A extraordinária lenda francesa da Virgem Portuguesa Barbuda Crucificada

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E esta ein!

Lemos “a Santa padroeira dos infelizes, das mulheres infelizes no casal, das crianças que têm dificuldades em andar, é uma Santa Virgem Barbuda de origem portuguesa. A estátua desta santa está presente numa igreja de Wissant (Pas-de-Calais)”.

Mas afinal, de onde vem tal lenda?

A pesquisa feita conduz-nos a algo curioso e com diversas interpretações e origens.

A Virgem Barbuda é mais conhecida como sendo a Santa Wigeforte, do latim vigo fortis, “Virgem Forte”.

Wigeforte é venerada em França, nos departamentos do Norte, Pas-de-Calais e Seine Maritime. Também na Bélgica esta Santa é venerada.

São diversas as lendas sobre esta Santa. Portugal aparece em diversas das versões.

Segundo uma das lendas, Santa Wilgeforte teria vivido no século II da área cristã por volta de 135.

Era filha de um rei de Portugal, um pagão infiel cristão. Numa guerra com o Rei da Sicília, o Rei do que viria a ser Portugal, foi derrotado e teve de se submeter às condições de paz, que o vencedor ditou. Entre essas condições, o Rei da Sicília exigiu que Wilgeforte lhe fosse dada em casamento e fez todos os esforços para superar a recusa da jovem.

Nesta situação delicada, Wilgeforte, cuja beleza era elogiada, pediu a Deus que lhe tirasse a beleza e que descolorisse as rosas de seu rosto, para que ninguém mais encontrasse prazer, graça, ao olhar para ela.

As orações da bonita princesa tiveram o resultado pedido. Em vez de beleza, uma barba meio repugnante e pouco comum aparece-lhe desfigurando-a, tornando-a quase irreconhecível, não fossem os cabelos compridos que tinha.

O Rei da Sicília, em forma de vingança, denunciou a jovem virgem como cristã. Esta foi imediatamente levada a Tribunal onde recusou veementemente a oferta que lhe foi feita para que a sua vida fosse salva, sob a condição de que ela renunciasse à sua fé. Depois de sofrer vários tipos de espancamentos, Wilgeforte foi condenada a ser crucificada.

Outra lenda refere-se a Libérate ou Wilgeforte como sendo filha de um príncipe português. Um príncipe da Sicília, a quem alguns raros autores deram o nome de Amase, ficou encantado com a sua extrema beleza e a pediu-a em casamento. A Santa, que se tinha convertido há algum tempo ao cristianismo, ficou muito aflita e pediu ao divino esposo que transformasse a sua beleza em feiura. A sua oração foi atendida: os encantos do seu rosto desapareceram e deram lugar a uma enorme barba. Quando o pai a viu nesse estado, irritou-se violentamente contra os magos que, segundo ele, haviam operado essa metamorfose. A filha, revoltada, recusando a mão do príncipe, amarrou-a à cruz com cordas dizendo-lhe “ou mudas de ideia obedecendo ou morrerás”.

Santa Blandine, a jovem serva de Lyon, foi levada até uma arena, suspensa a um poste e dada às feras; Santa Julie, a padroeira da Córsega foi crucificada, Wilgeforte é sempre representada crucificada. As representações de Wilgeforte mostram-na com um vestido longo, com tranças de longos cabelos loiros e com barba lendária e milagrosa.

Outra lenda diz que Wilgeforte estava prestes a ser violada por soldados bêbados. Rezando para ser poupada, a jovem teria sido enfeitada com uma barba espessa, o que acabaria por assustar os seus agressores. Acusada de feitiçaria, Wilgeforte teria sido crucificada.

O trágico fim da Santa não a impediu de ser venerada. No entanto, os historiadores concordam que a Santa nunca existiu e que ela é apenas fruto de uma má interpretação iconográfica.

Na Itália e na Grécia existem antigas figuras bizantinas com Cristo na cruz, com um vestido no mínimo feminino… A mulher barbuda de Wissant seria talvez apenas uma deles, trazida até estas regiões no século XIV por um peregrino que regressava de Roma.

Wissant é, sem dúvida, um local por onde passava a peregrinação entre a Inglaterra e o Continente em direção aos lugares sagrados de Roma, Santiago de Compostela e Bolonha.

As várias descobertas e sinais de peregrinação no território municipal de Wissant testemunham disso. Entre todos esses achados, a descoberta em 1908, na praia, de uma pequena reprodução do crucifixo de Lucques, é de particular importância e permite compreender a presença em Wissant na igreja de Saint Nicholas de uma representação de Santa Wilgeforte.

Com efeito, existe naquela igreja uma estátua de Santa Wilgeforte, cujo rosto está decorado com barba e que é representado numa cruz com atitude de Cristo.

A lenda de São Wilgeforte, apelidada de Virgem Barbuda, pode ter tido origem em gravuras que foram encontradas no século XIX e no início do século XX. Uma cópia desta Santa está presente em quase todos os interiores das casas dos pescadores de Wissant.

Outras representações são conhecidas de Santa Wilgeforte. Citemos algumas:

Santa Wilgeforte está entronizada dentro da igreja de Saint Etienne de Beauvais há quase cinco séculos, muitas pessoas passam por ela sem a ver.

Na Igreja de Saint Sylvain ou Saint Georges, em Auchy-les-Hesdin, no Pas-de-Calais, existe uma representação de Santa Wilgeforte em escultura de gesso, datada entre os séculos XIII e XV.

Na igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Arques-la-Bataille, na Normandie, uma pintura datada do primeiro quarto de século XIX, representa Wilgeforte.

Hans Memling representou Santa Wilgeforte no revés tríptico de Adrien Reyns (1480 Bruges, Hospital de São João).

Os historiadores concordam que Wilgeforte nunca terá existido, tratando-se de uma lenda que terá aparecido tardiamente. Uma figura em trajes femininos, mãos amarradas na cruz, ocupando o lugar normalmente reservado a Cristo, coloca questão, coloca dúvidas. Wilgeforte tornar-se-ia uma rara santa crucificada em toda a cristandade, a tortura da cruz sendo normalmente reservada apenas para os homens.

Esta é uma surpreendente exceção?

 

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LusoJornal