Fábio Lopez: Diretor da “Compagnie Illicite Bayonne” é português

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Fábio Lopez é o Diretor artístico e coreógrafo residente da «Compagnie Illicite Bayonne», que ele fundou em 2015.

 

Antes de mais, talvez seja conveniente perceber porque é que o seu nome se escreve com um Z, e não com um S. Tem origens espanholas?

O meu nome escreve-se com S (Lopes). Eu nasci em Lisboa, e os meus pais são lisboetas. Mas quando vim para o estrangeiro, com 17 anos, cada vez que dizia o meu nome, escreviam-no sempre com Z. Eu tinha programas de espetáculos, quando dançava com o Maurice Béjart, e escreviam o meu nome sempre com Z. Então, para guardar a mesma identidade, decidi deixar ficar o Z no meu nome.

 

O nome da Companhia de Bailado da qual é Diretor artístico e coreógrafo residente é Commpagnie Illicite Bayonne. Porquê «ilícita»?

Essa é uma boa pergunta. Na realidade, em 2015, quando procurámos um nome para esta Companhia, achei que sonhar é uma coisa perigosa, quase ilícita, neste momento. E foi por isso. Mas dois anos depois, em 2017, a cidade de Bayonne pediu para entrarmos para a plataforma, e então ficou como Ilicite Bayonne.

 

A atual crise sanitária mundial obrigou-vos a parar e cancelar espetáculos?

A Companhia tem tido atividade. Nós acabámos de fazer um novo programa que se chama “Girls”. Convidei três coreógrafas para partilhar comigo, e uma delas é a Martha Graham. Mas os teatros estão fechados e os espetáculos não têm acontecido, evidentemente, o que é uma lástima! A Companhia nunca parou, desde junho. Nós temos tido ensaios, aulas, workshops, mas têm de ser controlados e a maior parte deles foram em Espanha, no País Basco. Mas é um grande risco para nós, por causa da Covid. Nós somos testados semanalmente. Há, no entanto, vários projetos, mas que não podem ser efetuados neste momento.

 

A crítica francesa afirma que o seu trabalho e o seu rigor fazem de si uma grande esperança da dança néo-clássica francesa. Como reage a isto?

Isso para mim, é ótimo! Fico bastante sensibilizado com essas palavras da critica, sobretudo porque sei que a critica francesa é muito severa! (risos). Infelizmente, nunca fiz nada em Portugal, mas ainda pode ser que isso venha a acontecer…

 

Porque escolheu vir trabalhar para o estrangeiro?

Eu acho muito importante que um artista não fique pegado ao que ele sabe fazer e gosto de encontrar pessoas que me lancem desafios, que me façam pensar doutra forma. Acho que isso é muito importante na vida. É claro que foi uma escolha um bocado difícil. Aconteceu quando a Fundação Calouste Gulbenkian – uma das companhias mais conhecidas a nível europeu – acabou com o Ballet. Mas eu nesse dia tomei a decisão de não voltar. Se não fazemos aqui, vamos embora!

 

Qual a diferença entre dança contemporânea e dança néo-clássica?

A dança néo-clássica é baseada na linguagem do ballet clássico, ou seja o “Lago dos Cisnes”, o “Quebra nozes”, a “Bela Adormecida”… O néo-clássico é a evolução disso, quer dizer: tem a linguagem do ballet clássico, mas com um estilo que vem duma linguagem existente, e que eu tento fazer continuar a evoluir. A contemporânea, é muito mais livre e vai mais no sentido de abandonar a estética clássica. Eu considero-me mais um coreógrafo académico do que um coreógrafo de dança moderna.

 

Foi difícil impor-se no estrangeiro, onde o nível de exigência é tão elevado?

Foi. Mas tive a sorte de trabalhar no Centro Nacional de Biarritz, com Thierry Malandain, um dos maiores coreógrafos franceses, que me apoiou bastante. Ele ensinou-me muito e apresentou-me a outras pessoas que foram muito importantes para a minha carreira.

 

O Fábio levou a palco “Inês”, uma adaptação da tragédia de Inês de Castro. Isso mostra um pouco da História de Portugal, da sua cultura ao público francês, não é?

“Inês”, por enquanto, ainda é apenas um dueto. Foi a minha primeira coreografia, aquela com a qual ganhei um prémio e a razão de eu ser hoje Diretor artístico. É uma história que estimula muito a imaginação. A história é um pouco macabra, mas é fascinante, e eu acho muito bom reivindicar um pouco certas raízes, históricas ou culturais.

 

Fábio Lopez e a Compagnie Illicite têm espetáculos agendados, mas cancelados, desde o início de 2021 até setembro, e esperam a decisão do Governo francês para as Artes.

 

 

 

Fábio Lopez

1986: Fábio Lopes nasce, em Lisboa.

2004: Conclui os estudos na Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional (Portugal).

2004: “Summer Intensive” da Juilliard School, em Nova Iorque, e fim de formação na Escola-Atelier Rudra Béjart, na Suíça.

2006: Ingressa no Malandain Ballet Biarritz, onde interpretou personagens importantes nos bailados “Romeu e Julieta” e “Cinderela”.

2010: Obtém o “Diplôme d’État” de Professor de Dança Clássica. Tem organizado seminários e estágios em Israel, Alemanha, Estados Unidos, Porto Rico, Espanha, Itália e França.

Durante a sua brilhante carreira trabalhou com personalidades como Victor Ullate, Cyril Atanassoff, Maina Gielgud, Violette Verdy, Frank Andersen, Dinna Bjorn, Azari Plissetski, Andrey Klemm, Sylvianne Bayard, Nils Christe, Georges Garcia, Michel Gascard, Lienz Chang, Eva Lopez Crevillon, Urtzi Aramburu, Céline Talon, Thierry Malandain e Maurice Béjart.

2012: Ganha o 3º Prémio coreográfico ADAMI/Synodales, sob a Direção de Jackie Burvingt, com o duo “Inês”.

2017: Coreógrafo convidado, do Conservatório Nacional Superior de Música e de Dança de Paris.

2017-2018: Foi premiado pela Caisse des Dépôts et Consignations, que lhe concede uma bolsa e lhe permite desenvolver o seu trabalho coreográfico.

2018-2020: Artista associado da “Plateforme Chorégraphique de Bayonne” “Oldeak” em França, em conjunto com a sua Companhia de Dança Illicite Bayonne.

 

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LusoJornal