Saúde: Seja empático mas com precaução_LusoJornal·Saúde·21 Outubro, 2024 A empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. É uma capacidade que nos permite compreender as outras pessoas e compartilhar do seu estado emocional e mental. Quando sentimos empatia, conseguimos adotar a perspetiva do outro e podemos tentar sentir as suas emoções. É como o tal ditado que diz “calçar os sapatos do outro e ver onde os calos apertam”. A empatia não é um fenómeno apenas psicológico, mas sim também neurobiológico. A descoberta dos neurónios-espelho permitiu compreender melhor o fenómeno da empatia e as suas origens mais profundas no cérebro. O que permitiu descobrir que naturalmente existem pessoas mais ou menos empáticas. A empatia não existe na mesma dose para todos. A empatia beneficia a nossa relação com os outros, a nossa relação com o mundo. E essa empatia vai-se desenvolvendo desde a infância, através de experiências individuais, sociais, culturais e ainda por fatores genéticos. A empatia permite-nos uma maior conexão emocional, porque sentimos respostas emocionais imediatas que refletem o que a outra pessoa está passando. Permite-nos uma compreensão cognitiva, porque colocamo-nos conscientemente no lugar da outra pessoa e tentamos ver a situação do ponto de vista dela. A empatia beneficia as relações humanas pois ajuda a resolver conflitos e a construir relacionamentos duradouros. Contudo, tudo o que existe em demasia pode prejudicar-nos. Quando usamos a empatia de forma excessiva, corremos o risco de absorver as emoções dos outros como se de nossas emoções se tratassem. A empatia é-nos prejudicial quando permitimos que se torne mais forte que nós mesmos, ou seja, quando a vontade de ajudar o outro, de lhe tomar as dores, nos impede de racionalizar e perceber os limites do nosso alcance. É ainda quando queremos resolver os problemas dos outros e deixamos os nossos para trás. É quando nos anulamos porque queremos agradar ao outro. É quando permitimos que os outros venham sempre em primeiro lugar e nós nos colocamos no último. É quando o que os outros sentem e pensam se torna mais importante que aquilo que nós pensamos e sentimos. . A empatia mal aplicada ou levada ao extremo pode ter impacto negativo como por exemplo: Angústia empática: ocorre quando nos sentimos sobrecarregados pelas emoções da outra pessoa. Envolvemo-nos tanto emocionalmente que isso começa a afetar os nossos sentimentos e o nosso estado mental. Isso pode-nos levar ao esgotamento emocional e à diminuição do nosso bem-estar emocional. Sofrimento pessoal: decorrente da anterior, quando a empatia é demasiado intensa, pode resultar em sofrimento pessoal. O que significa que em vez de conseguir ajudar o outro, ficamos emaranhados nas nossas próprias emoções negativas, o que dificulta o apoio ao outro. Drenagem emocional: especialmente em ambientes profissionais ligados à saúde ou profissões de alto grau de empatia, existe o risco de esgotamento emocional. Quando constantemente expostos ao sofrimento dos outros, torna-se inevitável algum impacto nas reservas emocionais de quem se dedica aos outros. Tomadas de decisão tendenciosas: o excesso de empatia pode-nos obscurecer o julgamento e levar-nos a tomar decisões baseadas nas emoções e não no pensamento racional, o que poderá levar a escolhas menos adequadas. Tudo na vida tem de ter um equilíbrio e a dose de empatia também. Ou seja, devemos usar da nossa empatia sempre, até ao limite em que não nos prejudiquemos. Até ao limite em que não nos coloquemos em último na nossa vida. Até ao limite em que somos mais amigos dos outros do que de nós próprios. E o grande perigo do excesso de empatia é entrarmos em relações tóxicas, precisamente com pessoas com pouca empatia. . Dra. Ana Evaristo Psicóloga, Clínica da Mente