“Cidália”: Livro do jornalista Ricardo Figueira apresentado hoje no Consulado de Portugal em Lyon

Esta sexta-feira, dia 20 de junho, pelas 18h30, vai ser apresentado no Consulado-Geral de Portugal em Lyon, o livro “Cidália” do jornalista Ricardo Figueira, que trabalhou durante muitos anos na secção portuguesa da Euronews, precisamente na cidade de Lyon. O livro, editado pela Visgarolho, vai ser apresentado pela também jornalista da Euronews Dulce Dias.

Ricardo Figueira vai fazer 50 anos em setembro, nasceu em Lisboa, passou parte da sua vida adulta em Lyon, mas regressou recentemente a Lisboa, embora sempre ao serviço da Euronews.

A pandemia fê-lo retomar o gosto pela escrita. Tem contos publicados em várias coletâneas, incluindo o conto “A Máquina”, na coletânea “Contágios”, dos “Mapas de confinamento”, publicado também pela Visgarolho.

“Cidália” é o primeiro romance que publica e que dedica à mãe “que talvez se tenha cruzado com a Cidália na faculdade”.

“Cidália fará 70 anos dentro de alguns meses. Sozinha em casa, vê-se nua ao espelho e dá-se conta da finitude do corpo e dos efeitos da passagem do tempo. O único filho, Rafael, cumpre uma longa pena de prisão e Cidália está impedida de o visitar devido à pandemia. Confinada no apartamento em Lisboa, onde vive desde jovem, resta-lhe percorrer a galeria de memórias da dor e da alegria, das aventuras que viveu, das lutas que travou e dos homens que amou”. É assim que a editora resume o livro.

Durante 53 capítulos, em cerca de 250 páginas, lemos as memórias de Cidália. Imaginamos como circula por casa, à procura de ocupação, a olhar para fotografias, a bisbilhotar gavetas e a encher cinzeiros de priscas de cigarros.

Ao longo das páginas vamos vendo crescer Rafael, desde que nasceu, quando o pai saiu de casa, como foi crescendo, talvez sobredotado, virado para a música, para o jornalismo, o trabalho na loja de informática… o primeiro namorisco e a Susana, que desapareceu e o fez chorar. Como foi parar à prisão? A resposta chega-nos no fim do livro. Quando a polícia o veio buscar, apenas pediu para abraçar a mãe!

Mas o livro é sobretudo a história de Cidália, desde a rapariga que se deitou, com 17 anos, por baixo de Miguel, o empregado na carpintaria do tio. Fê-lo porque quis, mas não quis mais nada…, só que toda a gente soube e o pai deu-lhe com o cinto que lhe prendia as calças, sem olhar onde lhe batia. Nunca lhe perdoou, nem no dia em que o acompanhou à cova!

Quando o marido – o pai do único filho que teve – saiu de casa com outra mulher, decidiu viver para si. Foi amante do Diretor da escola do filho, passou pela fase em que fazia jogos com a amiga nas discotecas para saber quem levava para casa. “E assim passaram dois anos em que dormi, entre outros, com um que usava óculos de sol na discoteca, um que usava calças vermelhas e camisa azul lisa, um que só bebia gins tónicos e pediu pelo menos cinco e outro que passou a noite encostado ao balcão sem dançar”.

Agora tem quase 70 anos. “Todos os dias me vejo nua ao espelho. É um exercício ao qual me entrego, religiosamente, desde que me conheço e uma das primeiras coisas que faço mal acordo”. É com esta frase que começa o livro, quando Cidália se descreve. É magra e tem seios pequenos. “As mamas caem, pois caem, mas cairiam muito mais se fossem grandes”. Ah!… e tem cabelos brancos. “Cabelos brancos? Uso-os com orgulho. O pior são os cabelos brancos em baixo, esses é que qualquer dia ganho coragem e rapo, que é como se usa agora”.

No capítulo dos agradecimentos, Ricardo Figueira assume que “se escrever é um dos exercícios mais solitários do mundo, há pessoas que nos ajudam a encontrar o caminho neste labirinto que é a escrita e sem as quais o que escrevemos nunca poderia encontrar o seu fim último, o de se ver transformado neste objeto: o livro”.

Por isso agradece à companheira Caterina, “primeira leitora e primeira crítica deste romance”, aos filhos Daniel, Alexandra e Dimitri, ao editor, a dezenas de amigos, e… “a todas as Cidálias que fui conhecendo ao longo da vida e me inspiraram para escrever este livro”.