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DJ francês fez compilação sobre a música de São Tomé e Príncipe

A editora suíça Bongo Joe Records vai lançar no dia 31 uma compilação dedicada à música de São Tomé e Príncipe de 1970 e 80, criada por um DJ francês, Thomas Bignon, que se deixou “encantar” pelo som que encontrou naquele país.

“Uma mistura de semba, merengue, kompas, soukous e coladeira, com linhas de baixo sólidas, melodias delicadas e harmonias das tradições são tomenses”, descreve a editora, sobre a música que aparece na compilação, onde são dados a conhecer nomes como África Negra, Conjunto Mindelo, Tiny das Neves ou Pedro Lima, cujos originais são considerados raridades, que chegam a ser vendidos a preços acima dos 200 euros.

A compilação, intitulada “Léve-Léve”, explora a música de São Tomé e Príncipe, “única” na forma como incorpora influências externas da África continental mas também da América do Sul e do Caribe.

De acordo com o texto de apresentação do disco duplo, esta é a primeira compilação de sempre dedicada à música daquele arquipélago, relevando “uma história de libertação, onde música de África, Europa e Américas une-se num espírito despreocupado”, onde a música é uma espécie de amálgama de diferentes influências, ouvindo-se “ecos do semba e merengue angolano, do afoxê brasileiro ou da coladeira cabo verdiana”.

A compilação é da autoria de Thomas Bignon, DJ francês de 47 anos, que primeiro despertou para a música brasileira e há cerca de dez anos começou a entrar em contacto com a música de países africanos de língua portuguesa.

“A música de São Tomé é apenas maravilhosa. Eu sou DJ e quando toco ao vivo descobre-se que a música é muito forte. Senti que tinha que fazer algo sobre esta música e ainda ninguém tinha feito nada”, disse à agência Lusa, Thomas Bignon, que falava ao telefone de São Tomé.

Se a música de Cabo Verde ou de Angola acabaram por ser alvo de uma maior atenção recente, a partir de compilações e reedições de editoras estrangeiras nos últimos anos, Thomas Bignon decidiu que o som de São Tomé também deveria ter o mesmo tratamento.

Durante cinco anos, andou a comprar tudo o que encontrava de música de São Tomé e Príncipe, em lojas em Lisboa e na internet, e acabou a convencer a editora suíça Bongo Joe a abraçar o projeto.

Depois de decidir mais ou menos o alinhamento da compilação, Thomas Bignon rumou até São Tomé e Príncipe para entrar em contacto com os artistas e entrevistá-los (o disco é acompanhado por um livro de 32 páginas), não conseguindo encontrar apenas um dos músicos – Tiny das Neves -, mesmo com “a ajuda do ministro da Cultura de São Tomé”, conta.

Para a compilação, Thomas Bignon decidiu fazer uma seleção só do género local “puxa”, semelhante ao samba-socopé, mas que implica mais fusão, contando sempre com uma bateria, um baixo, duas guitarras e percussão, explicou.

“O que dá sabor a este som dos anos 70 e 80 é os instrumentos analógicos, as melodias bonitas, os ritmos e as vozes de apoio”, sempre numa mistura de influências musicais, referiu, notando que neste país encontra mais fusão do que em Angola ou até Cabo Verde, talvez por ser uma ilha que estava inabitada antes do comércio de escravos e que acaba por ser uma peça central na rota entre a África ocidental e as Américas.

A história de São Tomé e Príncipe acaba por estar espelhada nas 32 páginas do livro que acompanha o disco, fazendo referências à escravatura e à produção de chocolate, ao mesmo tempo que conta a história da música que ia sendo criada naquele arquipélago, desde Os Untués, um dos primeiros grupos a ter sucesso fora, passando pelos seus “rivais” Conjunto Mindelo nos anos 70, ou pelos África Negra, que são um dos exemplos das influências dos discos da África Central que chegavam ao arquipélago nos anos 80.

“Independentemente da classe ou idade, as bandas eram responsáveis por manter a população entretida no fim de semana, com as matinés de domingo a serem o destaque, com música sem parar do meio-dia até à meia-noite”, refere a editora, no texto de apresentação da compilação.

Após esta compilação, o DJ francês, Thomas Bignon, diz que o seu trabalho em torno da promoção da música de São Tomé e Príncipe vai continuar, estando em vista novos projetos.

 

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LusoJornal