Angolanos em Paris satisfeitos por conseguirem votar e receosos quanto aos resultados

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

 

Mais de 2.200 angolanos estão recenseados para votar em França e esta ontem, de manhã, mais de uma centena já tinham votado na Embaixada de Angola em Paris, entre a vontade de mudança e preocupação com os resultados eleitorais.

“Eu nunca tive oportunidade de votar em Angola porque as eleições são muito tensas e vim-me embora, então tive oportunidade de me recensear aqui e disse a mim próprio que tinha de ter o meu primeiro dedinho”, disse Joaquim, que vive há 21 anos em França, mostrando o seu dedo manchado com tinta indelével.

Joaquim veio da região do Puy-de-Dôme, no centro da França, para votar na Embaixada de Angola em Paris. Tal como este técnico superior de engenharia, muitos angolanos escolheram vir até à capital e, pela primeira vez, votar nas eleições fora do país.

“As pessoas estão satisfeitas, muito satisfeitas de poderem votar. Muitos vêm de longe, tudo está centralizado em Paris e França é grande, mas as pessoas fazem um grande esforço para virem a Paris e cumprirem o seu dever. Muitas pessoas vêm de Pau, de Strasbourg, de Lille ou da Normandie”, disse Francisco, escriturário instalado há 11 anos na região de Paris.

Para Maria Rosa, poder votar depois de 23 anos em Paris, significa não ser esquecida pelo seu próprio país. “É muito importante podermos votar porque mostra-nos que não nos esqueceram e que o nosso país tem consideração por nós”, declarou esta secretária que vive em Sarcelles.

A principal motivação de Maria Rosa para votar é que as condições de vida melhorem, com esta emigrante a indicar que não compreende como pode haver fome em Angola. “A minha prioridade é que as pessoas vivam melhor em Angola, que as pessoa estejam de boa saúde, que haja hospitais e escolas e, sobretudo, que as pessoas tenham o que comer. Vemos agora coisas impossíveis, crianças a comer do lixo? Nunca vimos isto a acontecer em Angola. É isso que eu quero que mude”, declarou.

Já Joaquim diz que as pessoas, especialmente os jovens angolanos, querem “alternância” e foi nisso que votou ontem. “Todo o mundo, os jovens apelam a uma alternância. Visto que nós vivemos aqui na Europa e temos a vida estável em comparação com o pessoal que está lá, eu vim fazer a minha parte. Agora cabe que as eleições sejam livres e transparentes”, declarou Joaquim.

No contacto com a família em Angola, Joaquim vê a família muito tensa. “Em Angola, a população está muito tensa. Ontem foram às lojas e armazéns fazer compras com medo de represálias ou de haver guerra, porque há apelos tensos […] Eu ando preocupado. A minha mãe tem 79 anos, vive com a minha irmã mais velha, e eu quando ligo para eles dizem-me que é a UNITA [oposição] que provoca e que há luta em algumas aldeias, mas como é que é a UNITA que provoca, se não há armas? Eles têm medo”, indicou.

Para Vladimir, há um ano instalado em Paris, a tensão nos resultados eleitorais é algo normal em todos os países democráticos no Mundo. “Se disser que não tenho receio é mentira, se disser que sim, sou pessimista. Hoje a história mostra-nos que nem nos Estados Unidos os resultados são aceites de bom ânimo. A geopolítica mundial mostra que resultados de eleições podem ser um ponto de cataclismo em vários países”, indicou.

Dentro da Embaixada de Angola, que se situa no número 19 da Avenida Foch, um dos bairros mais chiques des Paris, estavam instaladas três mesas de voto e durante a manhã já tinham votado mais de 120 pessoas.

“É um período especial porque é dia de trabalho e período de férias, os dois conjugados é difícil, mas o angolano está consciente que tem de votar. O recenseamento foi feito de forma normal e quem não se registou, é lógico que não pode votar. Até agora apareceram duas pessoas que não podiam e compreenderam”, explicou David Mayassi, primeiro secretário do MPLA [poder] em França e delegado da lista junta destas mesas.

 

As quintas eleições gerais em Angola perpetuam a disputa entre os dois principais partidos do país, o MPLA (Governo) e a UNITA (oposição), que tentam conquistar a maioria dos 220 lugares da Assembleia Nacional.

João Lourenço, atual Presidente, tenta um segundo mandato e tem como principal adversário Adalberto Costa Júnior.

No total, concorrem oito formações políticas que tentam conquistar o voto dos 14,4 milhões de eleitores. O processo eleitoral, que tem cerca de 1.300 observadores nacionais e internacionais, tem sido criticado pela oposição, considerando-o pouco transparente.

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]

LusoJornal