Saúde: Artrite Reumatoide atinge mais as mulheres


Estima-se que, em Portugal, mais de metade da população adulta sofre de doenças reumáticas, número crescente sobretudo nas faixas etárias mais jovens.

As doenças reumáticas reúnem mais de 135 doenças que afetam o nosso aparelho locomotor. Têm uma prevalência de 20% em Portugal, sendo responsáveis por cerca de 20% das consultas de clínica geral e o primeiro motivo de consulta acima dos 50 anos nos cuidados de saúde primários (CSP). Mais de 40% estão ligadas ao trabalho.

Os dados disponíveis mostram também que a artrite reumatoide, a patologia que motiva este artigo, atinge três vezes mais mulheres do que homens. Trata-se de uma doença com inflamação das articulações, mas com envolvimento de outros órgãos ou sistemas, que se manifesta habitualmente com dor, inchaço e impotência funcional importante para as atividades da vida diária, e para o trabalho. Para quem não tem artrite, mas já teve um entorse, eu direi que é acordar um dia com entorses em muitas articulações com duração prolongada. Envolvimentos imétricos das articulações, rigidez matinal prolongada, dores noturnas com fadiga, anemia e marcadores da inflamação elevados.

Não conhecemos as causas, mas há fatores de risco conhecidos como o tabagismo, que duplica o risco nas mulheres fumadoras, algumas infeções (dentárias, vírus), sexo feminino até aos 65 anos, eventuais causas ambientais (poeiras, químicos), acontecimentos adversos de vida. A gravidez melhora 50% dos casos.

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As inovações

Fazer um diagnóstico precoce, iniciar os fármacos modificadores da doença como o Metotrexato ou a Lelunomida. Nas formas refratárias desde há 22 anos que dispomos de medicamentos imunomoduladores que atuam bloqueando algumas das “moléculas da inflamação” trazendo nova esperança para que quase 90% dos doentes fiquem sem sintomas.

O que mais condiciona o prognóstico é o atraso no diagnóstico e no início do tratamento adequado! Pouca adesão ao tratamento. O exercício tem vantagens na recuperação das atrofias musculares de desuso e se for em piscinas aquecidas ou nas Termas na melhoria da dor. Não é conhecido nenhum alimento que isoladamente tenha benefício demonstrado.

No que diz respeito ao seu impacto sobre a saúde mental, sabemos que a depressão coexiste no decorrer da doença, como reação secundária ao aparecimento da artrite, mas aumenta a evidencia que em alguns casos acontecimentos adversos de vida possam atuar, em doentes suscetíveis, quer no desencadear da doença quer no aparecimento de surtos. Todos estes casos podem beneficiar de apoio psicológico e/ou psiquiátrico.

De um modo geral, as principais complicações associadas a artrite reumatoide são a destruição articular com a incapacidade que geram, o risco cardiovascular aumentado, responsável em parte pela diminuição da esperança de vida e nas formas mais graves aumento de risco de algumas doenças malignas como os linfomas.

De modo a sensibilizar para a patologia, gostaria de dizer a estes doentes que se tiverem dores com inchaço articular que persista por mais de alguns dias consultem o seu médico, se persistir por mais de 3 semanas procurem o reumatologista, que é o especialista desta doença. A artrite reumatóide não se trata com analgésicos nem com anti-inflamatórios! Procurem apoio médico social junto da ANDAR, Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide, e informação credível na página da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR).

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Dr. António Vilar

Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia

LusoJornal