Saúde: Na área da Coloproctologia, o estigma em procurar especialistas ainda predomina


Parece inacreditável, mas ainda temos estigmas quando falamos de alguma patologia da área da coloproctologia.

Os problemas da região perianal, por exemplo, ainda causam constrangimento e receio entre as pessoas. Muitas deixam de procurar ajuda médica por vergonha ou até medo do exame. Por isso é que é tão importante falarmos sobre este tema e informarmos as pessoas dos riscos que correm quando não procuram ajuda. E é ainda mais importante quando estamos perante sintomas que são considerados leves.

No consultório, encontro muitas pessoas que sofrem há vários anos e não procuram ajuda. A doença hemorroidária é uma dessas situações, em que as pessoas acabam por se acostumar a algo que não é, de todo, normal, como ter pequenas quantidades de sangramento após as evacuações. Depois, se há períodos de melhoria da situação, as pessoas esperam simplesmente que o problema desapareça.

Por se tratar de uma doença lenta e progressiva, esta agrava-se cada vez mais. No fim de tudo, o que as pessoas mais perdem é a sua qualidade de vida. A maioria das doenças coloproctológicas não são difíceis de identificar pelo especialista.

A informação médica é muito importante. As pessoas têm de saber o que se passa e conhecer os seus problemas. Nas redes sociais, a informação médica é uma realidade e está a ganhar terreno, mas as pessoas devem ter o bom senso de saber quem ouvir e onde procurar as informações. Acredito que seja papel dos médicos disponibilizar conteúdo de qualidade e confiança para a população.

A doença mais frequente da área de coloproctologia é a doença hemorroidária, no entanto, a mais perigosa é o cancro de intestino. Um facto importante é que os sintomas de uma hemorroida podem mascarar um cancro e, assim, atrasar o diagnóstico. Por isso, é importante que os pacientes conversem com o médico sobre qualquer sintoma, mesmo quando acreditem ser relacionado com hemorroidas.

Atualmente, temos técnicas minimamente invasivas que curam o problema de forma simples, com recuperação rápida e menos dor. A minha abordagem enquanto coloproctologista engloba a visão clínica e cirúrgica. Vejo o doente como um todo, procurando perceber as causas do problema e a melhor abordagem. Assim, o segredo dos bons resultados é a individualização e a técnica certa.

Hoje já é possível fazer cirurgia das hemorroidas sem cortes ou corrigir diversos problemas com o auxílio de dispositivos médicos modernos, como o laser, por exemplo. São diversas as possibilidades de tratamento, tanto no que diz respeito às hemorroidas, como às fístulas e quistos pilonidais.

Outras doenças muito comuns são fissura anal, fístula anoretal e quisto sacrococcígeo ou pilonidal. Em todo o caso, as pessoas devem ter em atenção que, ao menor sintoma (como sangramento, alteração do padrão intestinal ou presença de tumefações na região perianal), devem procurar um médico.

De acordo com a minha experiência, consigo avaliar a necessidade ou não de cirurgia e, muitas vezes, indico e faço tratamentos não cirúrgicos, pois acredito ser o melhor para o paciente. Ter uma visão clínica e cirúrgica da doença é fundamental para o sucesso, sobretudo quando a principal preocupação das pessoas é saberem se terão ou não de passar por uma cirurgia. Ao descobrirem que as podemos ajudar com técnicas muito mais simples do que imaginavam, ficam muito felizes.

A prevenção das doenças coloproctológicas é possível em grande parte dos casos. Tudo começa num funcionamento intestinal regular e, para isso, existem três atitudes que podemos ter. A primeira, é mantermos o nosso corpo hidratado, com a ingestão mínima de água de dois litros por dia. A segunda, está na alimentação adequada, com o consumo de fibras naturais e evitando alimentos processados. Por último, está o exercício físico regular. Nós temos que fazer a nossa parte para ter uma vida com saúde e, quando for preciso, contar com a ajuda dos médicos.

Dra. Milena Liorci

Cirurgiã Geral

LusoJornal