Home Empresas Diretor Geral da CGD/França diz que Sindicatos grevistas querem excluir os outros SindicatosCarlos Pereira·17 Maio, 2018Empresas Há 30 dias que uma parte dos trabalhadores da Sucursal da Caixa Geral de Depósitos em França, está em greve. Pela primeira vez neste conflito, ontem à tarde, a Direção da Sucursal respondeu às perguntas do LusoJornal. O Diretor Geral da Sucursal, Rui Soares, explica qual é o posicionamento da Direção do banco público, quais são, na sua opinião, os pontos de bloqueio e dá detalhes sobre alguns dos assuntos que têm estado em cima da mesa das negociações. Em que ponto estão as negociações com os Sindicatos? Temos tentado manter uma postura muito construtiva de diálogo, na tentativa de responder aos cadernos reivindicativos. Como sabe há 4 Sindicatos representados na Sucursal da Caixa em França, dois deles apelaram à greve. Nós tentamos responder aos cadernos reivindicativos de todos os Sindicatos, como é óbvio, e apresentamos uma proposta concreta respondendo às principais preocupações dos colaboradores da Caixa. Mas que temas têm estado em cima da mesa? São cadernos reivindicativos bastante longos. Por exemplo, para ter uma ideia, uma das reivindicações é de um aumento salarial de 560 euros. Ora, 560 euros é um valor superior a um terço do salário mínimo francês e um valor praticamente equivalente ao salário mínimo nacional em Portugal. São valores que dão uma ideia do que é a tipologia do caderno reivindicativo. A nossa resposta é negativa em relação aos 560 euros, mas obviamente houve uma resposta concreta relativamente a um aumento salarial normal, em linha com a situação do mercado. Aliás, os salários da Sucursal não estão desfasados da situação do mercado. Os nossos salários são superiores ou iguais aos bancos franceses. Os nossos salários estão alinhados com as médias dos bancos franceses e com a convenção coletiva dos bancos. Esta reivindicação até teria alguma lógica se estivéssemos na ilegalidade ou se estivéssemos a pagar as pessoas abaixo da média, mas não estamos. Se percebi bem, a principal reivindicação dos Sindicatos, tem a ver com a preocupação de saber se efetivamente vão ou não vender a Sucursal em França. Em relação a este ponto, há alguma resposta concreta? Essa também era a nossa sensibilidade, de que seria essa a razão principal das reivindicações, a preocupação global dos trabalhadores da Caixa. Mas posso-lhe dizer que a greve continua e já houve respostas muito claras em relação a este assunto. Já foi respondido por carta, aquilo que já tinha sido dito pela Comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos na Assembleia da República, de que a aposta é no desenvolvimento da Sucursal de França. A Caixa está em França e estará em França. Esta é a aposta que é feita pela Administração da Caixa Geral de Depósitos. Houve uma comunicação pública, que foi reiterada por carta formalmente. O que significa que este era um aspeto principal das reivindicações, mas seguramente haverá outros. Só para ter uma ideia, nós temos 48 agências e hoje estiveram abertas ao público 45. Está a dizer-me que o impacto da greve não é grande? Uma greve é sempre uma greve. Só o facto de haver greve já é mau. Para mim é um aspeto importante. Uma greve nunca é uma situação natural. Aquilo que pretendemos é que termine a greve, obviamente. Temos perfeita consciência que esta greve é lesiva daquilo que é o interesse dos nossos clientes, que são afinal a razão do nosso trabalho em França. Nós existimos para prestar um serviço aos nossos clientes, como qualquer outra empresa. Sobre a questão da manutenção da Sucursal considera que está respondido, sobre a questão dos salários disse-me que há uma contraproposta, então o que está neste momento a bloquear as negociações? Nós fizemos uma proposta global, relativamente ao caderno de reivindicações. Não respondemos que sim a todos os pontos, mas respondemos a todos os pontos que foram apresentados, de uma forma extremamente construtiva e numa lógica de diálogo com todos os Sindicatos do banco. Acontece que os Sindicatos que apelaram à greve têm vindo a abandonar a mesa das negociações excluindo os outros Sindicatos, dizendo que querem que haja uma negociação exclusivamente com os representantes dos grevistas, digamos assim, e não com todos os Sindicatos. Neste momento trata-se então de uma questão de forma e não de uma questão de fundo? A questão é de negociar com todos ou a exclusão de alguns Sindicatos. Ou seja, alguns Sindicatos consideram que é fundamental excluir os outros Sindicatos. E nós consideramos que o banco é uma instituição em que todos os Sindicatos, todos os colaboradores, todas as partes, devem encontrar as soluções para o problema que existe, como é óbvio. Porque, de todos os nossos colaboradores, a maioria está ao trabalho, e esta matéria é fundamental. É isso que permite que o banco responda às necessidades dos nossos clientes, obviamente às vezes com problemas, como é evidente, mas permite que se dê uma resposta clara aos nossos clientes. Esta é uma questão que envolve todos os trabalhadores e não envolve apenas os trabalhadores em greve. Não há razão nenhuma para não abrir o diálogo aos Sindicatos que foram legalmente eleitos. Antes de haver este bloqueio, foram avançadas propostas negociais, foram discutidos determinados assuntos, sendo que até hoje ainda não houve nenhuma contraproposta por parte dos Sindicatos que apelaram à greve. Os outros dois Sindicatos já apresentaram contrapropostas mas aguardamos ainda que haja apresentação de contrapropostas por parte dos Sindicatos que apelaram à greve. Mas digamos que eu diria que há aqui uma lógica de exclusão, uma lógica de impedir que todos encontramos soluções. As soluções não se encontram excluindo ninguém, este é um princípio básico. A Caixa quer sempre respeitar a legalidade e que as soluções se encontram com a participação de todos os intervenientes. Só assim é que se consegue ser construtivo. Em seu entender, qual é a saída para esta situação de bloqueio? Não diria que haja bloqueio. Digamos que é um passo dentro do processo global de negociação. Tem sido um processo coletivo de diálogo contínuo, numa tentativa, por parte da Caixa Geral de Depósitos, de encontrar soluções, tentando encontrar o mínimo denominador comum dos interesses envolvidos. E há muitos interesses envolvidos. Ainda há dois anos, por esta mesma altura houve uma situação de greve na Sucursal da Caixa Geral de Depósitos em França, a que se devem estas situações repetidas de greve na Caixa? São situações bem diferentes. Na altura houve determinados problemas que foram resolvidos. Agora surgiu esta questão da manutenção, criou-se esta preocupação da manutenção da Sucursal, que foi claramente reiterada por várias vezes, o nosso Administrador do pelouro veio cá há vários meses falar do assunto e a matéria ficou clarificada, mas há sempre que levante estas questões e dúvidas. Mais uma vez foi sobejamente clarificada qual era a posição e a perspetiva do Conselho de administração da Caixa. Ao ser desbloqueada esta situação, depois surgem outros interesses, que para nós não estão lisiveis porque dois Sindicatos ultimamente levantam-se da mesa, porque querem excluir os outros, e não me parece algo que seja razoável. Havia uma outra questão levantada inicialmente, sobre problemas informáticos. Esse assunto tem estado presente na mesa das negociações? Hoje em dia vivemos num mundo digital e a tecnologia tem um papel fundamental. Nós continuamos a valorizar essencialmente os recursos humanos, mas esses recursos humanos resolvem cada vez mais os seus problemas em cima da tecnologia e todos nós ansiamos por ter melhores respostas tecnológicas para melhorar os nossos desempenhos. É evidente que também a tecnologia é matéria relevante do ponto de vista do melhoramento do banco. Sim, claramente. De todos os bancos. Evidentemente que quanto maior é um banco, maior capacidade tem para testar novas tecnologias. Um banco com a dimensão da Caixa em França, mesmo que aproveitando muita tecnologia da casa mãe, tem de proceder à sua adaptação ao mercado francês, portanto não lhe permite ser tão rápido como um grande banco na implementação de determinadas tecnologias. Há portanto uma aspiração para que o banco que deu passos muito significativos, quer do ponto de vista da banca à distância, quer da banca móvel, dê passos muito mais consequentes ainda para atingir o patamar igual aos grandes bancos em França. A nossa oferta do ponto de vista digital ainda não é absolutamente igual, infelizmente, como nós desejávamos. Para si, este não é um problema que possa levar a uma greve? A tecnologia foi dos temas mais falados no início, mas depois deixou de ser um tema. Há uma intenção de todos de investir nesta matéria, todos perceberam qual é a evolução natural, agora não é a temática determinante na mesa negocial. Atualmente há alterações legais muito importantes, que as pessoas talvez não valorizem no seu posto de trabalho, porque há constrangimentos tecnológicos que são resultados das alterações legais. São alterações legais que não trazem nenhum valor acrescentado para quem está à frente do seu posto de trabalho, compreende-se. A realidade é que o banco tem vindo, nos últimos anos, a aumentar o seu volume de negócios, do ponto de vista quer dos créditos, quer dos depósitos, temos um nível de rentabilidade perfeitamente comparável com a média do setor. Isto significa que temos crescimentos muito interessantes, o que mostra perfeitamente que temos capacidade para competir no mercado. As nossas equipas são, de facto, equipas extraordinárias, capazes de termos um banco de nicho, porque somos um banco que não trabalha no mercado globalmente, nós trabalhamos em determinados nichos de mercado muito específicos, onde temos vantagens competitivas fortes, muito baseadas nas competências das nossas equipas e portanto isso obriga também a ter uma tecnologia que permita fazer com que tudo seja muito à medida do cliente. Isso obriga também, de facto, a uma capacidade grande de articulação entre tecnologia e equipas humanas para responder aos nossos clientes. É isso que fazemos constantemente e é isso que nos permite de facto crescer em crédito e em depósito. São crescimentos muito significativos e com níveis de rentabilidade, dentro do grupo, que são do conhecimento público, quer do ponto de vista do nosso contributo global para o grupo, quer do ponto de vista da nossa rentabilidade no mercado. Há uma parte do negócio da Sucursal da Caixa em França, que Portugal recuperou. Uma parte parte muito lucrativa. Ficou apenas a parte de banco de retalho. Confirma este «repatriamento» de uma parte importante do negócio da Sucursal? Sim. Portugal recuperou um negócio que não era um negócio da Sucursal de França, era atividade de Booking, que é uma atividade em que os clientes não são da Sucursal, na maior parte dos casos, eram grupos portugueses, alguns grupos de outras geografias, e que foram integrados nessas geografias. E havia, na atividade de Booking, alguns clientes do mercado francês, e nesse caso, fomos nós que ficamos com esse negócio. São clientes que não eram da Sucursal, a Sucursal exercia única e exclusivamente uma função operacional, cobrindo o risco da operação, mas sem qualquer relação com o cliente, era uma atividade grossista, digamos assim, uma atividade de grandes operações, não tinha nada a ver com a Sucursal, uma atividade que afetava um número extremamente reduzido de pessoas e na maior parte dos casos dessas pessoas, nem sequer era em regime de exclusividade. A operação não passava pela agências? Não. De todo. Estamos a falar de uma atividade grossista, de banca corporativa, que não tem nada a ver com a banca de retalho. Se essa parte que saiu era rentável, a Sucursal vai continuar a ser rentável? Essa não era a parte rentável da Sucursal? Esta atividade, de grandes operações, representava uma parte do nosso balanço com algum significado. Estamos a falar de um pouco menos de metade da nossa atividade em termos de balanço, um pouco menos também de resultados globais. Há cerca de 8 anos, pelo menos, há uma contabilidade analítica, com contas perfeitamente separadas de uma atividade e da outra, dentro do banco. Portugal recuperou quase toda esta operação porque de facto o negócio não era nosso, nós só éramos uma atividade operacional. Quando eu dizia que a Sucursal tem uma rentabilidade perfeitamente em linha, e por vezes melhor, do que a média do setor, refiro-me apenas à atividade de retalho que é diretamente comparável com o setor em França, não me estava a referir à atividade corporativa. Relativamente ao retalho, a nossa unidade é perfeitamente rentável, temos atingido todos os objetivos nesse ponto de vista. Porque a outra parte, nós não sabíamos se o negócio ia aumentar ou se ia diminuir porque não éramos nós que tínhamos a relação com os clientes. A nossa única obrigação era fazer um bom acompanhamento da operação do ponto de vista operacional, ter uma boa tecnologia e ter, do ponto de vista do registo das operações, um bom sistema humano e tecnológico para responder a este registo. Na atividade de retalho, somos nós que nos relacionamos diretamente com os clientes, somos nós que identificamos qual é a melhor oferta para as necessidades dos nossos clientes e aí temos uma atividade comercial intensa, temos uma atividade de desenho de produto adequada às necessidades dos nossos clientes e temos uma atividade corrente também de registo das operações. Isto significa que nós mantemos a nossa atividade, continuamos a ter a nossa rentabilidade, em janeiro, em fevereiro, em março, como tínhamos pelo passado, de forma analítica, nesta área da nossa atividade. Desde janeiro deste ano que a nossa atividade principal é em exclusivo na atividade de retalho e é claramente rentável, nós temos apresentado todos os meses uma rentabilidade positiva. Tem previsões para o fim da greve? Qual é o seu objetivo em termos de timing? O meu objetivo era que não tivesse havido greve, e tendo havido, que tivesse acabado ontem. Agora, como em qualquer negociação, depende sempre de todas as partes, claro. Como lhe referi, quando há partes que preferem excluir, é mais difícil encontrar soluções. É necessário ser-se construtivo para chegarmos a resultados concretos. Para percebermos melhor a situação: há quatro Sindicatos na Caixa em França. Qual o peso de cada um? Não sei quantos afiliados tem cada Sindicato, porque não temos, claro, a lista das pessoas que se inscrevem. Mas em termos de eleições, os dois Sindicatos que apelaram à greve têm, em termos percentuais, um pouco mais do que os que não apelaram à greve. São poucas vozes de diferença. A diferença é pouco significativa. Por parte da Caixa, temos vontade – e não é só falar, é com coisas concretas – de dialogar, de negociar, de criar consensos por forma a que termine a greve, no interesse dos nossos clientes. É essa a nossa preocupação. A nossa preocupação são sempre os nossos clientes. Eles são a razão de ser do nosso trabalho em França e esses são de facto determinantes para a nossa atividade em França. A sua postura durante esta crise tem sido então a de falar de igual forma para os quatro Sindicatos? Isso é aquilo que corresponde à lei. As negociações são sempre abertas àqueles que se apresentam em nome dos trabalhadores do banco e é inequivocamente a vontade também da Caixa Geral de Depósitos de negociar com todos. Quando impediu os trabalhadores grevistas de entrar nas instalações do banco, tinha de passar por essa forma de agir? Porque tomou essa decisão? A lei é clara nessa matéria. Os sindicalistas podem sempre entrar na empresa, quer os representantes sindicais, quer os representantes do pessoal. Aquilo que fizemos, foi porque houve excessos inequívocos por parte dos grevistas. Quem faz greve não pode por em causa o bom funcionamento do trabalho de quem vai trabalhar, ou seja, o respeito pelo direito à greve é inequívoco, o direito ao trabalho é inequívoco e o respeito de uns pelos outros é inequívoco, e foi isso que fizemos, ou seja, quando houve abuso, marcámos claramente a posição do ponto de vista de que não é razoável que quem esteja em greve, ponha em causa o respeito pelo direito ao trabalho, pelo normal funcionamento do banco. Esta matéria foi clarificada, foram explicadas as regras e a partir daí tudo voltou a funcionar normalmente e não voltou a haver problemas. A Deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, veio a Paris propositadamente por causa desta greve dos trabalhadores da Caixa. Ela pediu encontro consigo? De que falaram? Não houve nenhum pedido que me tivesse chegado para falar com a Direção. [pro_ad_display_adzone id=”906″]