David Gomes: “Nós não necessitamos de tantos Consulados no interior da União Europeia”

O empresário David Gomes, que foi durante alguns anos membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), foi agora eleito Maire-Adjoint de La Chapelle Saint Mesmin (45), nos arredores de Orléans, com o pelouro das obras públicas e do desenvolvimento económico.

Natural de Esposende, David Gomes veio para França há 29 anos, em 1991, esteve também ligado à rádio e chegou mesmo a criar uma revista, a revista Caravela, e é membro da Secção de Paris do PSD.

“Desde muito cedo comecei a interessar-me pela política. O meu pai era autarca na região de Esposende e eu, desde os meus 16/17 anos, tenho acompanhado as campanhas eleitorais e sempre me interessei pela vida pública e pelo mundo associativo” disse numa entrevista “live” ao LusoJornal, conduzida por Vítor Oliveira.

David Gomes já tinha sido candidato duas vezes, sem ser eleito, e à terceira concorreu na lista do atual Maire. “Desta vez tive a felicidade de ser eleito e agradeço a todos aqueles que a um dado momento pensaram em dar-me uma oportunidade para integrar uma lista num lugar elegível. Hoje tenho um prazer enorme e é uma honra enorme para mim, poder participar na vida coletiva da cidade onde resido”.

 

Progressão importante

David Gomes está contente com a progressão “portuguesa” nas eleições municipais francesas. “Eu estou sinceramente satisfeito por ver que há uns 10 anos para cá a evolução tem sido muito positiva. Há 20 anos havia uma participação mais pequena e com o passar dos anos houve momentos de grande dúvida da participação portuguesa dos nossos compatriotas na vida política francesa, mas acho que há uns 10 anos para cá, nestes dois últimos mandatos, houve uma progressão enorme no número de luso-eleitos” diz David Gomes.

O novo autarca de La Chapelle Saint Mesmin considera que não se trata apenas de lusodescendentes que nasceram cá, “mas há outra grande fonte de satisfação para mim, neste aspeto, que é ver que há muitos eleitos que são da primeira geração” e citou o exemplo de Vasco Coelho, na região parisiense, Álvaro Pimenta, na região de Bordeaux e Carlos dos Reis, na região de Orléans.

Outro motivo de satisfação para David Gomes é a eleição de muitos Maires. “Há 10 anos contavam-se pelos dedos de uma mão”, mas hoje, reconhece a existência de cada vez mais autarcas de origem portuguesa, destacando o exemplo de Dourdan, na região parisiense, onde recentemente instalou a sua empresa, e onde o Maire é o português Paolo de Carvalho.

“Eu próprio, durante muitos anos quis viver a minha cidadania portuguesa em França, sempre ligado exclusivamente a Portugal e à vivência portuguesa” explica ao LusoJornal. “Há uns anos ouvi dizer a pessoas com cargos políticos de mais alto nível, que ser um bom português em França é ser um bom francês. Eu levei anos para tomar consciência disso”. Entretanto, David Gomes adquiriu a nacionalidade francesa. “Adquirir a nacionalidade francesa, permite-nos exercer uma cidadania completa, e não nos retira nada ao facto de sermos Portugueses”. Até porque, considera David Gomes, podem ser ainda mais úteis a Portugal.

 

Conselho das Comunidades Portuguesas

David Gomes foi membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, eleito na área consular de Paris. “Eu sempre pensei que o Conselho das Comunidades Portuguesas é um inspirador das políticas do Governo para a nossa área” diz ao LusoJornal quando questionado por Vítor Oliveira. “Os Governos têm tido uma apreciação diferente quanto ao papel do CCP. Há forças políticas que dão um papel importante ao Conselho e outras que lhe reconhecem apenas um papel de consulta, sem grande relevo” acrescentando que “acho que um dos melhores anos no Conselho das Comunidades foram certamente os anos da presidência de Carlos Pereira. Foram anos em que o Governo era muitas vezes criticado, mais isso às vezes até dava valor ao próprio Governo”.

“Antes havia mais tomadas de posição do que agora e essas tomadas de posição eram muito mais exprimidas, houve manifestações diante dos Consulados e diante da Coordenação do ensino, havia sindicatos que interviam e eu acho que hoje ouve-se muito menos falar do Conselho das Comunidades, acho que nessa altura até os próprios Governantes eram obrigados a agir porque a pressão era muito maior”.

 

Cidadania europeia

David Gomes defende um registo civil comum para todos os cidadãos da União Europeia para podermos obter os documentos de identificação portugueses nas Mairies francesas. “É necessário progredir naquilo que é a construção da cidadania europeia. Para mim, acho que seria muito simples. Nós já partilhamos vários recursos da União Europeia, os orçamentos de Estado são postos em comum, as políticas são comuns, neste tipo de coisas que são consideradas meramente administrativas, já não há lugar para tantos Consulados e tantas Embaixadas e ainda por cima no interior da própria União Europeia. Que o dinheiro gasto nos Consulados, fosse utilizado para dar um acesso, para criar serviços nas Mairies em França e nos outros países da União Europeia e pôr em comum esse acesso aos documentos administrativos. Hoje todos nós pertencemos à Europa e isto não tira nenhuma soberania aos serviços centrais portugueses, nem a Portugal”.

David Gomes considera que os Cônsules de carreira podem ser substituídos por Cônsules honorários

Interrogado por Vítor Oliveira sobre a necessidade de criar postos de apoio social nos Consulados, David Gomes considera que não deve ser prioridade. “Na prática quando um português está em grandes dificuldades raramente é o Consulado que lhe vai dar abrigo ou alimentação, são associações, são as instituições de solidariedade. A França tem esses dispositivos”. E acrescenta que “nós já participamos com os nossos impostos, os deveres nós vamos respeitando, temos de exigir também os direitos”.

David Gomes deixa um conselho: “O conselho que eu daria hoje a um português que chega ao estrangeiro, que chega por exemplo a França, é de imediatamente viver a cidadania francesa”.

 

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