Carina Branco

Emigrantes Lesados do BES voltaram a manifestar-se em Paris

Cerca de meia centena de emigrantes lesados do ex-Banco Espírito Santo (BES) voltaram a manifestar-se, hoje, junto à Embaixada de Portugal, em Paris, com cartazes a anunciar que «nunca desistirão de 100% das poupanças de uma vida».

A manifestação foi organizada pelo grupo Emigrantes Lesados Unidos para denunciar a falta de proposta comercial para os clientes que subscreveram os produtos financeiros EG Premium e EuroAforro 10 e para reclamar ao Fundo de Resolução 31,7% do capital investido, depois de um acordo com o Novo Banco, assinado em 2017, que lhes vai dar acesso a 75% do dinheiro nos próximos anos.

«Os emigrantes lesados nunca vão desistir. Queremos 100% das nossas economias. E mesmo assim é pouco porque já não estamos a falar dos nossos juros e dos danos morais», afirmou à Lusa Carlos Costa dos Santos, Coordenador dos Emigrantes Lesados Unidos.

Apesar de as pessoas estarem «fartas e desiludidas» e de a mobilização ser menor, Carlos Costa dos Santos disse que vai continuar a haver manifestações e denunciou que os emigrantes «não podem mexer nas contas», mas que foram notificados pelos advogados para pagarem uma ‘success fee’ pelo acordo assinado no ano passado, ainda que só possam aceder ao dinheiro «dentro de cinco anos».

«Estamos novamente na rua para recuperar o nosso dinheiro. Temos uma proposta a 75%, temos de esperar cinco anos. Agora, todos estão a pedir dinheiro, advogados, associações (…) mas as pessoas não têm dinheiro. Ninguém pode mexer nessa conta a prazo. Isto é complicado», afirmou.

Com bandeiras portuguesas e vários cartazes onde se lia «Banco de Portugal incompetente, perigoso e ladrão das nossas vidas», os Portugueses gritaram: «Gatunos», «Pays de voleurs» e «Queremos o nosso dinheiro».

«Completamente desiludido», mas longe de baixar os braços e de faltar a uma manifestação, José Afonso Fernandes, de 65 anos, também se mostrou «triste e desesperado» por ter «os advogados a pedir mais dinheiro, quando o dinheiro está preso no banco» e disse que também não desistiu de lutar por reaver o que tinha no produto EG Premium, que lhe foi apresentado como uma conta a prazo. «Estou aqui para reclamar a totalidade do nosso dinheiro. No EG Premium tinha mais de 200 mil euros. Agora começamos a ter problemas com os advogados que nos estão a pedir já 1% do depósito a prazo, mas não podemos tocar na conta», afirmou o português que está em França desde 1970.

Também António Marrão, de 66 anos, tem participado em todas as manifestações dos emigrantes lesados do BES e está à espera de uma solução para os 200 mil euros que tinha nos produtos EG Premium e EuroAforro 10.

Por outro lado, o emigrante assinou, em 2015, a primeira proposta comercial do banco e foi notificado pelas Finanças portuguesas para pagar uma mais-valia sobre as obrigações inicialmente com vencimento em 2049 e 2051 e que foram trocadas por capital e colocadas num depósito a prazo, mas ainda não pode tocar nesse depósito. «Eu não tenho acesso a esse dinheiro, mas vou ter de pagar. Estou farto, mas vou continuar a vir às manifestações», afirmou o Português que vive há 50 anos em França.

Maria Augusta Alves, de 49 anos, também tinha as suas poupanças no EG Premium, que lhe foi apresentado como um depósito a prazo, e declarou à Lusa que vai continuar a ir a manifestações dos lesados do BES. «A gente sente-se traída. Tenho um desgosto muito grande e já não gosto de Portugal. Quis uma vida melhor para os meus filhos, é corajoso sair de lá aos 18 anos para parar de andar atrás de um rebanho de cabras. Trabalhei muito e agora o meu dinheiro ficou lá todo numa conta que disseram que era a prazo. Enganaram-nos», afirmou a Portuguesa de Boticas.

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