Home Comunidade Emigrantes de Boticas temem cortar laços com a sua terra caso Mina do Barroso avanceLusojornal·16 Agosto, 2020Comunidade A população de Covas do Barroso, em Boticas, está preocupada com a exploração de lítio prevista para aquela zona e os emigrantes temem mesmo não poder voltar mais à sua terra caso o projeto seja concretizado. “Todos os anos venho a Portugal para a casa dos meus pais, que é a última de Covas do Barroso e tem vista direta para os montes que querem destruir. Estamos todos preocupados com isto”, explica à Lusa Jorge de Aquino, que desde os cinco anos vive em França. O emigrante falava antes da partida para a caminhada intitulada ‘Não à Mina, sim à Vida’, organizada ontem de manhã no concelho de Boticas, no distrito de Vila Real, pela Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, contra a destruição da floresta e a falta de regulamentação na indústria mineira. Jorge de Aquino realça ainda que apesar dos seus filhos já não falarem bem português, gostam de viajar para Portugal e teme não poder voltar caso o projeto da Mina do Barroso, da empresa Savannah, avance tão próximo da sua casa. Também natural de Covas do Barroso e a viver fora, Elisabete Fernandes e a sua família não querem perder as raízes, mas temem ter de cortar a ligação à sua terra caso a exploração mineira se concretize. “Não nos passa pela cabeça ter cá esta realidade. O que nos puxa para cá é o que tem de bom, a natureza, o rio, as montanhas, tudo o que nos faz sentir bem”, destaca. Profissional de saúde de profissão e a viver em Braga, todos os fins de semana que tem disponíveis passa-os com a sua família em Covas do Barroso. De resto, durante os tempos de confinamento as suas filhas radicaram-se mesmo no concelho de Boticas, que até hoje ainda não registou qualquer caso positivo do novo coronavírus. Para Elisabete Fernandes, a caminhada em pleno mês de agosto permite “chamar a atenção a quem está fora e nem sempre tem a informação sobre o que se está a passar”. Pelas 09h30 já mais de 60 pessoas estavam prontas em Cova do Barroso para arrancar para a caminhada com cerca de 10 quilómetros, ida e volta, envergando ‘t-shirts’ com as palavras ‘sim à vida não à mina’. A caminho do local onde foram realizadas prospeções, à passagem da aldeia de Romainho, também próxima do local previsto para a mina, cerca de 40 pessoas juntaram-se também à caminhada com destino ao Vale do Cabrão. O presidente Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso destaca à Lusa durante a caminhada que esta é mais uma forma das pessoas “perceberem o que se está a passar”, principalmente a quem está fora na maior parte do ano. “Muitos não têm grande conhecimento do que se está a passar”, aponta. Nélson Gomes alerta que “uma mina a céu aberto tão próxima das casas não é solução”. A empresa Savannah anunciou em junho que submeteu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e o Plano de Lavra para o projeto de exploração de lítio na Mina do Barroso. Mas o responsável da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso diz não ter “grandes expectativas” sobre o estudo. “Já sabemos que vai sair aprovado, o estudo não vai trazer nada de novo e é como um fato feito à medida do dono. Seja como for não vai eliminar a proximidade da aldeia ou o impacto na água”, atira, garantindo lutar até ao fim para evitar a exploração mineira naquela região. A caminhada teve a participação de outras associações com a mesma motivação, contra explorações em outros pontos do país, como a Associação Montalegre com Vida. Também na chegada a uma das plataformas de prospeção, que teve um reforço alimentar oferecido pela Junta de Freguesia de Covas do Barroso, marcou presença o Presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, que manifestou o apoio à população. “Acima de tudo temos que defender o interesse das nossas populações, é uma convicção minha”, garante, explicando que o objetivo de vender o território como turismo de natureza e a classificação de Património Agrícola Mundial que Boticas partilha com Montalegre não é compatível com a exploração. “É bom que as pessoas tenham noção da dimensão da destruição que vai ser feita. Nós temos razões do nosso lado, com os dados que temos nesta altura temos razões mais que suficientes e estou convicto que mais razões vamos ter depois do estudo de impacto ambiental ser conhecido”, sublinha. Fernando Queiroga mostrou também preocupação para com a Comunidade emigrante que pode deixar de regressar à sua terra caso a exploração mineira se concretize, o que terá “peso na economia” do concelho. A Mina do Barroso é um projeto da Savannah Lithium Lda., empresa subsidiária da Savannah Resources Plc., uma sociedade cotada na bolsa de valores de Londres AIM (London Stock Exchange) focada na prospeção e desenvolvimento de ativos mineiros em vários países do mundo. [pro_ad_display_adzone id=”37510″]