Álvaro Simões Rodrigues critica estado do Cemitério Militar Português de Richebourg

Álvaro Simões Rodrigues, um colecionador que tem quatro mil objetos da Primeira Guerra Mundial em homenagem ao avô que foi soldado, criticou o estado do Cemitério Militar Português de Richebourg.

O colecionador falava à margem da cerimónia de homenagem aos combatentes portugueses da Grande Guerra que juntou os Presidentes português e francês, Marcelo Rebelo de Sousa e Emmanuel Macron, no Cemitério onde estão as campas de 1.831 portugueses.

«Meteram umas plaquinhas agora em cima das campas, mas nem conseguiram acabar. É uma vergonha. As campas estão todas tortas, não tem nada a ver com os cemitérios ingleses», lamentou o português de 72 anos que veio para França há 54 anos.

Foi também há 54 anos que começou a colecionar objetos relacionados com a Primeira Guerra Mundial, em memória do avô que aí combateu e de três primos do seu pai, dois dos quais estão enterrados em Richebourg e onde, na segunda-feira, colocou duas bandeiras portuguesas.

Em 11 de junho de 2016, aquando da visita a este cemitério pelo Presidente da República e pelo Primeiro-Ministro, Álvaro Simões Rodrigues chamou António Costa e foi mostrar-lhe o estado das lápides de granito, muitas delas apagadas, pedindo-lhe para intervir na reparação.

Dois anos depois, para o Centenário da Batalha de La Lys, foram colocadas em cima das lápides pequenas placas em metal com o nome dos soldados, houve obras para limpar o portão de ferro forjado, o altar e as paredes do cemitério estão hoje sem as placas comemorativas que foram sendo colocadas ao longo dos anos e das visitas de diferentes personalidades.

Entre armas, uniformes, capacetes, cartucheiras e cartas de amor, são cerca de quatro mil os objetos que Álvaro Simões Rodrigues juntou em homenagem ao avô, pescador de bacalhau, que foi feito prisioneiro pelos alemães em 1917, mas viria a integrar o Corpo Expedicionário Português como soldado auxiliar.

«O barco de pesca de bacalhau onde ele estava chamava-se Loanda e foi fundeado em 1917 por um submarino alemão ao largo da costa portuguesa. Foi feito prisioneiro e fugiu do barco alemão a nado porque como era pescador de bacalhau e levava muito bacalhau para a Noruega, conhecia muito bem a costa francesa. Quando passou ao largo de Dunquerque mandou-se à água, à noite. Foi apanhado pelas tropas inglesas que o levaram para as tropas portuguesas», contou o neto que vive em França desde 1964.

O avô participou na Batalha de La Lys, em 09 de abril de 1918, tendo ficado ferido nas pernas por uma granada e sido repatriado em fevereiro de 1919 para Portugal, sem nunca ter recebido um apoio para veteranos de guerra.

A ferida acompanhou-o toda a vida e em 1965 foi amputado de ambas as pernas, acabando por morrer a 31 de dezembro de 1965, sem que o neto se pudesse despedir por ter fugido da ditadura para França. «Fiz a minha coleção pelo meu avô, um homem de quem eu gostava muito, que era muito especial. O meu museu é uma homenagem ao meu avô e a todos os combatentes que se bateram nesta guerra, seja soldado alemão, inglês, francês ou português porque todos tinham mãe, pai, mulher, filhos e morreram todos por culpa de alguns políticos», lançou.

O interesse pela história do avô nas trincheiras francesas nasceu em 1963, na «última vez» que esteve com ele, aos 17 anos, quando o avô lhe contou a história que até aí tinha guardado em silêncio.

«Fui com ele ao monumento aos mortos da Grande Guerra a Lisboa e foi aí que ele me falou da guerra dele porque nunca falava disso. Para ele, aquilo era um passado. Nunca me tinha falado da guerra dele. Ele tinha uma lembrança alemã na gaveta: um revólver alemão. Quando ele morreu, eu estava cá em França e não pude ir a Portugal para recuperar a arma, mas, em França, consegui arranjar uma igual e gravei o nome do meu avô», contou.

A arma com o nome do avô foi a primeira da coleção do neto e hoje a sua casa, em Châteauneuf-sur-Cher, a cerca de 250 quilómetros de Paris, transformou-se num «museu».

«Tenho um museu com mais de 4 mil peças, 170 metros quadrados e o espaço não chega. Acho que aqui em França, mesmo na Europa, sou um dos maiores colecionadores sobre o material português. Tenho peças de todas as tropas que se bateram na frente. Tenho desde o pincel da barba, à metralhadora e de material português tenho armas, roupas, selas de cavalaria, capacetes», descreveu.

 

[pro_ad_display_adzone id=”9235″]

 

LusoJornal