LusoJornal / Carlos Pereira

Arnouville evoca centenário da I Guerra com coleção de Álvaro Rodrigues

Álvaro Rodrigues, um dos maiores colecionadores da I Guerra Mundial em França, tem uma parte da sua coleção exposta no Espace Charles Aznavour, em Arnouville (95), a norte de Paris. A exposição enquadra-se na evocação que a Mairie local quis fazer no Centenário do fim da Grande Guerra.

Álvaro Rodrigues mora em Vierzon, mas veio para Arnouville com mais de 1.000 peças de coleção, entre as quais mais de 30 vitrinas, com armas, capacetes, utensílios da vida dos militares, assim como cerca de 50 uniformes de soldados de Portugal, mas também de outros países, Aliados ou não. “Interesso-me pelos soldados, à vida deles durante a Guerra e nesta ótica, todos os soldados viveram na mesma miséria, foram todos vítimas, franceses, britânicos, russos, alemães,…” explica ao LusoJornal.

Quem entra na exposição vê aliás quatro bandeiras enormes: a francesa, a inglesa, a americana e a portuguesa. “Eu sou português, claro. E mesmo se a minha coleção é sobre a I Guerra em geral, tenho muito orgulho em ter peças dos soldados do Corpo Expedicionário Português” contou ao LusoJornal. Orgulha-se sobretudo de ter o uniforme do Major César Carvalho Vasconcellos, assim como uma parte do seu espólio pessoal.

Mas nem tudo está exposto em Arnouville. Álvaro Rodrigues fez o seu próprio museu, em casa, “aberto para os amigos”, e continua à procura de documentos e peças de teor histórico. Por debaixo de uma das vitrinas, mostra ao LusoJornal o diário do soldado Rodolfo dos Santos, que combateu em Moçambique durante a I Guerra Mundial. “É uma relíquia” diz com brilho na voz. Um diário escrito à mão, mas também documentos originais das várias condecorações e promoções deste militar português.

Álvaro Rodrigues apresenta também uma coleção de fotografias do Corpo Expedicionário Português do fotógrafo de guerra Arnaldo Garcez. A coleção foi montada pela delegação da Liga dos Combatentes de Bordeaux, com a colaboração do LusoJornal, e foi cedida para esta mostra.

A inauguração teve lugar ontem, dia 18, na presença do Maire da cidade, Pascal Doll. “É importante neste ano de centenário do fim da Guerra de 14-18, de ter um momento forte que lembre aos jovens tudo o que foi o início da Europa” explica o Maire. “A Europa também se formou a partir de dramas como este da I Guerra Mundial”.

Em declarações ao LusoJornal, Pascal Doll lembrou que os jovens vivem atualmente num período de paz. “O meu avô viveu a guerra, o meu pai também, mas os meus filhos têm um pai que não viveu a guerra. É a primeira vez que isso acontece. A Europa fez isto. Os dirigentes da Europa juntaram-se e disseram que queriam parar de fazer a guerra e preferiam fazer a paz. Hoje a Europa é criticada, há dificuldades, mas essa é a Europa política. Mas na base, quando Chanceler Adenauer e o Gneral De Gaulle se encontraram para assinar o Tratado de Roma, estava a paz”.

“Há um provérbio africano que diz que quando não sabes onde vais, vê de onde vens” afirma Pascal Doll. “Queremos que os jovens saibam de onde viemos. Temos de mostrar aos jovens estes momentos dramáticos. Foi daqui que nós viemos”.

Eis porque razão o centenário é importante.

A participação dos Portugueses na I Guerra Mundial continua a passar despercebida. Confirmam-no os historiadores Georges Viaud e Manuel do Nascimento, os dois presentes na inauguração, e que têm investido muito tempo na divulgação deste período da história comum entre a França e Portugal. “Muitos portugueses em França não sabiam que os Portugueses participaram na Guerra em França, e os franceses então, desconhecem totalmente” garante Álvaro Rodrigues.

“Descobri aqui a importância dos diferentes batalhões que vieram de vários países, nomeadamente de Portugal, uma história totalmente desconhecida. Vieram de Portugal, da Índia, da Nova Zelândia… São pedaços da história que esquecemos” confirma o Maire Pascal Doll. “Dentro da grande história, há pequenas histórias que passam despercebidas. O facto que os soldados portugueses tenham vindo combater em França porque eram os nossos aliados, tem de ser conhecido”.

Pascal Doll diz que “há uma forte Comunidade portuguesa Arnouville” que estima em cerca de 1.000 e 1.200 cidadãos, sem associação, sem geminação com Portugal e sem Conselheiros municipais de origem portuguesa, mas diz “apreciar” muito os Portugueses e lembra que no ano passado participou na celebração dos 100 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima, que tiveram lugar na igreja de Notre Dame de la Paix, com uma procissão.

Depois da inauguração da exposição, foi apresentado o espetáculo “Le petit poilu ilustré”.

A mostra de Álvaro Rodrigues foi apreciada e o colecionador português foi abordado por grande parte dos presentes para o felicitar pela recolha feita. Mostrou-se, no entanto “amargo” pela ausência de personalidades portuguesas. “Gostava mesmo muito de mostrar a minha coleção ao Embaixador de Portugal” confessou ao LusoJornal, mostrando a lista que comprova que a Mairie de Arnouville lhe enviou um convite para a inauguração da exposição. “Mas não respondeu. Apenas me contactou o Adido Militar que prometeu passar durante estes dias para ver a exposição”.

A exposição está patente ao público até dia 28 de setembro, das 14h00 às 18h00.