Saúde: Alergia às proteínas do leite de vaca


A alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais frequente nos primeiros anos de vida e resulta de uma resposta do sistema imunológico às proteínas existentes no leite de vaca.

É em regra uma condição transitória e só num limitado número de casos persiste para além do segundo ano de vida.

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Quais os sintomas de alergia às proteínas do leite de vaca?

Devemos suspeitar de alergia às proteínas do leite de vaca em todas as pessoas que apresentem um ou mais dos sintomas que surjam de forma imediata (até cerca de 2 horas após a ingestão/contacto):

– Imucocutâneos (vermelhidão, comichão, manchas/babas vermelhas e/ou inchaço)

– Respiratórios (corrimento nasal, espirros, congestão nasal, pieira/chiadeira, tosse e falta de ar);

– Gastrointestinais (vómitos e diarreia);

– Cardiovasculares (hipotensão, taquicardia, perda de conhecimento – “desmaio”, choque) de forma isolada ou em associação com sintomas de diferentes sistemas orgânicos (anafilaxia); ver outros: sinais ou sintomas de anafilaxia ou outras manifestações alérgicas sistémicas.

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Ou, de forma não imediata (2 a 48 horas após a ingestão/contacto):

– Mucocutâneos (vermelhidão, comichão, manchas/babas vermelhas eczema atópico);

– Gastrointestinais (refluxo gastroesofágico, vómitos e diarreia, fezes muito moles e frequentes, sangue ou muco nas fezes, dor abdominal, recusa alimentar, obstipação, fezes normais com esforço defecatório excessivo, ou eritema perianal).

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O tratamento passa pela evicção de ingestão/contacto de Proteínas Leite Vaca e/ou substituição das mesmas na dieta, por proteínas de leite de vaca modificadas/fragmentadas ou por outras bebidas substitutas, de modo a evitar reações.

A mãe deve assim evitar o consumo de todos os alimentos e bebidas que contenham PLV (leite, iogurtes, queijos, natas …) e deve aprender a ler os rótulos de forma a evitar o consumo. São exemplos de nomenclatura nos rótulos: Queijo, Requeijão, Lactalbumina / fosfato de lactalbumina, Lactoglobulina, coalho de caseína, soro / soro de leite…)

De salientar, também, a necessidade de evitar ingestão/contacto com outros leites, como o leite de cabra e de ovelha (e respetivos queijos), devido a risco de poderem desencadear reação (reatividade cruzada).

Adverte-se também que suplementos proteicos com o objetivo de aumentar massa muscular, a maioria são compostos total ou parcialmente por proteínas do leite, sendo frequentes nestes produtos as designações “casein”ou “whey”.

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A alergia pode variar desde formas ligeiras a formas muito graves, de início muito rápido a mais tardio.

A APLV mediada por anticorpos IgE é a mais comum, sendo uma reação imediata com início geralmente nos primeiros 30 minutos e até 2 horas após a exposição ao alimento. A anafilaxia reação alérgica mais grave podendo levar à morte do bebé.

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É importante distinguir APLV de intolerância à lactose, duas entidades clínicas distintas.

A intolerância à lactose (açúcar do leite) não é uma reação do sistema imunitário. A intolerância à lactose origina sintomas digestivos como sensação de má digestão, barriga inchada, cólicas ou diarreia, mas não reações graves como as que podem resultar da alergia ao leite. Normalmente não é necessária uma dieta rigorosa, mas apenas a redução da ingestão de alimentos contendo lactose.

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Dra. Ana Castro Neves

Imunoalergologista

Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC)

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