Encontro literário com autores lusófonos de Paris

Decorreu, no passado sábado 14 de dezembro, um encontro literário com autores lusófonos de Paris, organizado pela jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil. O evento realizou-se no âmbito das atividades do Institut Franco-Brésilien Alter-Brasilis, na Maison Internationale de la Jeunesse et des Étudiants, um belo edifício do século XVII, situado no bairro do Marais.

Animado por Mazé Torquato Chotil, o encontro reuniu 8 autores lusófonos residentes em Paris que apresentaram as suas últimas publicações (poesia, romance, história, conto):

 

“Devagar, nas asas do vento / Partir sur les ailes du vent”, de António Barbosa Topa (Oxalá Editora, 2019, edição bilingue). No contexto da imigração portuguesa em França, António Barbosa Topa é um dos poetas que melhor traduz a vivência entre duas margens, entre duas memórias, assumindo aspetos paradigmáticos significativos. António Barbosa Topa nasceu em 1948, no Porto. Em 1965, estudante no Instituto Comercial do Porto, começou a tomar consciência da situação de opressão e obscurantismo que o regime fascista português impunha. Em julho de 1969 saiu clandestinamente de Portugal, para não participar na guerra colonial. Mais tarde, e já em França, foi animador sociocultural e responsável do setor de apoio ao movimento associativo português na Delegação de Paris da Secretaria de Estado da Emigração. Em “Devagar, nas asas do vento”, o poeta persiste em sua aventura de percorrer palavras, para chegar além da palavra: “A palavra é minha enxada, é meu pão e é meu canto” (Não podendo estar presente neste encontro, o autor foi representado pelo seu tradutor, Dominique Stoenesco).

 

“Contos de Charles Perrault” (Paulinas Editora, 2016), reúne 11 contos do escritor francês Charles Perrault, traduzidos para o português por Eliana Bueno-Ribeiro, doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Paris-Sorbonne Nouvelle. Lecionou Literatura Comparada e Literatura Brasileira em diversas universidades, no Brasil e na Europa. Organizados por Claude Aziza, estes 11 contos são ilustrados pelo pintor e desenhista Gustave Doré, tais como na obra original e podem ser lidos como pequenos “romances” de aprendizagem, acompanhados de notas e comentários que constituem um precioso guia de leitura.

 

“A história do Brasil nas ruas de Paris” (Editora Leya, 2014), de Mauricio Torres Assumpção, narra as histórias vividas por grandes personagens brasileiros (de D. Pedro I a Oscar Niemeyer, passando por D. Pedro II, Santos Dumont, os positivistas, Villa-Lobos e Lúcio Costa) através das ruas de Paris. Refazendo a trajetória desses personagens, o livro apresenta os fatos que os levaram à capital francesa, o que realizaram na cidade, com quem se relacionaram e que impacto tiveram. Maurício Torres Assumpção é carioca, nascido em 1966. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense, trabalhou na Rede Globo e na TV Manchete. Em 1991, transferiu-se para a Europa, fazendo mestrado em cinema e televisão, e durante 14 anos dirigiu documentários e reportagens para a televisão britânica. Vive em Paris desde 2008.

 

“Diários intermitentes” (Ed. Companhia das Letras, 2019), de Celso Furtado, com organização e notas de Rosa Freire d’Aguiar. Celso Furtado (1920-2004), economista, autor principalmente de “Formação econômica do Brasil”, foi Ministro, exilou-se durante a ditadura e foi professor de economia na Sorbonne.

 

“Diários intermitentes” é uma edição integral, ilustrada por fotos, documentos e outros registos inéditos dos diários do acervo de Celso Furtado, entre 1937 e 2002 (impressões de viagens, participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, combates políticos no Nordeste, diálogos com intelectuais e políticos). Rosa Freire d’Aguiar, nascida no Rio de Janeiro, é viúva de Celso Furtado. Nos anos 70 e 80 foi correspondente em Paris das revistas Manchete e IstoÉ. Traduziu para o português vários autores franceses e, entre muitos prêmios, recebeu o Jabuti (2009) pela tradução de “A elegância do ouriço”, de Muriel Brabery.

 

“Villa Kyrial: Crônica da belle époque paulistana” (Ed. Senac, 2000) e “É chique morar em Paris?” (Folhas de Relva Edições, 2019, bilingue português-francês), de Marcia Camargos, radicada em Paris desde 2016, nascida em Belo Horizonte. Passou a maior parte de sua vida em São Paulo. É doutora em História Social pela Universidade de São Paulo onde desenvolveu uma tese que resultaria no livro “Villa Kyrial: crônica da belle époque paulistana”, uma importante contribuição para a história cultural de São Paulo que recupera a Villa Kyrial e seu animador, José de Freitas Valle. Através de “É chique morar em Paris”, numa escrita bem-humorada e num estilo de crônica de viagem, a autora tenta desmistificar o glamour associado à cidade luz. Marcia Camargos é especialista da obra de Monteiro Lobato e do modernismo brasileiro

 

“O Canto da Moreia” (Editora Coolbooks, 2019), de Luísa Semedo, conta a história de Eugénio, um jovem órfão cabo-verdiano que, após uma viagem atribulada de barco, chega a Lisboa, confiante num futuro promissor. Organizado segundo uma estrutura original, inspirado em alguns aspetos autobiográficos, o livro tem como pano de fundo a história da integração e desenraizamento das populações imigradas das ex-colônias, abordando temas como a solidão, o racismo, a violência doméstica e as dependências. Nascida em Lisboa, no bairro da Serafina, Luísa Semedo vive em França há vinte anos. É doutorada em Filosofia pela Universidade de Paris-Sorbonne, leciona na Universidade de Clermont-Auvergne e é Presidente do Conselho Regional Europa do CCP. Em 2017, venceu o Prémio Literário e de Ilustração Eça de Queiroz, com o conto “Céu de Carvão, Mar de Aço”.

 

“Voos e sonhos na mata” (Ed. Passarinho, 2015) é o primeiro livro de Rômulo Marques Ribeiro, natural de Belo Horizonte, onde estudou contrabaixo. Também frequentou o Conservatório Darius Milhaud, em Paris. Em 2006, lançou o CD “fly a kite”, com composições originais. Neste livro, ilustrado por Renato Zechetto, são os bichos que falam. “Com linguagem poética, descrições minuciosas e humor delicado, Rômulo Marques Ribeiro prende a gente pelo bico dos pássaros, num voo mágico por uma apaixonante e misteriosa floresta”, diz-nos Stella Maris Rezende na contracapa.

 

“Na rota de traficantes de obras de arte” (Ed. Penalux, 2019) e “Maria d’Apparecida – Une Maria pas comme les autres” (Association des Amis de Maria d’Apparecida, 2019), de Mazé Torquato Chotil, nascida em Glória de Dourados (Mato Grosso do Sul), residente em Paris desde 1985, autora de uma tese defendida na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), intitulada “Trabalhadores exilados: a saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)” e de vários livros com carácter autobiográfico. “Na rota de traficantes de obras de arte” o enredo cruza jornalismo e suspense policial, levando o leitor pelo mundo das artes e passando pelo Paraguai, Brasil e França. Na trama os objetos culturais de alto valor são utilizados por criminosos para lavar dinheiro derivado do tráfico. “Maria d’Apparecida” é uma biografia, traduzida em francês por Bernard Chotil, que retrata a vida da cantora Maria d’Apparecida (1935, Rio de Janeiro – 2017, Paris), que foi a primeira cantora negra do Brasil a cantar Carmen na Ópera de Paris. Esta biografia de Maria d’Apparecida foca temas como o exílio, a libertação das mulheres, a luta pela emancipação racial, a solidão da velhice e a fragilidade da glória.

 

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LusoJornal