Tarsila do Amaral, “Caipirinha” (1923), Huile sur toile (64x81x3cm). Collection particulière © Photo Ding MusaExposição da pintora brasileira Tarsila do Amaral anunciada para o Musée du Luxembourg, em Paris_LusoJornal·Cultura·7 Julho, 2024 Uma grande exposição sobre a pintora brasileira Tarsila do Amaral, intitulada «Pintando o Brasil moderno» vai estar patente ao público de 9 de outubro a 2 de fevereiro de 2025, no Musée du Luxembourg, em Paris, organizada pelo GrandPalaisRmn e pelo Museu Guggenheim Bilbao. Figura central do modernismo brasileiro, Tarsila do Amaral (1886-1973) é uma das artistas mais conhecidas e amadas do Brasil. Foi, desde a década de 1920, criadora de uma obra original e evocativa, inspirada tanto no imaginário tradicional e indígena como nas instâncias modernizadoras de um país em plena transformação. Evoluindo entre São Paulo e Paris, Tarsila do Amaral é uma mediadora incontornável entre as vanguardas destas duas capitais culturais. Depois de ter forjado em Paris um universo iconográfico “brasileiro”, capaz de resistir às pressões do cubismo e do primitivismo em voga na capital francesa, a sua pintura está na origem do movimento “antropofágico”, surgido em São Paulo em 1928. Referindo-se à prática indígena do canibalismo como “devoração do outro” com o objetivo de assimilar as suas qualidades, descreve, metaforicamente, o modo de apropriação e de reelaboração construtiva, por parte dos brasileiros e das culturas estrangeiras e colonizadoras. Como se lê no dossier de apresentação da exposição, no cruzamento de várias culturas, cujas identidades se definem em relação umas às outras, e sem escapar ao paradoxo de representar um Brasil popular e “autêntico”, mas interpretado através do seu olhar de mulher branca, aristocrata, erudita e cosmopolita, a obra de Tarsila do Amaral suscita também questões sociais, identitárias e raciais e convida-nos a repensar as clivagens entre tradição e vanguarda, centros e periferias, culturas sérias e populares. Embora Tarsila do Amaral tenha sido amplamente reconhecida e exposta no seu país de origem, ainda são raras as exposições que lhe foram dedicadas no estrangeiro. Esta primeira retrospetiva em França (com cerca de 150 obras reunidas) pretende preencher esta lacuna, num momento em que o Brasil ocupa um lugar cada vez mais importante nos discursos críticos e historiográficos sobre a arte “globalizada” e em que as mulheres artistas começam a reencontrar o seu lugar nas narrativas da história da arte. Percorrendo a sua prolífera produção da década de 1920, associada ao movimento “Pau Brasil” (1924-1925) e ao da “Antropofagia” (1928-1929), em que paisagens de cores vivas e linhas claras alternam com visões oníricas, misteriosas e fascinantes, esta retrospetiva é também uma oportunidade para apresentar aspetos menos conhecidos ou mesmo novos da carreira da artista. Apesar de a sua dimensão política e militante ser percetível nas obras da década de 1930, marcadas por um realismo de forte vocação social, o gigantismo onírico da década de 1940, a geometria quase abstrata de certas composições tardias, bem como a forma como a artista revisita, até à década de 1960, a sua produção anterior, só confirmam o poder de uma obra ancorada na cultura do seu tempo, sempre original e pronta a renovar-se. .