Covid-19: António Capela: Preocupa-se com uma parte importante da Comunidade, em idade considerada de risco

António Capela é empresário, mas é também o Conselheiro das Comunidades Portuguesas eleito na região de Toulouse.

António Capela já anunciou que não se recandidata ao CCP, mas considera que esta situação de pandemia por causa do Covid-19 mostra a importância da rede consular portuguesa no mundo.

 

Como está a passar este período?

Neste momento encontro-me em Toulouse, onde estava desde o primeiro dia. Tenho estado entre casa e o meu escritório, sem contacto com ninguém, uma vez que a empresa da qual sou proprietário se encontra encerrada, e devemos respeitar o isolamento social. Encontro-me sobretudo a acompanhar a situação empresarial e económica da região, no que me diz respeito, mas também em contacto diário com diversos empresários de origem portuguesa, e com instituições francesas. Sobretudo a preparar o regresso à atividade, que apesar de ainda não sabermos quando será, terá de ser com ânimo e de forma bem preparada e estruturada.

 

Está preocupada com a situação atual de pandemia?

Julgo que a preocupação é transversal às sociedades nos vários países afetados. A única coisa que difere é a velocidade e o momento em que fomos afetados. Estou sobretudo preocupado com a saúde de todos os que já foram afetados e dos que poderão ver o seu estado de saúde impactado no futuro. Preocupa-me igualmente uma parte importante da nossa Comunidade, que está já em idade considerada de risco. Espero francamente que todos cumpram as indicações impostas, e que na retoma possam seguir todos os conselhos diários. Acima de tudo, que retomem de forma gradual e prudente. Não podemos mais tarde deitar tudo a perder. É um sacrifício para todos, e irá ter custos pessoais e profissionais para muita gente. Mas o bem comum e a saúde de todos deve estar sempre em primeiro lugar.

 

Quando esta situação estiver ultrapassada, o que espera do ‘novo mundo’?

Do novo mundo espero que a sociedade faça as suas reflexões, que tire as suas ilações, e que possa estar mais preparada, para situações de emergência como esta. Quanto à Comunidade portuguesa, julgo que este é um momento em que Portugal, e os seus dirigentes, devem refletir muito bem sobre o desinvestimento que tem sido feito anos após anos na rede consular. Não está sequer em causa a atualidade. Os responsáveis institucionais têm revelado sentido de estado e feito o melhor que podem. O que está em causa neste momento, é que com esta pandemia, todos se lembraram que havia Consulados e Embaixadas, e eram eles que em última linha iriam acudir aos milhares de Portugueses espalhados pelo mundo. Irá ser importante reforçar as decisões na área da saúde, mas também contribuir para uma rede consular no mundo mais capaz. Com mais funcionários, com mais meios e com uma ainda maior intervenção social localmente. Nas últimas semanas recebi dezenas de telefonemas para me questionarem sobre as mais diversas questões, em grande maioria sociais. Tanto para deslocações para ou de Portugal, com destino a França, como com problemas financeiros para regressar ao país, como com diversos problemas sociais locais, muitos deles relacionados com o confinamento e com as diretrizes a executar quer pessoal quer profissionalmente. Estes são alguns dos exemplos, que provam que um Técnico de serviço social faz falta ao Vice-Consulado de Portugal em Toulouse. Não menos importante é o reforço da implementação e credibilização do CCP. Este é um órgão que hoje em dia, no terreno, ficou e está próximo dos cidadãos, e como ninguém, conhece a problemática das questões relacionadas com a Comunidade portuguesa. No dia em que dou esta entrevista, estive a gerir um caso em que fui contactado, sobre uma situação de transferência de um cidadão de um estabelecimento prisional de Toulouse para Portugal. Uma questão que, pelo que pude perceber, já deriva das medidas sanitárias em França. Mas como tem acontecido em diversas situações, fui contactado. Pelo que tenho conhecimento, a rede consular tem estado alerta e a trabalhar, apesar dos postos estarem encerrados, mas num futuro próximo e num novo mundo, esta rede deve ser repensada e fortalecida. A Comunidade portuguesa dispersa pelo mundo precisa desta rede consular forte, neste novo mundo cheio de desafios que vamos enfrentar. Os casos sociais vão-se multiplicar, e as enchentes dos postos vão-se avolumar devido às semanas em que não houve atendimento. Milhares de empresários de origem portuguesa irão provavelmente enfrentar problemas, e múltiplas dificuldades. Sem uma articulação forte e próxima, este novo mundo será um mundo negro e sombrio. Cabe a cada um de nós, principalmente aos que têm responsabilidades de as assumir, e de estar junto de quem precisa.

 

[pro_ad_display_adzone id=”37510″]

LusoJornal