Associação homenageou cantora de ópera afro-brasileira Maria d’Apparecida em Paris


A associação Os Amigos de Maria d’Apparecida inaugurou no sábado uma placa em nome da cantora de ópera afro-brasileira Maria d’Apparecida em Paris, para preservar a sua memória e importância na música.

“Maria d’Apparecida era afro-brasileira e foi a primeira brasileira a interpretar Carmen de Georges Bizet na Ópera de Paris, em 1965, o que não era nada fácil” e “morreu com quase 92 anos, mas já não cantava há 15 ou 20 anos e as pessoas esqueceram-se dela”, disse à Lusa Mazé Torquato Chotil, secretária da associação.

A placa, para dar a conhecer a cantora que recebeu “prémios, honras e a medalha brasileira mais importante, a Ordem do Rio Branco”, foi inaugurada no sábado passado, dia 28 de setembro, no prédio onde Maria d’Apparecida viveu por mais de 40 anos (entre 1974 a 2017), na rua Augusto Vacquerie, n°19 em Paris.

A associação Os Amigos de Maria d’Apparecida foi criada em 2018, um ano após o falecimento da cantora brasileira, “porque Maria d’Aparecida não teve filhos e foi muito complicado” após a sua morte em Paris, cidade onde foi reconhecido o seu talento, afirmou Mazé Torquato Chotil.

A cantora mudou-se para a capital francesa nos anos 50 “por não conseguir fazer carreira no Brasil pela sua cor de pele” e gravou mais de 20 discos, inclusive com o compositor brasileiro Baden Powell, com temas do folclore brasileiro, mas também canções de Chico Buarque e de Vinícius de Morais.

Em 2019, foi publicada a edição francesa da biografia da cantora e, logo depois, Mazé Torquato Chotil escreveu em língua portuguesa “Maria d’Apparecida negroluminosa voz”, o mesmo título utilizado pela cantora na biografia que estava a escrever antes de falecer, para assim honrar a sua memória.

Além disso, a associação criou um site dedicado à cantora afro-brasileira ‘www.mariadapparecida.eu’, que foi musa do pintor surrealista Félix Labisse, e foi também lançado um livro de banda desenhada inspirado na história de Maria d’Aparecida, intitulado “Ópera Negra”, da autoria de Clara Chotil, filha de Mazé Torquato Chotil.

“Aos poucos, estamos a levar Maria d’Apparecida para o conhecimento do público. Ela merece sair desse esquecimento”, afirmou Mazé Torquato Chotil, que se interessou aos poucos pela “história de vida fascinante” da cantora afro-brasileira e, embora tivessem amigos em comum, não chegou a conhecê-la em vida.

Os Amigos de Maria d’Apparecida trabalham agora para continuar a “contar a história” da cantora e tentam recuperar os seus pertences, pois, “segundo declarações, existem cartas, fotografias, correspondência e talvez um diário” que foram recolhidos com a venda do seu apartamento após a sua morte.

“Temos ainda um projeto de filme, que espero que seja lançado para os 100 anos de Maria d’Apparecida, em 2026”, revelou Mazé Torquato Chotil, referindo que “tudo isso serve para valorizar a imagem e colocar em evidência” a personalidade que teve relevância na divulgação da música brasileira e do Brasil na França.

Mazé Torquato Chotil, escritora e jornalista, afirmou ainda o desejo de conseguir colocar o nome de Maria d’Apparecida em salas dos conservatórios de música que tenham curso de canto tanto no Brasil como em França, para a homenagear e para “as novas gerações saberem que ela existiu”.

LusoJornal