em Paris antes de se mudar para Marseille, é também Cônsul-Geral de Portugal no Mónaco. Também já foi Adjunto do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, pelo que conhece bem a instituição.

Para ajudar Álvaro Esteves a desempenhar as suas funções, a área consular tem quatro Cônsules honorários: em Montpellier, Ajaccio, Mónaco e Nice. “Como o Presidente da região PACA costuma dizer, esta é uma região do tamanho de um país e a Comunidade portuguesa é muito dinâmica”.

A nível empresarial, a região acolhe uma delegação da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa (CCIFP), cujo Presidente atual é o advogado Jorge Constante Mendes, e duas universidades da região têm Departamentos de Português: Sophia Antipolis e Aix-Marseille. Eduardo Lourenço viveu em Vence et uma cátedra com o seu nome foi inaugurada na Universidade de Aix-Provence, cuja diretora é Ernestina Carreira.

“Julgo que devemos ter aqui umas 20 associações relativamente ativas. No ano passado, 5 a 6 delas foram apoiadas no quadro do programa de apoios da DGACCP e continuamos a divulgar esses apoios já que ainda há associações que desconhecem o concurso e outras acham que estes apoios não são para elas” diz o Cônsul-Geral ao LusoJornal. “Por exemplo, no quadro deste programa podem ser apoiados grupos de folclore. Sabemos como são caros os trajos e os instrumentos e por isso as associações devem candidatar-se”.

Álvaro Esteves diz que as autoridades locais têm uma “muito boa imagem” da Comunidade portuguesa. “É uma Comunidade muito bem integrada, aliás como em toda a França. Os portugueses são trabalhadores, bem integrados, respeitadores da lei, não há efetivamente algo a assinalar de negativo e às vezes também não há algo que que se possa dizer que seja extraordinário, somos relativamente modestos, relativamente discretos e é essencialmente esse quadro que me é transmitido” diz ao LusoJornal. “Mas é um quadro que todos nós conhecemos em toda a França”.

O Consulado-Geral de Portugal em Marseille praticamente não tem prazos de espera para atendimento. “Haverá sempre situações pontuais, quando temos uma baixa médica de um funcionário, é normal que haja um período de maior espera, que temos sempre de compensar. Felizmente contamos com funcionários muito empenhados e extremamente capazes, que se ajudam mutuamente e quando um não pode, o outro ocupa o lugar e trata dos processos do funcionário que está incapaz, por algum momento, de o poder desempenhar”.

No total, este Consulado Geral de Portugal tem 10 funcionários: 7 trabalham em Marseille, dois em Nice e um em Ajaccio.