Ana Catarina Ferreira, uma voluntária portuguesa em Redon

Ana Catarina Ferreira, Portuguesa de 25 anos, originária da cidade do Porto, está em França, na cidade de Redon a trabalhar no Museu de la Batellerie no quadro do programa de Serviço de Voluntariado Europeu, um projeto criado pela Comissão Europeia no âmbito do Erasmus+.

Ana Catarina Ferreira, que fica até novembro em França, fez a atualidade nos jornais regionais por ter dado aulas de português na cidade de Redon, cidade que se situa na Bretagne, a norte de Nantes.

O LusoJornal falou com a jovem portuguesa acerca da sua experiência em França e dos seus objetivos para o futuro.

 

Esteve na atualidade por ter dado aulas de português. Como decorreram?

As aulas de português decorreram todas as quartas-feiras à tarde durante o mês de agosto. Houve adesão de algumas pessoas. Senti que gostaram bastante das aulas e que pensam que a língua portuguesa é uma língua bonita.

 

Como surgiu essa ideia? Foi complicado pô-la em prática?

Durante o meu voluntariado já tive oportunidade de ir a três escolas de Redon dar workshops de português. Ensinei algumas palavras básicas em português e falei um pouco sobre a cultura portuguesa. Gostei bastante de realizar estes workshops e o feedback que tive foi bastante positivo, os alunos gostaram. Eu também gostei bastante, gostei de ensinar e partilhar a cultura portuguesa. Em conversa com o meu mentor – Charly Bayou – sobre o facto de eu gostar de ensinar português e partilhar a minha cultura, ele propôs-me fazer o mesmo no Museu. Foi bastante fácil pôr a ideia em prática, bastou preparar os conteúdos e divulgar. Alguns dos conteúdos já estavam preparados dos workshops anteriores. Mostrei um mapa com todos os países lusófonos e senti que era uma novidade para algumas pessoas, pois a maioria só sabe que se fala português no Brasil. Depois ensinei as palavras básicas: olá, bom dia, adeus, obrigado/a, etc. Nas aulas realizadas no Museu, decidimos que seria uma boa ideia também ensinar algum vocabulário relacionado com o tema do Museu, vocabulário do mar e dos canais.

 

Chegou a França pelo programa de Serviço de Voluntariado Europeu, qual era o objetivo?

Terminei o meu Mestrado em Gestão Cultural há três anos. Estava já a trabalhar em Portugal quando decidi que queria ter uma experiência internacional. Pesquisei vários programas e quando encontrei o Serviço de Voluntariado Europeu, achei que era o ideal, pois disponibiliza vários projetos em vários países. Fiz várias candidaturas na área das Artes e Cultura, pois são as áreas em que tenho formação. A MAPAR foi a organização que me deu a resposta mais rápida. O meu objetivo inicial era ter uma nova experiência pessoal e profissional a nível internacional, aprender uma nova língua e conhecer novas culturas. Todos esses objetivos estão a ser cumpridos. Esta experiência está claramente a superar as minhas expectativas.

 

Trabalhar no Museu de la Batellerie, era o objetivo ao chegar ou foi uma proposta no âmbito desses intercâmbios?

Trabalhar no Museu de la Batellerie sempre foi o objetivo inicial. Na plataforma do Corpo Europeu de Solidariedade existem vários projetos em diferentes países da Europa. Um dos projetos a que me candidatei foi para o Museu de la Batellerie. Fiz uma entrevista online com a MAPAR onde me foi apresentado melhor o projeto e todas as condições deste voluntariado. Alguns dias depois a MAPAR informou-me que fui selecionada e claro que fiquei muito contente. Trabalhar no Museu de la Batellerie tem sido uma ótima experiência. O meu mentor é um grande apoio, nomeadamente na aprendizagem de francês. No início falávamos em inglês mas ele sempre me incentivou e ajudou a falar francês e tem sido ótimo trabalhar com ele. Uma autêntica partilha de culturas e gerações. Na verdade esta experiência tem sido muito positiva tanto a nível pessoal como profissional. Quando cheguei não sabia falar nem compreendia francês, mas entretanto aprendi. A MAPAR disponibiliza-me aulas de francês uma vez por semana, o que me ajuda muito. Somos vários voluntários internacionais na MAPAR o que me permite contactar com várias culturas. Isto possibilita-me conhecer a cultura francesa mas também outras culturas pois como somos um grupo internacional existe uma grande partilha. E claro que também estou a ter a oportunidade de partilhar a minha. Por exemplo, a 2 de outubro, organizei uma Noite portuguesa na MAPAR, onde apresentei um pouco a história e cultura portuguesa, através de vídeos, fotografias, música e comida portuguesa.

 

O que podemos dizer da mobilidade europeia? É assim tão fácil como se diz ou há problemáticas a ultrapassar?

Acho que estas experiências são muito importantes para nós jovens, principalmente agora com a facilidade de circulação internacional. As aprendizagens que se adquirem durante estes projetos são extremamente importantes para a nossa vida pessoal mas também para o nosso espírito de comunidade. Tolerância, respeito, independência mas também valorização pessoal e profissional são aspetos que considero muito importantes para o meu futuro. Claro que no início não é fácil, no meu caso foi o clima e a língua as maiores dificuldades. Não sabia francês e nem todas as pessoas sabem falar inglês. Nas primeiras semanas foi complicado, mas isso motivou-me mais para aprender francês. A nível de diferenças culturais também não estou a sentir muitas, consegui integrar-me bastante bem. Acho que o facto de sermos um grupo de diferentes nacionalidades a viver a mesma experiência ajudou bastante. A maior dificuldade ou problema “burocrático” que eu estou a sentir é que queria votar nas eleições legislativas, no dia 6 de outubro de 2019, mas não o pude fazer. Nas eleições europeias de maio, fui de férias para Portugal exatamente nessa altura para poder votar, mas nas próximas não o vou poder fazer. Como sou voluntária e não tenho morada francesa não posso votar em França. Ainda contactei a Comissão Nacional de Eleições para pedir informações e a resposta que tive foi que o Serviço de Voluntariado Europeu não está incluído nas exceções para se poder votar noutro país sem se estar recenseado. Confesso que me senti desiludida quando me deram esta resposta, pois eu estando a fazer voluntariado não deixo de estar a representar o meu país. Não puder exercer o meu direito e que para mim é também um dever.

 

E agora, qual vai ser o seu percurso?

Ainda não sei que percurso vou seguir quando acabar o meu Serviço de Voluntariado Europeu, em novembro. Em nove meses aprendi uma nova língua, conheci várias culturas e pessoas de diferentes países. Desafiei-me, ultrapassei dificuldades, tornei-me ainda mais independente. Sinto que aprendi mais aqui do que se tivesse ficado em Portugal estes nove meses. Por tudo isto, para mim viver em Portugal não é um objetivo para já. Quero continuar a ter mais experiências como esta. Sim, França pode ser um destino. Agora até sei falar francês…

 

Por fim, uma opinião sobre a população em França. Como foi recebida em Redon?

Fui muito bem recebida em Redon, foi bastante fácil integrar-me. Redon é uma pequena vila muito simpática e acolhedora. Sinceramente não senti muitas diferenças entre Portugal e França. A língua foi o mais difícil para mim. Não tive muito contacto com a Comunidade portuguesa, aqui em Redon não existe uma forte presença portuguesa.

 

Aconselharia os jovens portugueses ou franceses a realizarem este tipo de intercâmbios?

Claro que sim, é uma ótima experiência. Para mim estas experiências são extremamente positivas e espero que em Portugal os jovens tenham cada vez mais oportunidades de fazer este tipo de programas. Adquirem-se experiências e competências que são muito importantes para o nosso futuro e é uma experiência inesquecível.

 

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LusoJornal