Lusa | Filipe Amorim

Centenário de Mário Soares assinalou-se este fim de semana para evocar figura central da democracia


Os cem anos do nascimento de Mário Soares, figura central da democracia portuguesa e antigo Presidente da República, assinalam-se este sábado, efeméride que vai ser comemorada com um vasto programa de iniciativas até dezembro de 2025.

Mário Soares, que morreu em janeiro de 2017, aos 92 anos, desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história contemporânea portuguesa, sendo fundador e primeiro líder do PS após combater o regime do Estado Novo.

Filho de João Lopes Soares, um Ministro na I República, e de Elisa Nobre Baptista, Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, tendo estado omnipresente na vida pública do país, tanto nas décadas anteriores à Revolução de 25 de Abril de 1974, como nos primeiros 40 anos da democracia portuguesa.

Preso político e posteriormente exilado em São Tomé e Príncipe e em França durante a ditadura, Mário Soares regressou a Portugal poucos dias depois da “Revolução dos cravos” e desempenhou o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros nos primeiros Governos provisórios. Liderou os I, II e IX Governos Constitucionais (1976-78 e 1983-85), até chegar à Presidência da República, cargo em que cumpriu dois mandatos (1986-1996).

Durante uma das estadas na prisão, em 1949, casou-se com Maria de Jesus Barroso, então atriz, com a qual teve dois filhos, Isabel, que dirige o Colégio Moderno, e João, que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Deputado e Eurodeputado do PS e Ministro da Cultura no primeiro executivo liderado pelo socialista António Costa.

Em 1943, Mário Soares, licenciado em Ciências Históricas-Filosóficas (1951) e em Direito (1957), aderiu na clandestinidade ao Partido Comunista Português, do qual seria formalmente expulso em 1950.

Desde a fundação do PS, na localidade alemã de Bad Munstereifel, em 19 de abril de 1973, Mário Soares desempenhou o cargo de Secretário-geral dos socialistas portugueses ao longo de 13 anos, até 1986.

Após a revolução de Abril, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros nos primeiros Governos provisórios, esteve envolvido nos processos de reconhecimento da jovem democracia portuguesa e de descolonização da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique e, no plano político interno, sobretudo em 1975, colocou-se na linha da frente contra o PREC (Processo Revolucionário em Curso).

Já como Primeiro-Ministro dos I e II Governos Constitucionais, teve de gerir o regresso de milhares de cidadãos das ex-colónias e uma situação de quase rutura financeira do país, que implicou, pela primeira vez, o recurso do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

A partir de 1977, foi pela mão de Mário Soares que começou o processo de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), concretizado a 12 de junho de 1985, também durante um Governo por si liderado (o IX, do “Bloco Central” PS/PSD).

Pouco depois, em 1986, Mário Soares sucedeu a Ramalho Eanes em Belém, derrotando primeiro outros candidatos de esquerda – Maria de Lurdes Pintassilgo e Salgado Zenha – e, na única segunda volta presidencial até agora realizada, o democrata-cristão Freitas do Amaral. Tornou-se então o primeiro Chefe de Estado civil da democracia, após uma campanha que deixou na memória de muitos portugueses o mote: “Soares é fixe”.

Reeleito em 1991 para um segundo mandato em Belém – este marcado pela conflitualidade política com o então Primeiro-Ministro, Cavaco Silva – o fundador do PS foi ainda foi Eurodeputado (1999) e novamente candidato à Presidência da República (2006), perdendo para Cavaco Silva e sendo ainda ultrapassado nos votos pelo também socialista Manuel Alegre.

Embora formalmente distante da primeira linha política desde 2006, Mário Soares manteve mesmo assim uma intervenção pública regular, que apenas foi interrompida por razões de saúde nos primeiros dois meses de 2013.

Nos últimos anos da sua vida, o antigo Presidente República destacou-se pela dureza das suas críticas ao “neoliberalismo”, ao funcionamento da União Europeia, ao Governo PSD/CDS de Pedro Passos Coelho, mas também à anterior liderança socialista de António José Seguro.

Após a morte da sua mulher, Maria de Jesus Barroso, em julho de 2015, começaram a ser raras as aparições públicas de Mário Soares.

Em 2016, já com a sua saúde debilitada, Mário Soares foi alvo de várias homenagens institucionais, a primeira quando recebeu em abril do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, numa cerimónia reservada, o diploma de Deputado honorário no âmbito dos 40 anos da posse da Assembleia Constituinte.

A 23 de julho, o ex-Primeiro-Ministro António Costa, numa cerimónia pública que se realizou nos jardins de São Bento, prestou homenagem ao I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, por ocasião dos 40 anos da posse deste executivo minoritário do PS.

Mário Soares esteve presente pela última vez numa sessão pública em 28 de setembro de 2016, quando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou a antiga Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa Maria de Jesus Barroso.

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