“Capitolina Revista” nasceu na Europa e é premiada no Brasil

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Nara Vidal, escritora brasileira radicada no Reino Unido, venceu o Prémio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) para a Literatura na categoria de “Difusão de Literatura Brasileira no Exterior” graças à “Capitolina Revista”, uma publicação digital e gratuita, de grande qualidade, que “surgiu da pandemia”, disse-nos a sua fundadora, que viu a chegada deste galardão como “uma surpresa muito bem-vinda”.

A revista mensal – em fevereiro sairá a edição número 10 – “revela uma lacuna que vem sendo preenchida, uma lacuna que expressa o desejo de escritores em levar sua literatura além do seu território e o desejo de leitores estrangeiros em estarem informados sobre outras literaturas” explica a escritora. “Aqui na Inglaterra, por exemplo, a literatura em língua portuguesa é tão restrita que não se acha muita coisa senão os clássicos, que são maravilhosos. Mas é preciso ler o que está pulsando, o contemporâneo tão cheio de potencial e talento”, conclui.

E quando lhe pedimos para fazer um exercício de memória recente e nos falar do nascimento da “Capitolina Revista”, Nora Vidal recua ao Grande Confinamento da primavera de 2020. “Tenho uma minúscula livraria, a Capitolina Books, na minha casa. Com o isolamento, não era possível fazer entregas eventuais. Para manter a atividade do site, pensei em colocar em prática a ideia de edições, desde que fossem feitas no meu tempo e sem cobranças externas”. Vidal acrescenta que essa alegre ligeireza é o principal garante da revista: “a edição da revista continua sendo um prazer, porque é muito tranquila, sem prazos e fechamentos. É sempre uma alegria confecioná-la; e além do mais tenho compromisso com a inclusão geográfica, de género. São questões importantes já que o meio literário reflete muitos privilégios de camaradagem. Isso é nocivo e inútil para manter a divulgação ampla de qualidade”.

Apesar de ter ganhado na categoria de “Difusão de Literatura Brasileira no Exterior”, a recém-criada revista, nascida do empenho das Diásporas lusófonas na Europa, conta com o contributo da escritora portuguesa Gabriela Ruivo Trindade e da italiana Silvia Gasparoni. E a abertura a todas as Literaturas em língua portuguesa está bem patente nos números até agora editados. Neste próximo número de fevereiro, por exemplo, além da participação de autores brasileiros de nomeada, como Antônio Torres, a “Capitolina Revista” conta igualmente com o contributo de escritores portugueses como Isabel Rio Novo e Nuno Gomes Garcia.

“Eu não gostaria de limitar a Literatura em língua portuguesa na revista à Literatura feita no Brasil. Temos essa riqueza de poder ler Literatura de tantos países sem precisarmos de tradução. É um desperdício se não incluirmos essa produção ampla e vasta. Além do mais, como brasileira, me interessa sempre conhecer o que tem sido feito em Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde…”, explica Nara Vidal. “Ainda é muito restrito o nosso acesso à Literatura desses países. Acredito que a Literatura de Portugal esteja em maior evidência do que as de outros países de língua portuguesa, mas há tanto para se conhecer. A Capitolina busca isso: disponibilizar o que é feito hoje numa espécie de intercâmbio entre nós que temos o português como intersecção”.

E qual o impacto da Literatura brasileira no mundo, nomeadamente no Reino Unido? A resposta da escritora é fulminante: “é muitíssima restrita”. Nara Vidal desenvolve, dizendo que “quando se encontra alguma coisa nas livrarias, as de rede, são sempre traduções de editoras muito grandes ou os clássicos. Machado de Assis, Clarice Lispector e Jorge Amado são sempre vistos nas livrarias, o que nos representa muitíssimo bem. Mas a falta de livros contemporâneos publicados por editoras independentes ilustra esse limite”. A escritora já se projeta no futuro. “Quem sabe um dia haja mais iniciativa que se proponha a quebrar alguns hábitos e disponibilizar literatura de qualidade que ainda é exclusiva a quem fala o português? A gente pode ter essa esperança”.

 

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LusoJornal