Simone Cannova

20 anos do LusoJornal: “Fracasso na Festa da Música de 2018”


Mensagem de Carlos Balbino,

Encenador, etnomusicólogo, Diretor da Compagnie des Rêves Lucides e fundador do Grupo Cantadores de Paris.

.

Estamos a 21 de junho de 2018 e a França inteira celebra a Festa da Música. Os Cantadores de Paris vêm de fazer um documentário com o realizador mediático Tiago Pereira, e preparam-se para gravar um disco em estúdio para reunir alguns dos grupos e artistas mais influentes do Cante Alentejano contemporâneo.

Apenas com dois anos de existência, parece-nos importante comemorar a Festa da Música com o resto do país – marcámos encontro em frente ao Sacré Coeur de Montmartre e divulgámos a informação: “Venham, vai haver concerto gratuito de Cante Alentejano na capital francesa!”

Temos a confirmação de amigos, familiares, personalidades políticas e, claro, contamos com o LusoJornal.

Dez minutos antes do concerto, carregando uma câmara de filmar no intuito de fazer reportagem para a RTP Internacional, o Diretor do jornal, Carlos Pereira, aparece esgotado no topo das escadas da Basílica do Sacré Coeur. Hoje é dia de calor intenso, algumas zonas de Paris atingindo perto dos 40°C. Enquanto recupera o fôlego, o Diretor do LusoJornal percebe que estamos sozinhos, um Carlos a olhar para o outro: “Onde estão os outros?”.

Trajado e transpirando, explico-lhe que recebi a notícia de várias desistências: questões de saúde, dificuldade em aguentar o calor, greve de transportes… Está tudo atrasado. Não sei quantos seremos, nem a que horas vamos começar. Face a esta situação imprevista, Carlos Pereira pergunta-me se considero pertinente fazer artigo e reportagem nestas condições, e decidimos “guardar os cartuchos” – expressão que utilizou – para outra ocasião. Ficámos um pouco à conversa, enquanto os outros cantadores vão chegando, e acabámos por nos despedir. Os Cantadores de Paris, reduzidos apenas a quatro ou cinco elementos, mantêm o compromisso e cantam diante de turistas asiáticos aplicados em filmar este momento com os seus telemóveis. O sol continua a bater forte e, uns quarenta minutos mais tarde, vamos todos para um café com um grupinho que se reuniu à nossa volta.

Este episódio celebra a relação que o LusoJornal – na pessoa de Carlos Pereira ou de outros jornalistas – tem tido com os projetos da nossa associação, a Compagnie des Rêves Lucides, desde que a sua fundação em 2014.

O LusoJornal tem acompanhado o nosso percurso de perto nos momentos de sucesso, mas também nos momentos de adversidade. Se eu tivesse mão no futuro, apenas desejaria que o LusoJornal continuasse a apoiar os pequenos projetos artísticos franco-portugueses que vão surgindo, independentemente da popularidade que venham a ter. Porque, parece-me que a receita para o sucesso ainda está por ser encontrada. Venham de lá mais vinte anos!

Obrigado por tudo.

LusoJornal