Saúde: Insuficiência Cardíaca – porque é que tantos doentes desconhecem que têm este problema


Estima-se que em Portugal mais de 700 mil pessoas com mais de 50 anos vivam com insuficiência cardíaca. No entanto, cerca de 90% desconhece que tem este problema de saúde.

Existem 2 razões principais que justificam este último número: a falta de conhecimento da população sobre o que é a Insuficiência Cardíaca – apesar desta ser a principal causa de internamento acima dos 65 anos e de apresentar uma taxa de mortalidade superior a muitos cancros – e a dificuldade que alguns médicos enfrentam para estabelecer o diagnóstico.

De forma a explicar o que é a Insuficiência Cardíaca, pode dizer-se que esta se desenvolve quando o coração não consegue bombear o sangue para o resto do corpo como deveria. As principais razões para que o coração não funcione corretamente são, por exemplo, problemas do músculo cardíaco, problemas das válvulas cardíacas, cicatrizes causadas por enfartes ou pressão arterial elevada. Por causa disso, os órgãos recebem menos sangue e os líquidos tendem a acumular-se nos pulmões, pernas e abdómen e, consequentemente, os doentes com Insuficiência Cardíaca sentem-se fracos, cansados ou com dificuldade para respirar. O desempenho de atividades diárias simples como caminhar, subir escadas ou carregar sacos de compras pode tornar-se bastante difícil. Para além disso, a Insuficiência Cardíaca pode manifestar-se através do aparecimento de inchaço (edema) das pernas, tornozelos, pés ou do abdómen ou de ganho de peso devido a retenção de líquidos.

Assim, o aparecimento destes sintomas deve levantar a suspeita de insuficiência cardíaca e justificar a marcação de consulta médica especializada de forma a confirmar ou excluir este diagnóstico. A confirmação do diagnóstico é muito importante porque já existem vários tipos de tratamentos que podem trazer grandes benefícios aos doentes.

Para confirmar o diagnóstico, para além da presença de sintomas, é preciso realizar alguns exames dos quais se destacam o eletrocardiograma, o ecocardiograma e uma análise sanguínea muito útil que quando se encontra normal praticamente excluí o diagnóstico de Insuficiência Cardíaca, chamada NT-proBNP. No entanto, nem todos os médicos conseguem pedir estes exames com facilidade. Quando pedida pelos Médicos de Família (Medicina Geral e Familiar) que exercem no Sistema Nacional de Saúde esta análise não é comparticipada. No caso do ecocardiograma, quando pedido pelos Médicos de Família, apenas uma parte do exame é comparticipada, resultando em exames incompletos e que, em muitos casos, não permitem retirar conclusões suficientes.

Estes fatores contribuem para o atraso no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento, o que muitas vezes leva a internamentos que seriam evitáveis. Existe a expectava que a nova organização do Sistema Nacional de Saúde em Unidades Locais de Saúde conduza a maior e melhor acessibilidade a estes exames, de forma a que seja possível diagnosticar e tratar os doentes mais cedo.

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Dr. João Agostinho

Cardiologista

Sociedade Portuguesa de Cardiologia

LusoJornal