LusoJornal / Carlos Pereira

Diretor do Jornal Avante veio animar formações para os Comunistas portugueses de França

O Diretor do Jornal Avante, Manuel Rodrigues, esteve este fim de semana na região parisiense, onde animou uma série de ações de formação dirigidas ao núcleo da organização do Partido Comunista Português em França.

No sábado as formações tiveram lugar na sede do núcleo do Partido Comunista Francês em Paris 12, e no domingo tiveram lugar em Nanterre. Participaram algumas dezenas de dirigentes do PCP em França.

Manuel Rodrigues aceitou responder às perguntas do LusoJornal.

 

Que tipo de formação é esta?

Esta é uma ação regular, que nós estendemos a todos no Partido, seja aos núcleos no estrangeiro, seja nas organizações em Portugal. Procuramos desenvolver formação, reflexão, sensibilização, em torno de questões que são centrais para o desenvolvimento do nosso trabalho. Neste caso, em Paris, estamos a debruçar-nos sobre o programa o os estatutos do PCP, com todas as questões complementares que é necessário ter presentes quando se abordam este tipo de matérias, nomeadamente o valor da própria Teoria Marxista Leninista no ano em que estamos a comemorar o segundo centenário do nascimento de Karl Max, os objetivos pelos quais luta o PCP, como se organiza e porque se organiza desta forma, a sua natureza de classe, os traços e as caraterísticas essenciais de um Partido Comunista, vertidos nos estatutos do Partido e o tipo de sociedade porque luta, conjugando objetivos imediatos nesta luta com os objetivos supremos que são a construção do socialismo e do comunismo em Portugal.

 

O núcleo Comunista em França não está tão organizado como esteve no passado…

Não acompanho as questõas da emigração, por isso não posso aborda resta questão. Mas o objetivo do PCP é de reforçar o Partido. Aliás estamos perante uma campanha que foi aprovada na sequência do Congresso que organizámos em finais de 2016 e a 20 e 21 de janeiro, no Comité Central, aprovámos uma Resolução tendo em vista o reforço do PCP e portanto estamos empenhados numa grande ação com vista ao reforço do PCP. E quando falamos de reforço do PCP é a todos os níveis, também nas Comunidades de emigrantes, é o reforço do PCP tendo em conta a sua natureza, em primeiro lugar nas empresas e locais de trabalho, com a criação de células, temos um plano de contacto com 5.000 trabalhadores tendo em vista sensibilizá-los para a adesão ao PCP, é a entrega do novo Cartão do Partido, que também vamos fazer nas Comunidades de emigrantes, mas é também o trabalho do PCP com vista ao ser reforço em camadas e estratos específicos, como é o caso dos quadros técnicos, intelectuais, mulheres, deficientes, é o caso dos micro, pequenos e médios empresários, dos pequenos e médios agricultores, dos reformados, em que estamos também emprenhados em desenvolver estrutura e aprofundar o nosso trabalho. E nesta base, estamos também a fazer este trabalho junto destes núcleos nas nossas Comunidades de emigrantes com desenvolvimentos desiguais porque aqui em Paris terão caraterísticas diferentes de outras Comunidades. Estive recentemente presente numa ação parecida com esta na Suíça, onde temos um núcleo forte, aqui temos este núcleo com as suas caraterísticas próprias, mas estamos a fazer um trabalho para reforçar a presença do Partido e a intervenção também no meio dos nossos emigrantes.

 

Em Portugal, o PCP tem resistido a esta vaga europeia que tem enfraquecido os Partidos Comunistas. Por exemplo em França o PCF tem-se apagado completamente…

Sem querer comprarar com outros países e outros Partidos, cada um tem a ação que desenvolve e os objetivos pelos quais se bate, mas nós, de facto em Portugal temos uma expressão muito forte, que vai muito para além da nossa expressão eleitoral, que mesmo assim é significativa. Temos uma expressão e uma influência social que é reconhecida. Precisamos naturalmente de reforçar, e daí esta campanha, mas temos de facto uma boa implantação…

 

E não vai ter de mudar de nome, como acontece com outros Partidos?

Não. Não vai mudar de nome, seguramente, nem de objetivos, nem de princípios orgânicos. Vai continuar nesta forte ligação às massas, sempre, com os trabalhadores, com o povo, sempre, aliás é um cordão umbilical vital para um Partido com a nossa natureza, que se assume como um Partido de classes, da classe operária e dos trabalhadores em geral, mas englobando também as camadas anti-monopolistas, os micro, pequenos e médios empresários, os pequenos e médios agricultores e depois uma série de camadas que por natureza do tipo de interesses que têm a defender, só os conseguem defender se estiverem efetivamente deste lado, porque o capital monopolista é absolutamente demolidor, é um cilindro compressor que, relativamente a essas classes, as afixia, as sufoca, tenta cilindrar completamente. Portanto é este trabalho que desenvolvemos e que necessitamos de reforçar. Valorizando sempre dinâmicas que consideramos que são fundamentais para a transformação da sociedade.

 

E quais são essas dinâmicas?

Uma, é o reforço do Partido Comunista português. Desde que Marx, cujo segundo centenário do nascimento celebramos este ano, constatou e teorizou muito bem que os filósofos se limitaram durante uma determinada fase a interpretar o mundo, e o que faz falta é transformá-lo. Ou seja, é uma teoria que associada à prática, esteja voltada para a transformação da humanidade. Constatou também que, sem Partidos Comunistas fortes e intervenientes, não é possível essa transformação. Por isso, precisamos de um Partido Comunista em Portugal forte, precisamos de reforçar o PCP, para reforçar a sua influência, para reforçar a sua intervenção. Estamos a trabalhar nesse sentido. Precisamos de recrutar mais membros, melhor organização, melhor intervenção, reforço em particular nos locais de trabalho, e com todas as dinâmicas que é necessário desenvolver.

 

O objetivo central continua a ser a luta de massas…

Sem luta de massas não vamos lá. Não há transformação possível, aliás o fator decisivo na transformação da sociedade, é a luta de massas. É a luta dos trabalhadores, a classe operária à frente, mas depois todos os trabalhadores, todas as camadas anti-monopolistas, é necessário atrair à luta, levar à luta, em defesa de interesses próprios, de direitos próprios, numa ação reivindicativa à volta de coisas concretas, não de objetivos abstratos, não deixando cair aquilo que para nós são os objetivos supremos, isto é, a ideia de que só resolveremos todos os problemas de fundo quando um dia conseguirmos a construção de uma sociedade em que eliminaremos o fator da exploração, da exploração do homem pelo homem. A luta de massas é determinante e muitas lutas estão a acontecer em Portugal. Ainda este fim de semana houve uma manifestação dos trabalhadores da administração pública, no dia 10 houve uma manifestação para celebrar o Dia internacional da mulher, uma manifestação em Lisboa, promovida pelo MDM, Movimento Democrático das Mulheres, que levou às ruas de Lisboa milhares de mulheres e homens numa luta comum pela igualdade, pela emancipação e estão a ser planificadas lutas diversas, no dia 28 de março para celebrar o Dia mundial da juventude, haverá uma manifestação de jovens trabalhadores, promovida pela InterJovem da central sindical CGTP-In,…

 

O PCP explorou bastante a questão dos jovens emigrantes e levou ao debate público a emigração. Mas não levou para o mesmo debate público, as questões das Comunidades. Parece que o importante era a emigração e não a vida na emigração. Os jovens só foram importantes quando emigraram, depois de passarem a fronteira deixaram de ser assunto. As Comunidades não surgem no debate público porquê?

Nós não comandamos os órgãos de comunicação social e louvamos a vossa ação, num sinal de reconhecimento pela vossa atitude que procuram, até por esta forma concreta, divulgar as nossas posições, mas em geral, a Comunicação social portuguesa faz uma cortina de silêncio, e para além do silêncio, de deturpação da nossa mensagem e do nosso combate, mas nós temos tido ações, propostas, quer no Parlamento Europeu, quer na Assembleia da República, em Portugal, quer no trabalho e dinâmica criada junto das nossas Comunidades de emigrantes, no sentido da valorização e defesa da língua portuguesa, dos direitos dos emigrantes, da dinamização das Comunidades emigrantes,…

 

E não conseguem levar isso a público como levaram a emigração de jovens?

Levantámos essa questão, mas também temos levantado as outras. Essa passou mais facilmente porque aquilo que se passou em Portugal não foi a saída de uns milhares, foi a saída de centenas de milhares durante o período de vigência do Governo anterior…

 

Só em França há mais de 1,2 milhões de Portugueses, não estamos a falar ‘apenas’ de algumas centenas de milhares,…

Precisamos de levar mais longe esta questão, mas nós temos levado e dinamizado essa luta em defesa dos interesses e diretos dos emigrantes e das suas Comunidades e da valorização da sua intervenção.

 

Então, este ‘apagão’ em Portugal é devido à imprensa portuguesa e não propriamente devido à inação dos Partidos sobre estas matérias?

No que diz respeito ao PCP, a nossa dinâmica, a nossa luta, esse tipo de objetivos estão presentes e têm estado presentes, mas é verdade que tem passado pouco para o exterior. Mas se lêr o Jornal Avante verá que se fala lá.

 

Falamos precisamente do Avante. Tenho a impressão que, em França, o L’Humanité fala mais para fora do Partido, enquanto que em Portugal o Avante fala mais para o interior do Partido. É uma impressão minha?

Está enganado. O Avante fala para dentro porque é o órgão central do PCP, e portanto tem um papel na dinâmica e no reforço da organização do PCP, porque é uma componente essencial na transformação da sociedade. Não há transformação da sociedade possível sem um Partido Comunista que aponte e seja até vanguarda nesse processo de transformação, e portanto é natural que o Avante, como órgão central do PCP, procure ter uma dinâmica que leve ao reforço do próprio PCP, porque uma coisa e a outra são indissociáveis, mas depois tem uma mensagem para fora. Não vê nenhum outro jornal em Portugal, órgão de comunicação social em geral, que tanto fale da luta dos trabalhadores.

 

Nas revistas de imprensa matinais em França, o L’Humanité é sempre um jornal citado, enquanto em Portugal o Avante não é referenciado…

O modo como depois as revistas de imprensa pegam ou não pegam, se marginalizam ou não marginalizam, é um problema de barreira e que é da responsabilidade deles. O Avante procura falar para fora. Procura precisamente falar para as camadas para as quais se dirige que é a imensa maioria do povo português. O Avante procura espelhar os interesses e dinâmicas de mais de 70% do povo português. Ou seja, os interesses dos trabalhadores, das mulheres, dos jovens, dos deficientes, dos reformados, dos quadros técnicos, dos intelectuais, dos micro, pequenos e médios empresários, ou seja, estamos a falar, com isto tudo, de 80 a 90% da população. Procura passar essa mensagem, e em nenhum outro jornal nós encontramos a forma como o Avante está estruturado. Temos sempre 3, 4, por vezes 5 páginas dedicadas às lutas dos trabalhadores, 2 ou 3 páginas dedicadas às questões nacionais gerais, 2 a 3 páginas sempre dedicadas às questões internacionais, numa leitura de classe e anti-imperialista, 2 páginas sempre dedicadas às questões da Europa, além de temas culturais diversos, por exemplo esta semana tratamos, como estamos a comemorar o segundo centenário do nascimento de Marx, das Revolução de 1848, em França. Nesta edição temos um artigo sobre o Dia Nacional da Floresta que é no dia 21 de março, sobre as questões da floresta que é um assunto que estamos a viver intensamente, ainda na sequência daqueles dramas dos incêndios do ano passado. Estamos a fazer um esforço para que o Avante seja mais vendido, ser mais lido, mais divulgado, porque também precisamos que ele seja mais divulgado.

 

E de que forma o Avante aborda as questõas relacionadas com as Comunidades?

Sempre que há propostas do PCP na Assembleia da República, sempre que há questões levantadas pelos emigrantes, sempre que as nossas Comunidades fazem chegar questões ao Avante, nós divulgamos.

 

Como falou de 80% a 90% dos Portugueses, refere-se a Todos os Portugueses ou apenas aos que moram em Portugal?

Se considerarmos os trabalhadores, os micro, pequenos e médios empresários, as mulheres, os jovens, as pessoas com deficiência, os intelectuais e quadros técnicos, estamos a falar de uma população elevadissima da população portuguesa. Do ponto de vista de classe, os que moram fora inserem-se no mesmo tipo de classe.

 

 

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