Nathalie de Oliveira no XXII Congresso do PS

Nathalie de Oliveira, Maire-Adjointe de Metz e Secretária-Coordenadora da Secção do Partido Socialista português de Metz, participou no XXII Congresso nacional do PS que decorreu na Batalha, nos dias 25, 26 e 27 de maio.

Transcrevemos aqui o discurso que a autarca franco-portuguesa acabou por não ter oportunidade de fazer:

 

«Caro Presidente do Partido, Carlos César,

Caro Secretário Geral, António Costa,

Cara Ana Catarina Mendes,

Caras e caros Camaradas,

É uma honra!

É uma honra estar aqui na Batalha convosco, militantes do PS português. É uma honra ser portuguesa, ser francesa, ser europeia. É uma honra ser membro inerente da Comissão nacional. Antes de tudo, é uma honra ser Socialista! Em 1385, vencemos uma batalha importante para Portugal, a de Aljubarrota, já em nome da liberdade e da vontade de um povo, muito antes daquela madrugada histórica que mexeu com o nosso destino e mudou-nos a sorte. É com uma emoção sincera, junto deste Mosteiro pertencendo ao património mundial da humanidade que vos dirijo as seguintes palavras:

«Só vence as batalhas, quem está nas batalhas» (1). É só verdade dizer que os Socialistas ao longo da História estiveram em inúmeras batalhas, entre muitas das quais impossíveis. Lutámos, sem cansar, para progressos incontestáveis no devido respeito de cada vida humana. Na procura de justiça, na procura de liberdade, de igualdade e de fraternidade para o nosso povo como para todos os povos, nós Socialistas portugueses (cá dentro como lá fora), quer no Governo quer na Oposição nunca desistimos de estar do lado do povo, no também devido respeito do exílio de Mário Soares, de Tito de Morais, de Manuel Alegre e do seu grito universal dirigido ao mundo «em cada rosto igualdade!»

Uma destas belíssimas batalhas impossíveis foi vencida por um dos maiores humanistas que Portugal viu nascer, António Arnaut, que nos deixou infelizmente há pouco, quando criou o SNS «que foi uma teimosia dele, ao respeito pela palavra dada, ao sentido do dever» (2) e que continua a curar e proteger as vidas dos mais humildes, nunca esquecendo quem morreu na sua aldeia por não ter dinheiro para chamar um médico!

A «Gerigonça» fez muito bem ao nosso país. Sempre disse não às facas da austeridade. Neste momento, o PS português é uma exceção nas democracias europeias, onde se assiste a uma crise geral dos Partidos socialistas e social-democratas. Não só lidera um Governo estável, que diminuiu o défice e cuja ação conseguiu combinar crescimento económico, políticas públicas de inclusão e igualdade e envolvimento ativo no projeto de construção europeia, mas também aprofundou a democracia portuguesa, ao permitir pela primeira vez a influência direta na governação dos Partidos da esquerda radical (PCP, BE e PEV) e dos grupos sociais que estes representam.

É uma honra, em nome dos Socialistas portugueses de França, apoiar a Moção de Orientação Estratégica «Geração 20/30» que coloca a médio e longo prazo os maiores desafios que o país deve enfrentar: as alterações climáticas, a demografia, a sociedade digital e as desigualdades.

«É-se tanto português quanto mais universal!» (3) Os Portugueses pela Europa inteira e pelo Mundo somos tal e qual assim como Pessoa nos definiu. Temos ainda batalhas importantes à nossa frente e precisamos da vossa paixão militante para concretizá-las:

– Respeitar plenamente o Artigo 14 da nossa Constituição: «Os cidadãos portugueses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da proteção do Estado para o exercício dos direitos e estão sujeitos aos deveres que não sejam incompatíveis com a ausência do país».

– Potenciar o exercício da cidadania e a da representatividade das Comunidades. Neste sentido, apoiamos a Moção setorial «Implementação de um sistema de votação através da Internet». Sem dúvida, o recenseamento e voto eletrónicos são ferramentas ao exercício de uma cidadania plena e inteira para os Portugueses do estrangeiro, sem contradição com o mandamento constitucional. A discriminação óbvia do artigo 6 do Código eleitoral vai permanecer na Constituição até o final do século XXI?

Como vós, somos filhos da madrugada, os do XXI século, militantes de um PS ao qual Jean Jaurès destinou, no PSF e nos outros partidos irmãos sermos: «um partido de espírito livre, sempre atento aos movimentos da realidade», este PS que levou o XXI Governo de Portugal a plantar novamente cravos robustos para Portugal e para as Comunidades, no cumprimento do próprio destino europeu.

Aliás, qual outro ideal maior do que uma Europa próspera, inteligente, criativa, inovadora, solidária? Esta Europa que nos faz tanto falta, mais social, mais reguladora contra a finança enlouquecida, uma Europa das grandes políticas de investimento público? Uma Europa acolhedora aos humanos que procuram os seus braços, atenta às suas esperanças mais do que aos GAFAM (4) e às toneladas de mercancia da China! A nossa Europa é bela quando digna dos valores que sempre defendeu, quando respeita os princípios que a tornaram um continente de paz e um modelo de proteção social de referência, um lugar de emancipação verdadeiro! Será que desistimos desta batalha? Não, esta batalha exige de nós um trabalho de criação de solidariedades concretas, novas, para ver nascer um sentimento de destino comum, entre os povos europeus. É sonhar demais do que propor novos direitos para os povos europeus: um ordenado mínimo comum, um sistema de proteção social de igual acesso e qualidade? Impensável um Cartão de cidadão europeu com menção «França» ou «Portugal» ou ambas?

Camaradas, vamos à Batalha! «Todos juntos, Todos somos necessários para ganhar o desafio da Europa porque não há sequer sombra de uma dúvida, Somos Europeus!» (5) Os Portugueses da Europa tanto, tanto, tanto!

Viva o PS!

Viva as Comunidades de Portugal!»

 

 

Notas:

(1) Saint Just

(2) António Arnaut

(3) Fernando Pessoa

(4) Google, Apple, Facebook, Amazone, Microsoft.

(5) Mário Soares

 

 

LusoJornal