LusoJornal / Mário Cantarinha Home Cultura Exposição de fotografias de Dominique Stoenesco foi inaugurada no Consulado de ParisCarlos Pereira·18 Fevereiro, 2018Cultura Está atualmente patente ao público, no Consulado Geral de Portugal em Paris, uma exposição de fotografias de Dominique Stoenesco intitulada “O vale do rio Douro, nos passos de Miguel Torga ‘Um reino maravilhoso”. Filho de mãe francesa e de pai romeno, Dominique Stoenesco nasceu em 1944 em Besançon mas acompanhou cedo os pais que se fixaram no Brasil. Foi em português que fez grande parte da escolaridade e quando regressou a França, com 17 anos, continuou a estudar português. “Descobri Portugal num carro 2CV quando tinha apenas 20 anos de idade” diz ao LusoJornal. Entretanto foi durante muitos anos professor de português no ensino público em França e atualmente dedica-se principalmente à tradução literária, sendo ainda colaborador regular do LusoJornal. A exposição é constituída por cerca de cinquenta fotografias, mostra alguns aspetos do vale do rio Douro (paisagens, vinhedos, emigração, festas e tradições) entre Miranda do Douro e o Porto, evocados no livro “Portugal”, de Miguel Torga, traduzido em francês por Claire Cayron. Para realizar esta exposição, Dominique Stoenesco deixou o carro em Miranda do Douro e fez um périplo de 7 dias de bicicleta, sempre à beira do rio Douro, até ao Porto. “Eu que gosto de andar de bicicleta, acho que nem em 14 dias faria este percurso” comenta o Cônsul Geral de Portugal em Paris, António de Albuquerque Moniz. “De bicicleta podemos passar por caminhos onde não podemos passar de carro, encontramos pessoas, podemos falar com quem vive nestas terras e podemos admirar melhor as paisagens” explica Dominique Stoenesco. “Por vezes há subidas muito íngremes, temos de parar muitas vezes para descansar e para beber… água, claro, porque o vinho que se faz nesta região é só para beber ao jantar…” ri Dominique Stoenesco quando fez uma breve apresentação da viagem que o levou a realizar esta exposição. Projetou uma série de fotografias que não estão na exposição, mas que mostram os sitios por onde passou na viagem solitária que realizou. Quando chegou ao Porto, apanhou o comboio e regressou ao nordeste transmontano para recuperar o carro que tinha deixado em Miranda do Douro. A exposição dedica também um espaço importante aos azulejos da estação de comboio do Pinhão que evocam tão bem a terra, a labuta do homem e a beleza das paisagens, criando assim um diálogo harmonioso entre viagem, literatura e imagem. “Para esta exposição, voltei lá uma segunda vez porque tinha de ter o material adequado para as fotografias, como por exemplo um tripé” conta ao LusoJornal. “Não é fácil fotografar estes azulejos porque temos de ter a mesma luminosidade em todo o painel, temos de evitar os reflexos,… por isso preferi voltar ao Pinhão só para tirar estas fotografias calmamente”. Todos os painéis têm várias fotografias e estão ilustrados com textos de Miguel Torga. “Durante o meu percurso, levei comigo o livro ‘Portugal’ de Miguel Torga e de vez em quando lia uma passagem, tentando ‘colar’ o texto que lia com o sítio onde estava” explica ao LusoJornal. Os textos selecionados para a exposição são bilingues, em português e em francês. No livro “Portugal” (1950), Miguel Torga convida-nos a uma viagem através do seu “reino maravilhoso”, passando principalmente pelo vale do rio Douro. Ao evocar a sua província natal, Trás-os-Montes – porque Miguel Torga, embora tivesse vivido em Coimbra, nasceu em Sabrosa -, de onde muitas famílias emigraram, o autor diz: “Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura, aos vinte anos (se não tiver sido antes), depois da militança, alguns emigram para as Arábias de além-mar. Brasis, Áfricas e Oceanías. Metem toda a quimera numa saca de retalhos, e lá vão eles”. Pelo seu carácter cultural e turístico, e igualmente pedagógico, esta exposição dirige-se a um público bastante largo: associações, estabelecimentos escolares, bibliotecas, centros culturais, etc. Dominique Stoenesco gostava que esta exposição circulasse por outros postos consulares, pelas associações e escolas. “Temos já uma reserva para um grupo de alunos de Pontault-Combault que vem visitar a exposição ao Consulado” anunciou o Cônsul Geral António Moniz. A exposição “O vale do rio Douro, nos passos de Miguel Torga” conta desde já com o apoio da ADEPBA (Associação para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros, da África e da Ásia lusófonas). No final da inauguração, Dominique Stoenesco tem projetos idênticos, de descoberta do vale do Tejo e do vale do Guadiana, sempre com base em textos de escritores portugueses. Consulado Geral de Portugal em Paris 6 rue Georges Berger 75017 Paris