Atentados do 13 de novembro de 2015: Manuel Dias, o Português que morreu junto ao Stade de France_LusoJornal·Comunidade·13 Novembro, 2025 “Estar no sítio errado e na hora errada”, foi assim que Sofia Dias definiu as circunstâncias em que o pai faleceu no dia 13 de novembro de 2015, à noite aquando dos primeiros atentados-suicida que decorreram junto ao Stade de France, nos subúrbios parisienses. Dos 4 mortos naquele local, 3 eram terroristas equipados de cintos com explosivos e o 4° era um cidadão português, Manuel Cola Dias, natural de Corte do Pinto, Mértola, que residia em Reims desde há 40 anos. O português era motorista da empresa Regnault Autocars (filial do grupo Partir Ensemble) para quem trabalhava há 20 anos e era também membro ativo da Associação portuguesa de Reims, ‘Lusitânia’ na qual se havia investido bastante. “O meu pai substituiu um colega à última da hora, para ir levar 3 clientes habituais de Reims ao jogo de futebol a Paris. Normalmente o meu pai não trabalhava, mas pediram-lhe para que fosse ele a levar os clientes”, explicou com muita emoção a filha, Sofia Dias, numa entrevista que deu, na altura, à jornalista Clara Teixeira do LusoJornal. Poucos minutos antes do drama, Manuel Dias jantou e telefonou à esposa para lhe dizer que estava tudo bem e que ia beber um café enquanto esperava pelos clientes. “A partir daí deixámos de ter notícias do meu pai, quando a minha mãe soube logo a seguir à chamada do meu pai o que ali se estava a decorrer, e que tentou informá-lo ele já não respondia”. Sofia Dias era responsável em Comunicação Portugal do grupo HomeAway (Abritel Homelidays) e encontrava-se naquele momento no Algarve, longe de Paris e longe de imaginar o que se estava a passar. De repente começou a receber mensagens a perguntar se ela e os familiares se encontravam bem e foi quando a mãe lhe telefonou a informá-la que a jovem lusodescendente começou a ficar desesperada. “Não queria acreditar que a única vítima do estádio fosse o meu pai! Tentei acalmar a minha mãe com esperanças que o meu pai estivesse vivo. Foram horas e horas difíceis e horríveis rezando para que ele não estivesse morto”, recordou ao LusoJornal. No final do jogo, nos arredores de Paris, os clientes esperaram pelo motorista, mas em vão, acabando por ser repatriados por táxi durante a noite. “A minha mãe contactou de imediato a empresa do meu pai que não tendo notícias resolveram ir lá e viram o veículo com as coisas pessoais do meu pai, mas ele não estava lá”. “A minha mãe estava convicta de que algo se tinha passado de grave com o meu pai, mas enquanto ninguém nos confirmava nada, havia sempre uma esperança. Em Portugal liguei para a Polícia francesa, para os contactos dados naquele momento e ninguém me soube dizer algo. Ninguém sabia onde ele estava, se vivo, ferido ou morto”. A má notícia foi dada pelos serviços administrativos portugueses, que Sofia Dias definiu de pessoas formidáveis. “Falei com o Cônsul de Portugal, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o Primeiro-Ministro Passos Coelho ao telefone, e todos foram extraordinários connosco e no sábado à tarde confirmaram-me a morte”, disse a chorar nas declarações ao LusoJornal há 10 anos. Hoje discursou perante Emmanuel Macron, no mesmo sítio onde o pai sucumbiu. Indignada por não conseguir encontrar o nome do pai em lado nenhum e por ver que as listas das vítimas não estavam atualizadas mesmo após tomar conhecimento da morte trágica do pai, sublinhou em contrapartida a reatividade do lado português. “Tenho orgulho em ser Portuguesa e neste momento ainda mais pela atenção e disponibilidade que tiveram connosco estes últimos dias. O meu pai tinha muito orgulho em ser Português e adorava o seu país”. Anualmente Manuel Dias e a sua família iam a Portugal. “Somos uma família muito unida, os meus pais eram muito cúmplices e gostavam muito de viajar. Ainda no verão passado nos encontrámos todos de férias em Corte do Pinto, mesmo se não é um sítio muito turístico, gostamos de nos encontrar ali por alguns dias para relaxar e porque nos faz bem”, recordava na entrevista a Clara Teixeira. Com um sentimento de imensa revolta e uma tristeza inconsolável a jovem lusodescendente lamentou que os serviços franceses carecessem de organização. “É um sentimento de grande revolta, de ódio quase de racismo, diria eu, mas é inevitável, até pensamos em voltar viver para Portugal. O meu pai foi como um herói, a única verdadeira vítima do Stade de France e um dos primeiros a morrer nesta tragédia sem precedentes”, concluiu ao LusoJornal. Quanto ao então Presidente da Câmara de Mértola, Jorge Rosa, concelho de onde era natural, considerou ser um momento muito triste a perda deste filho da terra. “Tive conhecimento dos atentados pela comunicação social e, depois, fiquei a saber que um dos Portugueses que morreu era natural de Corte do Pinto”, disse o autarca, em declarações à Lusa. “Perder assim uma pessoa originária da terra, que teve necessidade de sair do país para governar a sua vida”, tendo emigrado “há 40 anos” para França, é triste, sublinhou. Manuel Dias era conhecido como uma pessoa simples, alegre e sempre com boa disposição, que amava a vida e a família antes de tudo. Esta manhã, o Presidente da República Portuguesa prestou-lhe homenagem, no dia em que se comemorou o 10° aniversário da sua morte.