Balança Comercial de Portugal / Trocas Comerciais com a França

Quanto mais alto, mais dura será a queda

A França é um parceiro económico e comercial de primeira importância para Portugal ocupando, desde há vários anos, a 2ª posição como cliente e a 3ª posição como fornecedor. Nas relações comerciais entre os dois países, mais de 500 filiais de empresas francesas se encontram implantadas em Portugal, em quase todos os setores de atividade, empregando cerca de 60.000 pessoas.

A França é o segundo país a mais investir em Portugal. O investimento francês está em setores tão relevantes como a indústria automóvel (sobretudo com os grupos PSA e Renault) e de componentes, a aeronáutica, as energias renováveis (com a Engie), o digital, as novas tecnologias ou na distribuição onde o domínio é totalmente francês com as marcas Auchan e Leroy Merlin, Decathlon, Leclerc, Conforama, Fnac, La Redoute ou o Intermarché. Nas telecomunicações temos a Altice, enquanto na indústria de iluminação pontua a Legrand. No setor financeiro o destaque vai para o BNP Paribas, que tem um hub em Portugal. Outros grupos relevantes são a própria Bolsa de Valores de Lisboa, controlada pela Euronext de Paris, ou ainda bancos com forte pendor tecnológico como o Natixis. Pelo meio figuram ainda nomes tão relevantes como a Altran, a Europcar ou a Teleperformance.

Segundo o INE, são mais de 5.000 as empresas portuguesas exportadoras para França onde existem mais de 45.000 empresas de empresários de origem portuguesa que representam, segundo fontes da Câmara de Comércio e Indústria Franco Portuguesa (CCIFP), entre 3% a 4% do PIB francês em termos de volume de negócios.

O contributo da França, como cliente, tem sido notável. Nos últimos 10 anos as trocas comerciais entre os dois países atingiram valores nunca dantes alcançados e traduziram-se por saldos positivos para Portugal particularmente favoráveis. Em 2019, no entanto, e pela primeira vez nesta década, o saldo foi ligeiramente deficitário para Portugal, por uma razão muito relevante: a enorme variação das importações portuguesas no setor Automóvel, primeiro capítulo das nossas importações provenientes de França, que mais do que duplicaram, passando de 1.854 para 3.867 milhões de euros, um aumento de 108,6%. Em consequência, o setor Automóvel representa uma quota de mercado de 49,2%, ou seja, quase metade das nossas importações provenientes de França.

Infelizmente, duro é de constatar que os excelentes resultados obtidos nos últimos anos nas trocas comerciais devam ser o final de um ciclo de crescimento das nossas exportações para França, que em 2019 alcançaram o valor mais elevado de sempre.

Com efeito, como aliás ressalva o Banco de Portugal na sua última análise de conjuntura, as perspetivas para a economia portuguesa estão em fase de se deteriorarem abrupta e significativamente com a pandemia de Covid-19 e são rodeadas de grande incerteza.

A situação atual não tem precedente histórico recente e caracteriza-se por um elevado grau de desconhecimento relativamente ao impacto económico da pandemia que acentua a incerteza e complexidade de um exercício de projeção. O facto de a pandemia ser generalizada a um grande número de países tenderá a acentuar a queda da atividade económica, por via do colapso nos fluxos de comércio mundiais, com igual destaque, aliás, para o turismo e o investimento.

Impossível, assim, de prever o que vai ser o comportamento das trocas mundiais entre a França e Portugal, em particular, a não ser a de um desastre económico e financeiro anunciado, impossível de quantificar.

O notável comportamento das nossas exportações para França que subiram muito nos últimos anos levam-nos infelizmente a pensar que mais dura vai ser a queda.

 

Exportações e Importações portuguesas, por países

Em 2019, as exportações portuguesas de bens ultrapassaram os 59.906 mil milhões de euros e as importações 80.305 mil milhões, progressões de 3,6% e 6,6%, respetivamente, comparadas com os valores do ano anterior. Em virtude de um menor crescimento marginal das exportações, o défice agravou-se de 2.842 milhões de euros, atingindo um total de 20.399 milhões de euros.

Na estrutura do comércio internacional português, a União Europeia absorveu 76,8% das exportações nacionais, o equivalente a 46 mil milhões de euros e contribuiu em 76,4% das nossas importações, num total de 61,3 mil milhões de euros. O saldo com a EU é deficitário de -20.399 milhões de euros.

Os países terceiros absorveram 23,2% das exportações, num valor de 13,9 mil milhões de euros e contribuíram em 23,6% nas nossas importações, o equivalente a 18,9 mil milhões de euros.

O saldo com os países extra-EU é deficitário, no valor de -5.009 milhões de euros.

Em matéria de exportações, a Espanha é o nosso principal cliente, com uma quota de mercado de 24,9%, ou seja, 1/4 das nossas exportações. A França ocupa a segunda posição, com uma quota de mercado de 13%, à frente da Alemanha, com 12%. Estes 3 países absorvem praticamente metade (49,9%) das nossas vendas para o estrangeiro, sendo que a Espanha compra tanto como a Alemanha e a França reunidas. O Reino Unido (6,1%), os EUA (5%) e a Itália (4,5%) ocupam os lugares seguintes como principais clientes. De notar que em virtude da forte quebra de -18,1% das nossas vendas para Angola, em 2019, após -15,2% em 2018, este país ocupa apenas a oitava posição no ranking dos principais clientes, enquanto que o Brasil, com um decréscimo de -7,1%, após -14,1% em 2081, sai do top 10 como cliente.

Quanto às importações, a exemplo do que se passa com as exportações, igualmente três dentre eles, Espanha (com 30,4% de quota de mercado), Alemanha (com 13,3%) e França (com 9,8%) ocupam os primeiros lugares no ranking e contribuem, por si sós, em mais de metade das nossas importações globais (53,5%), sendo que a Espanha, largamente à frente de todos os parceiros, representa quase com um terço (30,4%) nas nossas compras. A Itália (5,1% de quota de mercado) e Holanda (4,9%) ocupam os lugares seguintes.

 

Trocas comerciais entre França e Portugal

França, segundo cliente e terceiro fornecedor

A França é um parceiro económico e comercial de primeira importância para Portugal, ocupando, desde há vários anos, a 2ª posição como cliente e 3ª posição como fornecedor.

Em 2019, as exportações portuguesas para França ultrapassaram os 7.779 milhões de euros, uma progressão de 6,2%. As respetivas importações foram superiores a 7.861 milhões de euros, um aumento de 36,7% relativamente ao ano anterior que se pode classificar de verdadeiramente espetacular e é consequência direta do forte aumento das importações portuguesas no ramo automóvel provenientes de França, que mais que duplicaram.

Resulta deste facto que o saldo da balança comercial entre os dois países que desde 2010 foi sistematicamente bastante favorável a Portugal, se inverteu, traduzindo-se por um valor negativo de -81,6 milhões de euros em 2019, longe dos 1.611 milhões de euros de superavit do ano precedente.

Paralelamente, a taxa de cobertura das exportações portuguesas pelas importações, que em 2008 (início da crise económica) era de 88,1% e progrediu gradualmente até alcançar 127,3% em 2018, passou drasticamente para 99%, em 2019.

 

Recorde nas exportações portuguesas para França,

mas importações portuguesas no ramo automóvel provenientes de França mais que duplicaram.

As principais exportações portuguesas para França são as do capítulo “Veículos e outro material de transporte” que desde há anos ocupam a primeira posição no ranking. Em 2019, ultrapassam os 1.687 milhões de euros, um aumento de 21,7% relativamente ao ano precedente.

O capítulo das “Máquinas e aparelhos”, num valor de 862,4 milhões de euros mantêm-se no segundo lugar, com uma quota de 11,1%, seguindo-se-lhes o capítulo dos “Metais comuns”, num valor de 804.3 milhões de euros e uma quota de mercado de 10,3%. Estes três grupos representam 43,1% das vendas para França. O “Vestuário” e o “Calçado”, produtos tradicionais detêm quotas de mercado de 6,7% e 5,5%, respetivamente.

No que se refere às importações provenientes de França, há efetivamente que salientar o enorme espaço ocupado pelo capítulo “Veículos e materiais de transporte” na primeira posição, com um valor de 3.867,7 milhões de euros e uma quota de mercado de 49,2% em 2019, graças a um aumento surpreendente de 108,6% relativamente ao ano anterior. Ou seja, praticamente metade das nossas exportações provenientes de França são o setor Automóvel, que mais do que duplicaram, com as consequências pesadas no saldo da balança comercial, como já referido.

Na segunda posição, as “Máquinas e aparelhos, mecânicos e elétricos”, com um valor de 862,4 milhões de euros, detêm uma quota de mercado de 12%, seguindo-se-lhe os “Produtos químicos”, com 7,1% e os “Produtos agrícolas” 5,8% de quotas de mercado. As compras nacionais estão fortemente concentradas nestes quatro grupos de produtos que, no seu conjunto, contribuem em 74,1% das importações provenientes de França.

 

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LusoJornal