Home Opinião Cada um o seu destino! Preservar algumas vidas é o maior presente de minha vidaManuel Maia Teixeira·25 Julho, 2025Opinião Alguns nascem para ganhar dinheiro com uma estratégia do “custe o que custe”, outros para ganhar medalhas com uma disciplina exemplar, o esforço permanente para treinar e conseguir. Eu nasci para preservar algumas vidas sem esperar nada em retorno. Tinha apenas 15 anos, já residente em França, quando evitei o afogamento de um rapaz, dois anos mais velho do que eu, apenas por me encontrar no sítio certo, na hora certa, com o meu olhar onde ninguém mais olhava. Ainda hoje, no escuro de uma noite sonolenta, vejo aquela mão a sair da água e a deslizar inevitavelmente, em direção ao fundo. A praia cheia de gente, os nadadores-salvadores ocupados com as atividades da piscina flutuante, as crianças agitadas por todo o lado, gritos ou rizadas como prova de alegria para toda esta juventude que todos os anos goza desta linda praia fluvial. Aquele rapaz, sozinho, no limite da zona de banho autorizada, já com sérias dificuldades e na fase final de submersão. Atirei-me à água e nadei até ele, mergulhei para o agarrar pelo cabelo e tirei-o com toda a minha energia, até à margem. Os banhistas presentes acabaram por se aperceber do que se estava a passar e rapidamente os salvadores oficiais intervieram para pôr a vítima numa posição adequada e iniciar o processo de expulsão da água que o rapaz inanimado tinha ingerido nos seus pulmões. Acabaram por chamar os bombeiros, que, por sua vez, acabaram por lhe salvar a vida com o necessário para o reanimar. O mestre-nadador-salvador, o Sr. Burtin, fez-me tomar consciência da ação que eu acabava de realizar, sem eu sequer ter ponderado o risco com a minha própria segurança. Mais tarde, tornei-me nadador de grandes distâncias e obtive aquele diploma que os meus filhos, ainda hoje, consideram como o mais bonito da minha vida. Alguns anos mais tarde, já adulto, no Tâmega, um rio rico em história e em beleza, que passa por Amarante, o meu sítio de férias preferido em Portugal. Os dois manos, estávamos na praia fluvial daquele rio, a apanhar banhos de sol, quando saltámos de imediato para a água a procurar a jovem rapariga que tinha desaparecido debaixo de água. Com falta de vigilância naquela praia fluvial e naqueles tempos, tivemos de nos aventurar sozinhos para a encontrar já submersa, mas felizmente apenas inconsciente. Depois de a colocar na margem do rio, foi ela que, muito naturalmente, expulsou a pouca água que tinha absorvido para recuperar em pouco tempo todos os seus sentidos, sem haver necessidade de chamar qualquer tipo de socorro. Bastou a mãe se tranquilizar e expressar-me, a mim e ao meu irmão, os seus sinceros agradecimentos. Noutra ocasião, naquele mesmo rio, apercebo-me de um casal em pânico a pedir socorro para o seu filho, preso nas pedras de uma pequena barragem de retenção de água, num sítio conhecido como “As Fisgas”, situado mais para cima desta praia fluvial, com os meus pais, costumávamos passar algumas tardes de verão neste lugar para gozar da limpeza do rio e fazer no fim da tarde a nossa modesta merenda. Apressei-me em primeiro lugar, por acalmar os pais, e delicadamente conseguimos libertar o menino daquela passagem de caudal forte e perigoso, através aquelas pedras e nas quais a criança se tinha enfiado de corpo inteiro e deixando por milagre apenas a cabecinha fora da corrente de água. Agora relato-vos o último acontecimento, este também em França, aquele drama que me assombrou várias vezes durante noites de pouco sono. Isto passou-se num domingo à tarde, dia 7 de setembro de 1988, estava um dia esplêndido de sol para passear nas margens destes lagos, localizados na periferia desta cidade francesa onde vivo desde já há vinte e cinco anos. Com os nossos dois filhos, a minha esposa e eu estávamos na nossa habitual caminhada em torno deste lago com o nome de “Lac du Plessis”. De repente, ouvimos um ruído terrível com um choque frontal entre dois veículos, na estrada principal e que separa a compilação destes dois lagos. Como num cenário de projeção cinematográfica, com aquele instante da imagem suspensa, vejo um dos carros ser propulsado para fora da estrada, virar-se sobre si próprio e cair no pequeno lago com as rodas viradas para cima. A minha primeira reação, foi de saltar para a água e prestar imediatamente socorro às vítimas daquele carro em vias de se afundar na água. A minha esposa correu até à cabine telefónica mais próxima, situada apenas a uma centena de metros do acidente em causa, para chamar os bombeiros. Devido à lona traseira já ter desaparecido com a brutalidade do acidente, consegui imediatamente agarrar a cabeça de uma jovem rapariga, que se debatia com aflição no banco de trás. Tirei-a da água e entreguei-a a algumas pessoas que já se encontravam na margem deste lago. Voltei à ação e apercebi-me que o condutor ainda estava preso pelo cinto de segurança. Não consegui soltá-lo e em pânico, pedi ajuda. Rapidamente surgiu um jovem que percebeu a situação. Com uma navalha na mão, cortou o cinto de segurança e juntos, conseguimos tirar o rapaz de uma situação de extremo perigo de vida, já inanimado, para não nos opor qualquer movimento de resistência. Deitámo-lo na margem, de lado, numa posição que nos pareceu como a melhor para evitar uma degradação do que já nos parecia catastrófico. Por sorte, logo expulsou a água dos pulmões e começou lentamente a recuperar a consciência. A sua preocupação foi de saber onde estava a sua noiva. Ela estava ali, ao lado, ainda em estado de choque, com um lindo vestido branco, incapaz de pronunciar uma palavra, traumatizada pelo que acabara de acontecer. Os bombeiros acabaram por finalmente chegar, mais de vinte minutos mais tarde, com um barco equipado com equipamento de mergulho. Não sei a razão deste atraso, talvez se devesse ao fato de ser domingo, já ao fim do dia, mas foi depois por os médicos reconhecido, que, sem a nossa intervenção, este casal não teria hipótese nenhuma de escapar a uma morte evidente. O jovem casal acidentado foi levado para o hospital. A polícia tomou nota da minha identidade e do jovem enfermeiro que também participou nesta salvadora intervenção. Regressei a casa com a roupa e sapatos encharcados de água e lama, a nossa residência estava perto, junto às margens deste mesmo lago, mais a sul. A minha esposa, sem palavras, os meus filhos visivelmente perturbados pelo que tinham acabado de ver, mostraram uma certa ansiedade, fiz tudo para os acalmar e naquela noite não consegui dormir. O tempo passou, nunca fui chamado pela polícia para prestar declarações sobre o acidente e alguns dias depois, o jornal distrital da Saône-et-Loire publicou um artigo sobre o acontecimento, respeitando o anonimato das duas vítimas, isto sendo permitido por lei, mencionando brevemente como foram salvos por intervenientes presentes, reativos, sem nos identificar, tanto o jovem enfermeiro, como eu. Invadido por uma excitação própria, não deixei de contar esta história aos meus familiares, também e naturalmente a alguns amigos. Um ano passou, e, já tarde, na noite, recebemos um telefonema de um jovem casal desejando visitar-nos para nos agradecer de tudo o que por mim foi feito para lhes salvar a vida num certo domingo de setembro. Visitaram-nos no fim de uma semana, trazendo um magnífico ramo de flores para a minha esposa e uma garrafa de whisky para mim. Conversámos sobre suas próprias vidas e sobre a nossa. Falámos muito e como por milagre, o tempo ficou suspenso. Fiquei profundamente comovido pela gentileza deste precioso casal, muito enamorado. Eu e a minha esposa convidámo-los para jantar. Aceitaram e contaram-nos tudo sobre o que aconteceu após o acidente. O rapaz tinha ingerido muita água poluída com a lama removida pelo veículo acidentado. A recuperação foi demorada, com três semanas de internamento no hospital desta cidade de Montceau-les-Mines. Os meus filhos estavam presentes, atentos às suas confidências, como se esta história lhes pertencesse também. Os anos passaram e nunca mais tive notícias deles. Ainda os imagino felizes e juntos. Hoje apenas contínuo emocionado ao contar-vos esta linda e autêntica história que faz parte da minha vida. . Manuel Maia Teixeira Fotos do Lago Le Plessis, na Bourgogne, França E do Rio Tâmega, em Amarante, Portugal