LusoJornal | Carlos Pereira

Conferência na Mairie de Paris 14 presta homenagem aos Portugueses na Resistência francesa


Por ocasião da entrada no Panteão Nacional francês do Resistente de origem arménia Missak Manouchian e da mulher, um coletivo de estruturas e de personalidades prestaram homenagem, na semana passada, aos Portugueses que integraram a Resistência em França, durante a II Guerra mundial.

Durante a manhã foi deposta uma coroa de flores junto à placa do Resistente António Ferreira, assassinado em Montrouge por um oficial alemão. De tarde, na Sala de Casamentos da Mairie do 14° bairro de Paris, foi organizada uma conferência com os historiadores Marie-Christine Volovitch-Tavares, Cristina Clímaco e Georges Viaud.

Ao mesmo tempo, também em Bordeaux se prestava homenagem aos Portugueses que integraram a Resistência. Toda esta iniciativa deve-se a Manuel Dias, cofundador do Comité Aristides de Sousa Mendes.

“Este é o momento oportuno para lembrar que muitos estrangeiros integraram a Resistência e entre eles havia um certo número de Portugueses” explicou Marie-Christine Volovitch-Tavares, na introdução da conferência. “Os Portugueses eram menos do que os Espanhóis e do que os Italianos, porque naquela altura havia bem menos Portugueses em França”.

Cristina Clímaco, historiadora da Universidade de Paris 8, fez a intervenção de fundo.

Dos Portugueses que entraram em Resistência, alguns foram soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) que combateram em França durante a I Guerra mundial e que por aqui ficaram, ou então, depois de desmobilizados em Portugal, regressaram a França. Estes estavam mais predispostos para combaterem os Alemães, que já tinham combatido durante a Grande Guerra.

Havia também os Portugueses que vieram para França para trabalhar nas fábricas e na agricultura durante a I Guerra mundial, ao abrigo do acordo de mão de obra entre Portugal e a França. Também muitos deles regressaram a França no fim da Guerra.

Viviam ainda em França muitos exilados políticos que constituíram a elite Republicana que se opôs à Ditadura em 1926.

A estes, juntaram-se muitos Portugueses que foram combater na Guerra civil espanhola, pelos Republicanos, e que, no fim da guerra, se refugiaram nos campos de concentração do sul da França, nomeadamente no Campo de Gurs que vai fazer no próximo mês 85 anos. Na verdade, estes Portugueses seguiram o percurso dos Republicanos espanhóis, já que não podiam regressar a Portugal, sob pena de serem perseguidos pelo Estado Novo.

Quando a França entrou em Guerra, muitos Portugueses alistaram-se nos Regimentos de Marcha, na Légion Etrangère e até no Exército francês para aqueles que tinham a nacionalidade portuguesa.

Quando em 1940 uma parte dos Franceses entrou em Resistência, muitos Portugueses fizeram-no também. “Podemos falar de uma Resistência portuguesa” afirma Cristina Clímaco.

Por vezes trataram-se de atos espontâneos de Resistência, outras vezes tratou-se de uma Resistência organizada que, por exemplo, no caso da família Pinho, implicou o pai, a mãe e o filho.

“Por vezes eram atos de Resistência passiva, ou pequenos gestos de Resistência, que contribuíam para lutar contra as forças Nazis”. Cristina Clímaco contou o caso de Fernando Fernandes, com apenas 18 anos de idade, que colocava ratoeiras de arame para apanhar os Alemães. Um dia foi apanhado, condenado a 6 meses de cadeia, voltou a ser julgado, e apanhou 10 anos de trabalhos forçados. Nunca regressou.

Pouco a pouco, com exemplos concretos, Cristina Clímaco contava como se exprimiu essa Resistência portuguesa. Inácio Anta, que passou precisamente pelo Campo de Gurs, dirigiu uma secção de fabricação de explosivos. A família Neves foi torturada e deportada. Odete Fernandes era datilógrafa no Ministério da Educação, mas albergava Resistentes e ajudava-os a fugir.

Em 1944, depois do apelo do General de Gaule, a entrada em Resistência intensificou-se e são muitos os exemplos que se conhecem de Resistentes portugueses.

“Se me perguntarem quantos Portugueses entraram em Resistência, não sabemos dizer. Para já eu vou com uma lista de uns 500” diz Cristina Clímaco.

Por sua vez, o historiador Georges Viaud diz que já contabilizou 1.583 Resistentes portugueses.

Filho de uma mãe portuguesa e um militar francês, nascido em Lisboa, Georges Viaud trabalhou essencialmente na Basílica de Saint Denis e mais tarde interessou-se pela I Guerra mundial, daí ser o Presidente da Delegação de Paris da Liga dos Combatentes Portugueses. Interessa-se agora pela participação de Portugueses na II Guerra mundial e em particular na Resistência.

Um destaque foi dado à Divisão que libertou Paris, sob comando do General Leclerc, e em particular da primeira brigada que entrou na capital, “La Nueve” constituída essencialmente por Republicanos espanhóis, e onde havia pelo menos dois Portugueses.

Este episódio da história comum a Portugal e à França ainda é pouco conhecido. Em Portugal a equipa do historiador Fernando Rosas tem trabalhado neste assunto, com a colaboração de Cristina Clímaco, e o jornalista José Manuel Barata Feyo escreveu um livro sobre este tema. Pouco a pouco têm surgido outros livros.

Também em França foi publicado, nos anos 2000, um livro intitulado “O Gaiteiro” que conta a história do pai do autor, Manuel da Silva, que entrou na Resistência em Limoges.

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