LusoJornal | Carlos Pereira

Dificuldades económicas: o foco da Université Clermont Auvergne


Depois do anúncio público das dificuldades financeiras da Université Clermont Auvergne (UCA), LusoJornal entrevistou Daniel Rodrigues, vice-doyen e responsável do departamento de português da UCA, sobre a ameaça do ensino de português, neste clima inflacionário.

No seu escritório no rés-do-chão da Faculdade de línguas da UCA, Daniel Rodrigues é claro: “o nosso Presidente Mathias Bernard, está a caminhar para a pluridisciplinaridade, pelo que o ensino de português nos nossos cursos não está em perigo. Criámos um lugar de docente (Maître de conférences), um novo Leitor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) ira substituir o atual Leitor do Instituto Guimarães Rosa. Portanto, a universidade acredita em nós”.

“O único obstáculo é sobretudo de propor um projeto educativo todos os 5 anos, ao Governo francês, através do Haut Conseil de l’Évaluation de la Recherche et de l’Enseignement Supérieur (HCERS), porque a acreditação que nos foi concedida expira em 2027, tendo obviamente em conta o problema económico atual e a necessidade de diversificação da UCA. O ensino está, portanto, a tornar-se menos tubular, e os estudos portugueses não estão fechados a uma abertura para o direito, por exemplo. Neste sentido, criámos um curso conjunto com o Brasil, mais especificamente com a Universidade de São Paulo e no âmbito da nossa estratégia de promoção, abrimos uma página LinkedIn e Facebook. Continuaremos também a fazer seminários através da Cátedra Sá Miranda, e temos duas teses de doutoramento em curso, uma da Leitora do Instituto Camões, Andrea Teixeira Faria e outra minha, para podermos orientar a investigação no futuro”.

Interrogado sobre as origens das dificuldades pecuniárias da Universidade, o “Vice-doyen” respondeu que eram devidas as novas ofertas de cursos, que precisam de ser atualizadas. Também e sobretudo, pela inflação do preço das instalações da UCA, que explodiu. Os salários dos funcionários públicos também não foram aumentados de acordo com as tabelas salariais, pelo que a universidade teve de recorrer a subsídios estatais para os manter. “A política pública está, portanto, a pôr em perigo a Universidade, mas temos de nos preparar para o futuro, tendo em conta as grandes dificuldades geradas pela questão da instabilidade política. Paradoxalmente, a redução da oferta educativa é a solução instantânea para as reações das autoridades políticas” conclui Daniel Rodrigues.