Carlos K. Debrito acaba de publicar “Ecrire, Admittatur et imprimatur”

O novo livro em francês, de Carlos K. Debrito “Ecrire, Admittatur et imprimatur” editado pelas edições l’Harmattan, já está à venda desde o mês de junho. O autor português radicado em Paris, descreve-o como sendo uma reflexão sobre a escrita. “Uma escrita no singular em que eu fui buscar alguns autores de que apreciei particularmente a obra e no plural alguns movimentos (futurismo, surrealismo, pós-guerra, etc) que se exprimiram também através da escrita e apartir de aí passei um fio condutor que permite dizer porque é que se escreve hoje e os problemas de hoje”.

O escritor aponta para a internet, os meios sofisticados, onde a palavra escrita acaba por perder algum sentido, tendo um sentido diferente no papel. “Eu tento sempre pôr a questão de não dar respostas. Foi sempre assim que eu encarei a literatura, dar respostas não me interessa, eu gosto de um escritor que me interrogue, que me ponha dúvidas, quando não conheço uma palavra vou ao dicionário. Na minha escrita há sempre um desejo de reflexão. Ter a sensação de que nada está dito na totalidade, que há sempre algo que se pode dizer a mais”, afirma convicto.

“Ecrire, Admittatur et imprimatur” vem também já de todo um trabalho feito inicialmente em Portugal, onde colaborou vários anos com a editora lisboeta: Antígona. A editora foi conhecida pelos seus textos “marginais, subversivos, malditos” e para a qual escreveu vários prefácios.

De pais bracarenses, e sobretudo de uma mãe bibliotecária, cresceu naturalmente no meio dos livros. “Já escrevia no jornal do liceu e nunca mais acabei. Como contestava muito na altura contra o fascismo, assinava com K, e então punha sempre um K do Kafka e foi assim que nasceu o meu nome literário”, explicou ao LusoJornal.

Finalmente acabou por escolher a medecina. “A escolha da psiquiatria não é anónima porque havia o lado científico, e por outro lado, o lado filosófico e literário, e cruzaram-se os dois”.

Estudou em Lisboa e em 1973, devido ao regime, instala-se em Bruxelas, onde ficou 10 anos antes de regressar a Lisboa e só muito mais tarde, em 1989 vem morar para Paris.

Foi no seguimento de alguns estágios na capital francesa, que teve um convite para vir trabalhar a sul de Paris, em Sainte Geneviève-des-Bois e em Juvisy, onde ainda exerce atualmente.

Carlos K. Debrito também é Chefe de redação adjunto na revista francesa “L’évolution psychiatrique” desde há vários anos e que corre o risco de passar a existir apenas em formato digital.

Uma vez mais, com a medecina consegue conciliar a sua paixão da leitura e da escrita, e de acordo com o que diz, não se pode trabalhar sem pensar e daí a escrita.

“A psiquiatria é fundamental. Fazer psiquiatria numa rotina é uma coisa, mas acompanhá-la por uma reflexão filosófica, literária, cultural e sociológica é outra”. Há o fazer e o pensar no que se faz. Uma reflexão permanente. “Foi o que fiz a nível literário. Não estar sempre no campo das certezas científicas”.

Define-se como alguém que sempre foi ávido pelo conhecimento em geral, e a sua regra foi sempre ler, para abrir novas portas.

Do autor conhecemos também o único romance que escreveu: “Retour à Lisbonne”, mas prefere não ousar enveredar por esse caminho, assim como “Somnambule”, em 2015, no qual o autor pôs-se do outro lado do espelho, e fez um monólogo interior de um doente mental, que se interroga sobre a sua existência.

Atualmente com 65 anos e com a dupla nacionalidade, não planeia ir viver para Portugal. “Sou um cidadão do mundo, entre Lisboa e Paris”. Espera contudo poder trabalhar até aos 70 anos e mantém um “laço bom e importante” com o seu país natal, onde costuma ir todos os anos.

Ex-Diretor de clínica e atualmente Chefe de serviço no EPS Barthelemy Durand, onde sempre trabalhou, confessa que precisa de ler todos os dias. “Escrever faz parte do lado mais lúdico, é mais aos fins-de-semana que costumo escrever, mas não vivo disso, por isso não sacrifico a minha vida pessoal”.

Contudo evocou o próximo livro, cuja data ainda está longe de estar definida. “Será sobre a I Guerra Mundial, com personagens portuguesas e por conseguinte vou me basear em Portugal. Não consigo escrever um romance! No fundo é mais um trabalho de reflexão à volta de um acontecimento. Mas não provoco as coisas, vou escrevendo livremente”, insiste.

A seguir ao verão irá apresentar em português este seu último livro em Lisboa, na livraria Letra Livre, junto de alguns amigos, cuja geração foi marcada pela literatura francesa.

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LusoJornal