Saúde: Contraceção masculina


A população mundial aumenta 80 milhões de pessoas por ano, sendo estimados 9 mil milhões de pessoas em 2050.

Cerca de 50% das gravidezes não são planeadas o que acarreta um elevado impacto psicológico e socioeconómico.

Existe ainda dificuldade de acesso a contraceção adequada bem como falta de informação adequada.

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Tendo em conta que os contracetivos masculinos disponíveis, de momento, são apenas o preservativo e a vasectomia, Portugal é culturalmente um país com uma baixa prevalência de vasectomia, no entanto, tem-se notado um aumento destes números, maioritariamente às custas da população residente estrangeira.

O gel hormonal é um método contracetivo que se encontra ainda em fase de estudos clínicos, não estando, por isso, disponível no mercado, sendo, de momento, considerado experimental.

A vasectomia é um pequeno procedimento cirúrgico, realizado em contexto de ambulatório, consistindo numa pequena incisão no meio da bolsa escrotal, a partir da qual é feita a laqueação seletiva e bilateral dos ductos deferentes, que são as estruturas tubulares responsáveis por conduzir os espermatozoides desde os testículos. Ao laquear estas estruturas, deixa de ser possível emitir espermatozoides para o exterior. É um procedimento simples e bem tolerado, com uma taxa de sucesso de 99%. Já realizei inúmeras vasectomias e a esmagadora maioria dos doentes ficou satisfeito.

Quando se decide realizar uma vasectomia é fundamental assumir que é um processo irreversível, razão pela qual se faz, no entanto, é possível revertê-la com recurso a microcirurgia.

A cirurgia de reversão de vasectomia é uma cirurgia laboriosa e tecnicamente difícil que consiste em unir novamente os topos dos ductos deferentes laqueados (vasovasostomia), ou então unir o topo proximal diretamente ao epidídimo (epididimovasostomia). As taxas de sucesso chegam aos 90% estando condicionadas pelo tempo até à reversão, caindo drasticamente após 15 anos da vasectomia.

O número de vasectomias tem vindo a aumentar maioritariamente na população residente estrangeira, no entanto, vemos que homens portugueses, geralmente após os 40 anos de vida, já começam a procurar o procedimento como método contracetivo, nomeadamente na população mais bem informada.

A pilula pré sexo (meia hora ante do ato sexual) conceptualmente é interessante. O seu efeito assenta em bloquear o movimento flagelar dos espermatozoides impedindo assim a sua progressão e a sua chegada ao destino (o óvulo), impossibilitando a fecundação. No entanto, ainda só foi testado em ratos, pelo que, na prática clínica, não é possível, de momento, avaliar a sua eficácia.

Os únicos métodos disponíveis, atualmente, como contracetivos masculinos, são o preservativo e a vasectomia.

O perfil do utilizador é tipicamente o homem na quarta ou quinta década de vida, que já terminou a paternidade, muitas vezes em relações estáveis. Maioritariamente são homens bem informados, mais diferenciados, provenientes de ambientes urbanos.

O método recomendado é uma questão decidida com cada paciente que deve optar por um método reversível ou permanente. Fundamentalmente é necessário deixar claro que a decisão sobre uma vasectomia deve ser assumida como irreversível. Por outro lado, é também necessário esclarecer que, dentro dos métodos irreversíveis, ou seja, vasectomia vs laqueação tubária na mulher, a vasectomia é um método muito mais simples, seguro, eficaz, com menores complicações e mais económico.

Desde os anos 70 que se estuda a possibilidade de uma contraceção hormonal masculina, essencialmente à base de testosterona ou derivados e progesterona, com o objetivo de abolir a espermatogénese. Existem alguns estudos em curso, com resultados promissores, mas ainda não concluídos. Adicionalmente, existem também estudos, em curso, de contraceção não hormonal, que consistem na injeção de substâncias dentro dos ductos deferentes, com o objetivo de “obstruir” a passagem dos espermatozoides. De salientar que todos estes estudos se encontram em fase experimental.

O desenvolvimento de um novo fármaco ou dispositivo requer um grande investimento por parte da indústria e uma população pequena, como a portuguesa, não o justifica nem é apelativo. Por outro lado, a investigação realizada em Portugal sobrevive com poucos recursos, sendo muitas vezes difícil iniciar novos projetos. No entanto, a comunidade científica e clínica portuguesa mantém-se atenta aos novos desenvolvimentos e numa esfera de globalidade é possível manter-se atualizada e a par de todas as opções disponíveis a cada momento.

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Dr. Pedro Oliveira

Urologista/andrologista

Clínica Longeva

LusoJornal