A Associação Cultural Portuguesa de Neuilly-sur-Seine está de parabéns

A Associação Cultural Portuguesa de Neuilly-sur-Seine (92) festeja, este ano, o seu trigésimo quinto aniversário. Fundada em 1984, tinha como objetivo promover a língua e a cultura portuguesas através do ensino, do teatro, do folclore, da música, dos livros, do desporto e de outras formas de expressão vocacionadas para o desenvolvimento das raízes culturais daqueles que, por um motivo ou por outro, foram levados a abandonar o país que os viu nascer, “buscando a sorte noutras paragens, noutras aragens, entre outros povos” (*).

Fazendo jus ao seu nome, e volvidos que vão trinta e cinco anos, a ACPN mantém o mesmo rumo, sem se desviar do seu objetivo primeiro, embora com métodos e pessoas diferentes, o que é normal.

Não é fácil reduzir a uma ou mesmo duas páginas todo o manancial que as inúmeras e variadas atividades da ACPN nos oferecem, tendo sobretudo em vista a importância que tem o espaço e as contingências impostas pela ocupação desse espaço num periódico tão popular. Tentaremos, por isso, ser tão concisos quanto possível e ao mesmo tempo abordar o maior número possível de assuntos, que ordenaremos por temas.

Assim, merecem destaque muito particular e de relevante importância as atividades ligadas à promoção e desenvolvimento da Língua e da Cultura Portuguesas, designadamente através da organização de aulas de Português a nível do ensino secundário – do 5º ao 12º anos – que vem desde os primórdios da Associação, tendo conhecido um sucesso considerável e tendo permitido a muitos dos que frequentaram essas aulas, fazerem dos resultados obtidos um trampolim para ultrapassarem o patamar fatídico do BAC e acederem à Universidade ou para escolherem cursos que exigem notas mais elevadas.

Merece ainda destaque o apoio dado aos alunos para assistirem a concertos de artistas portugueses, que, em digressão ou vindos expressamente de Portugal, se produziram em salas ou espaços da região parisiense, dos quais citamos os Madredeus (no Théâtre de la Ville ), o Pedro Abrunhosa, os Resistência e Delfins (no Zénith), Pólo Norte (Divan du Monde), e os Deolinda e a organização de um concerto com a Orquestra Filarmónica Juvenil de Palmela, no Teatro de Neuilly.

Se o apoio aos jovens é uma prioridade, a ACPN não descura os pais nem os amigos. Basta lembrar algumas das excursões organizadas e muito concorridas, de que destacaremos a excursão às praias do desembarque da Normandia, com a participação de 225 pessoas, jovens e adultos, tendo outras tantas participado numa excursão a Deauville e Honfleur, sem esquecer o circuito do Débarquement com visita de Arromanches-les-Bains, Praia d’Omaha Beach, Pointe du Hoc, e do Cemitério americano, e, mais recentemente, a saída cultural a Provins.

Mas não podemos esquecer outras que, de tão habituais e integradas na vida da urbe, acabaram por adquirir, também elas, o estatuto de regulares – a festa de São Martinho e do seu concorrido Magusto, e o concurso de poesia “Hora do Poeta”, que ocorre todos os anos e que é aberto a jovens e adultos provenientes de todos os horizontes -, para citar apenas estes, se bem que muitas e diversificadas têm sido as atividades levadas a cabo pela Associação.

A ACPN não é um organismo fechado, voltado apenas para o seu umbigo. Na realidade, participa em iniciativas de outras associações e colabora com outros organismos, como o Fórum Cap Magellan, o Festival de Teatro Português em França, e participa ou organiza conferências – Noite da Lusofonia, com Paco de Sousa (Portugal), Ricardo Vilas (Brasil), Naka (Guiné Bisau), Dulce Matias et Juvino Santos (Cabo Verde), a conferência “Le Portugal, 40 ans après la Révolution des œillets” presidida por Yves Léonard, professor da escola superior de Ciências Políticas de Paris e por Patrick Gautrat, antigo Embaixador de França em Lisboa, conferência sobre Eça de Queiroz apresentada por Lucette Petit, professora na Sorbonne, com a presença do Cônsul Geral de Portugal em Paris, Pedro Lourtie, e exposições “Versailles et les Tables Royales en Europe”, “Oito séculos de História de Portugal”, “A Arte dos Azulejo” e “Azulejo” com as obras de Vítor da Ponte ou a exposição de Artes de Aurore de Sousa: “Terre Annoncée” e de Paulo Azenha: “Dieu créa la femme”, “Le Chiado de la Dramaturgie et de la Performance”, exposição organizada em colaboração com o Instituto Camões e com a Faculdade de Belas Artes de Lisboa.

A ACPN tem dado também particular apoio ao teatro, recebendo inúmeras peças na sala de teatro da cidade, no âmbito do Festival de Teatro Português, realizado pela CCPF: Citamos “Frei Luís de Sousa” de Almeida Garrett ou “Não Matem o Mandarim” de Eça de Queirós. Ofereceu o transporte e 40 entradas para a representação da peça “A Farsa de Inês Pereira” de Gil Vicente (peça integrada no programa curricular do 9° ano), representada por alunos da Associação Portuguesa de Montmorency, em Le Raincy; recebeu a companhia de teatro Trindade com a peça “O Jogo da Glória” no teatro de Neuilly-sur-Seine, e procedeu por inúmeras vezes ao encerramento do Festival de Teatro Português em França na sala de Teatro de Neuilly, designadamente com as peças “O Relato de Alabad” representada pelo Teatro Meridional, bem como “Fernando Pessoa, morte de um heterónimo”, “Quem Confia no casamento, “Entre deux roues”, “Mes Meilleurs Ennuis” de Guillaume Mélanie, “Le mystère du tableau volé”, e um one man show “José Cruz”, integrados no Festival “Tous en Scène” e “Les raviolis étaient fourrés au maquereau”, a Revista à portuguesa “P’ro diabo Kus Carregue – A Bagunçada à portuguesa”, uma revista chamada “Revist’Ó Fado: Na Tasca do Ti Carlos”, criada por António Pinto Bastos e Manuela Bravo.

Deve-se ainda à ACPN o lançamento de um projeto para a colocação de um busto de Eça de Queiroz numa praça em Neuilly-sur-Seine, com os apoios da Câmara Municipal desta cidade e das entidades oficiais portuguesas, tendo esse busto sido inaugurado na esplanada da avenida Charles de Gaulle, em Neuilly-sur-Seine, com a presença dos Presidentes das Câmaras de Neuilly et Lisboa, do Ministro português da Cultura e do Embaixador de Portugal em Paris.

Outro evento que vem sendo tradicional é a Noite de Fado. Realizada pela primeira vez no Théâtre de Neuilly, com os artistas Nuno de Aguiar e Manuela Cavaco, vindos diretamente de Portugal, e o grupo “Tudo isto existe, Tudo isto é Fado”, contou, ao longo das muitas edições, com a participação de nomes consagrados desta categoria de música, bem portuguesa, que mexe com as fibras do coração, quando se ouve. Pisaram os palcos do Teatro de Neuilly os artistas Lenita Gentil e Natalino de Jesus, o grupo “Tudo isto existe, tudo isto é Fado”, a fadista Cidália Moreira, o grupo “Os Quatro Cantos”, Carmo Rebelo de Andrade e o fadista Camané, Dulce Pontes e o grupo “Os Quatro Cantos”, Tereza Salgueiro e Joana Amendoeira, Mafalda Arnauth e os jovens fadistas Gonçalo Salgueiro e Liana, Ana Moura com o seu “Desfado”, e Ricardo Ribeiro.

Apresentação do filme “Gente do Salto, memórias da imigração portuguesa”, um filme sobre as favelas de S. Salvador de Bahia “Levanta-te!” apresentado pelo realizador Hubert Lagente.

Muitas foram as individualidades, portuguesas e francesas, civis, militares e religiosas que passaram por Neuilly-sur-Seine, em representação oficial ou pelo prazer de assistirem a eventos de reconhecida qualidade. Ocorrem nomes como António Monteiro e Francisco Seixas da Costa, Embaixadores de Portugal, Pedro Lourtie, Luiz Ferraz, Pedro Monteiro e João Alvim, Cônsules de Portugal em Paris, Ana Paula Moreira, Ministra Conselheira da Embaixada de Portugal, Carlos Gonçalves e Paulo Pisco, Deputados na Assembleia Nacional, Vítor Gil, Conselheiro social da Embaixada, Adelaide Cristóvão, Coordenadora do Ensino de Português em França, Carlos Vinhas Pereira, Presidente da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa e Nuno Cabeleira, Vice-Cônsul de Portugal em Paris, Nicolas Sarkozy e Jean-Christophe Fromantin, enquanto Presidentes da Câmara de Neuilly-sur-Seine, Francoise Deeschemaeker (fiel de entre as fiéis), Jacques Pirson, Marie Claude Le Floc’h, Patrick Gautrat, antigo Embaixador de França em Portugal, e Philippe Giry-Deloison, Serge Vallent-Garrot e Jean Sarkozy, Vice-Conselheiro Geral do Departamento Hauts-de-Seine, e tantas outras, que seria materialmente inviável mencioná-las todas.

Em 2013, José Leite, após 26 anos de bons e leais serviços na Presidência da associação, passou o testemunho a Ana Isabel Leite, na liderança da associação.

A Presidente da Associação, Ana Isabel Leite decidiu homenagear os membros fundadores da coletividade: Augusto Esteves, António Saraiva Registo, Augusto Pinto e Fernanda Pereira e prestou igualmente homenagem a dois dirigentes da ACPN, Manuel Coelho e José Leite (os dois nesta foto).

Foram mencionados estes, mas muitos outros merecem ser nomeados. Podiam ser Monteiro, Lóia, Calvão, Anjos e tantos, tantos, outros, pelo contributo precioso que deram ou continuam a dar ao projeto, que desejamos seja longo e profícuo e a quem desejamos um feliz aniversário.

 

(*) Manuel Freire, Ei-los que partem

 

LusoJornal