Eça de Queirós – “Piques & Banderilles”: farpas capazes de atravessar séculos

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A Éditions Chandeigne continua a sua saga editorial queirosiana e acaba de lançar em França mais um livro marcante: “Piques & Banderilles” (tradução de Michèle Giudecelli), uma compilação dos textos mais relevantes que Eça de Queirós, em colaboração com Ramalho Ortigão, publicou na revista satírica “As Farpas”.

“As Farpas” – não há aluno de liceu português que não tenha lido pelo menos um excerto – foi uma publicação mensal lançada em 1871 pelos dois escritores, mas para a qual Eça de Queirós apenas contribuiu até setembro-outubro de 1872, momento em que partiu para Cuba como Cônsul. “As Farpas” continuaram por vários anos ainda, embora tendo apenas Ramalho Ortigão ao leme. Mais tarde, em 1890, Eça de Queirós publicaria os seus textos em livro com o título “Uma Campanha Alegre”.

O que é então “As Farpas”, essa obra que, ainda hoje, em Portugal, vende tão bem (em 2004, foram vendidos 11 mil exemplares em 15 dias) e que pertinência tem ela em 2021?

A 17 de junho de 1871 Lisboa foi invadida por uns opúsculos com uma centena de páginas ostentando uma capa alaranjada com o nome dos autores e o título gravados a grandes letras e aos quais se juntava um subtítulo: “Crónica Mensal da Política, das Letras e dos Costumes”. Os 2 mil exemplares da primeira tiragem esgotaram-se em poucos dias. A forma caricatural como Queirós e Ortigão desenharam os atavismos mais odiosos da sociedade portuguesa de então – fruto da “revolução” Regeneradora de 1851 que pôs fim a meio século de guerras e instabilidade – não deixou ninguém indiferente. Os ataques contra um mundo político atolado nos interesses e nos amiguismos, a delação de uma igreja navegando águas medievais, a crítica mordaz da literatura ultrarromântica sentimentalista e pegajosa (algo tão atual!), a condenação de uma burguesia corrupta e hipócrita (e que tão bem explica as convulsões que marcaram a História do início do século XX)… Tudo isso associado à denúncia da miséria em que vivia a maioria da população.

Ora, a pertinência desta obra é garantida pelo facto de, 150 depois, muitos dos costumes arcaicos e arreigadamente conservadores que os autores denunciaram a partir de 1871 serem ainda existentes e tão percetíveis na sociedade portuguesa (e francesa!) dos nossos dias. Uma prosa de primeira água que, ainda hoje, é capaz de nos arrancar umas boas gargalhadas.

 

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LusoJornal